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Ex-chefe de afiliada da Globo nega acusação de assédio: 'Nunca aconteceu'

O jornalista Edison Castro - Arquivo Pessoal
O jornalista Edison Castro Imagem: Arquivo Pessoal

Débora Miranda

Do UOL, em São Paulo

25/07/2020 16h51

Demitida da Rede Amazônica, afiliada da TV Globo em Roraima, a jornalista Ellen Ferreira foi a público dizer que estava sendo vítima de perseguição. Segundo ela, a dispensa teria sido motivada por denúncias que fez envolvendo um ex-chefe de jornalismo do canal, Edison Castro, acusando-o de assédio moral e sexual.

"Eu tenho 30 anos de profissão, sempre pautados por muita retidão, por muita ética. Então, para mim, está sendo muito complicado ter que vivenciar esse linchamento público", afirmou Castro ao UOL. Ele nega que tenha assediado Ellen, tanto moral quanto sexualmente.

O que é assédio moral? É cobrar para ser equilibrado, para fazer jornalismo ponderado? Isso não é assédio moral. Eu, todo o tempo, elogiava os jornais. Quando não iam bem, eu criticava, mas coisas normais de uma redação. Assédio sexual nunca! Eu não entro nisso. Eu tenho meninas de lá que me adoram e sabem do respeito que eu sempre tive. Com a Ellen eu mal conversava. Cumprimentava 'bom dia', 'boa tarde', mas era uma pessoa difícil.

Outras três jornalistas que trabalharam com Castro em afiliadas da Globo e da Record denunciaram assédio moral hoje na Coluna Leo Dias, no Metrópoles. Como Ellen, elas relataram episódios de gordofobia e humilhação, inclusive na presença de outros colegas.

Ellen chegou a apresentar o "Jornal Nacional" em outubro passado, durante o rodízio feito com jornalistas de todo o país, em comemoração dos 50 anos do telejornal. E, ao ser dispensada, não se convenceu com a justificativa da emissora de reformulação da equipe.

"Óbvio que o que aconteceu foi perseguição. Eu estava havia uns três meses, com outros funcionários, levando para o Sindicato dos Jornalistas do estado e para o Ministério Público do Trabalho situações graves de assédio sexual e moral que enfrentamos lá dentro. Situações vexatórias, de racismo, homofobia, gordofobia. Ele é um psicopata", afirmou a jornalista.

O MPT confirmou ao UOL que "há inquérito em curso a fim de averiguar suposta ocorrência de assédio moral e sexual".

De acordo com Castro, que deixou a emissora há cerca de um mês, Ellen teria sido demitida por seu "comportamento extremamente agressivo". Ele ainda argumenta, dizendo que não é racista, homofóbico nem gordofóbico.

"Vou te falar uma coisa que desmonta completamente [essa teoria]: o meu chefe de pauta, que eu tive no Tocantins, é um rapaz negro, é o meu melhor amigo. E homossexuais, não vou falar quem são, todos foram promovidos na minha gestão. Eu convivo com isso há muitos anos e sou muito bem resolvido. Quem me conhece sabe como eu sou, sempre querendo o bem, sempre sendo divertido com as pessoas. Quando alguém estava precisando de grana, eu emprestava do meu bolso. Emprestava não, eu dava do meu bolso. Eu dava! Ela fala também que eu forçava as pessoas a tomar remédio tarja preta para emagrecer. Que maluquice!"

Ainda de acordo com Castro, seu papel na Rede Amazônica, era fazer um "raio-x da redação". "É uma redação extremamente complicada, com interesses políticos, interesses pessoais. Eu fui para lá fazer um raio-x e identifiquei pelo menos meia dúzia de pessoas, entre elas a Ellen, que não tinham mais condições de ficar. Eram pessoas tóxicas, venenosas, que inventavam coisas. Desafio ela e qualquer pessoa a falar de assédio sexual ou moral, de provar qualquer coisa, porque não é o meu perfil isso."

Ellen Ferreira - Instagram - Instagram
A apresentadora Ellen Ferreira
Imagem: Instagram
Ellen conta que se sentiu oprimida e humilhada pelo ex-chefe diversas vezes e que precisou buscar tratamentos contra ansiedade e depressão pela convivência com ele. Afirma, ainda, que chegou a procurar o próprio Ali Kamel, diretor geral de jornalismo da TV Globo, para denunciar o caso.

A TV Globo confirmou que Kamel recebeu as mensagens enviadas pela jornalista e disse que as denúncias foram enviadas ao setor de afiliadas para que fossem transmitidas à Rede Amazônica. Afiliadas são canais que, por contrato, retransmitem a programação da TV Globo em outras regiões do país que não sejam São Paulo, Rio, Minas, Brasília e Nordeste, que pertencem de fato à emissora. Têm, portanto, outros donos.

Procurada desde quinta-feira pela reportagem, a Rede Amazônica não se pronunciou até o encerramento desta reportagem. Tanto diretores quanto o departamento jurídico do canal foram contatados por telefone, e-mail e WhatsApp, mas não comentaram o caso.

Castro também enviou ao UOL a seguinte nota oficial:

"Para fins de esclarecimento a respeito da criminosa campanha difamatória desencadeada por Ellen Ferreira é necessário fazer algumas considerações. Tenho mais de 30 anos de história no jornalismo e tive o dissabor de acompanhar o emblemático caso 'Escola Base', onde inocentes tiveram a vida dilacerada pela cobertura precipitada e parcial de um jornalismo de emboscada e sensacionalista que, aliás, nunca pratiquei.

Os meus mais de 30 anos de jornalismo se pautam na honestidade, retidão de caráter e principalmente ética. Testemunhos de colegas a respeito de minha honestidade não faltam e têm sido de extrema importância, pois me confortam nesse verdadeiro linchamento a que estou sendo submetido. Tivessem os sites e portais de notícias que replicam matéria produzida de forma unilateral algum senso ético e de que estão sujeitos a reparar os danos, teriam tido a preocupação de respeitar a primeira regra do jornalismo: escutar o outro lado. Mas não! Na competição da atenção do público transformam em entretenimento o linchamento moral, como algo divertido a ser consumido.

Há quem viva disso e são aqueles tipos que não se surpreendem diante de 'Oficiais de Justiça' e 'Citações Judiciais', que o público sabe muito bem identificar.

Quando fui indicado pela Rede Globo, em agosto do ano passado, para trabalhar na sua afiliada Rede Amazônica Roraima, recebi a missão de identificar e corrigir problemas. Quanto a Ellen Ferreira, seu comportamento era notório em toda a redação. Não fui o único colega a sofrer suas ameaças e a ida à bancada do 'Jornal Nacional', no ano passado, potencializou sua arrogância e agressividade, que culminaram, recentemente, em sua demissão.

Buscarei a reparação civil e responsabilidade criminal na medida da culpabilidade de cada um dos responsáveis e meios de comunicação que estão promovendo esta verdadeira execução pública do meu caráter. Tenho plena convicção de que a verdade vai prevalecer, a mesma que me convence de que esta nota de esclarecimento não receberá de sites irresponsáveis a mesma atenção que recebeu a matéria a meu respeito. Lamentavelmente!".