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Sonhos e filantropia: quem era a princesa de rodeio morta com doença rara

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

12/11/2020 18h36

Estudante de medicina veterinária, a princesa do Jaguariúna Rodeio Festival 2019, Maria Eduarda Pinto Catão, de 21 anos, morreu enquanto vivia o sonho de ser popular na cidade do interior de São Paulo, lamenta a família. Ela faleceu em 9 de novembro, apenas 12 dias após receber o diagnóstico para hemofagocítica, uma doença autoimune, que atacou primeiro o fígado e depois se espalhou para outros órgãos.

Maria Eduarda mantinha uma conta no Instagram com mais de 17 mil seguidores. Depois de sua morte, o número saltou para 18,1 mil. Ela vivia o sonho de ser digital influencer na região e referência na área de body piercing. Com apenas de 21 anos, montou um estúdio e tirava o sustento dos próprios serviços no espaço, em Jaguariúna.

"O sonho dela desde criança era ser popular. Sempre quis isso. Participou de concursos de beleza, o de maior repercussão foi o do rodeio. Era uma body piercer de sucesso na cidade e acabou se tornando muito conhecida. Ela morreu vivendo os sonhos e acredito que estava no auge em sua vida", comentou a prima, Juliana Dal' Bó, de 33 anos.

A organização do rodeio de Jaguariúna publicou uma mensagem nas redes sociais lamentando a morte de Maria Eduarda. "Você faz parte da nossa história, nossa eterna Princesa. O seu brilho e encanto estará para sempre entre nós! Aos amigos e familiares, desejamos muita luz e conforto", dizia a publicação.

"O rodeio nosso aqui é muito forte na região e é um concurso de beleza muito conhecido. A mãe dela participou da segunda edição e ela cresceu vendo a foto da mãe disputando. Como a Maria Eduarda chegou a ser modelo agenciada, acabou sendo motivada a participar, alinhando à vontade de ser popular. Ela não queria ser famosa, mas andar ser popular de andar na rua e ser reconhecida por todo mundo", disse a prima.

Da internação à morte, somente 20 dias

O drama que resultou na morte da princesa durou dias. Ela deu entrada em 20 de outubro no Hospital de Jaguariúna, com fortes dores de garganta e demais sintomas gripais. O quadro da jovem não evoluiu e ela precisou ser transferida para o Hospital Universitário da Unicamp no dia 24 do mesmo mês. O diagnóstico para hemofagocítica saiu somente quatro dias depois. A doença é considerada rara, atacando o sistema imunológico e resultando em infecções.

"A gente veio descobrir de maneira muito tardia. Foi uma doença avassaladora. Ela deu entrada com dor na garganta e surgiram algumas feridas na boca. Nada fazia passar a infecção e a levada para a Unicamp. Primeiro suspeitaram de lúpus, depois de hepatite até que descobriram essa doença que dá no sangue", relatou a prima.

Segundo a família, a doença atacou primeiramente o fígado. No período que ficou internada na Unicamp, ela entrou na fila para transplante e quase recebeu um novo órgão. O doador, contudo, não era compatível com o tipo sanguíneo da jovem.

Além de não ser compatível, a doença já havia se espalhado para demais órgãos do corpo. A princesa teve piora em 7 de novembro e no dia seguinte, a família ficou apreensiva sobre o risco de morte.

"No fim já estava meio que generalizado. O médico chamou a família no domingo [8] e disse que era somente 'caso de milagre' e que teria poucas horas de vida. Por volta das 10h segunda-feira, chamaram para conversar e informaram o falecimento", lamenta a prima.

Com sucesso no estúdio, princesa queria filantropia veterinária

Ao passar a infância no sítio, Maria Eduarda tomou o gosto por animais. Amante de gatos, ela criava sete e mais dois cachorros. A princesa dizia que, após se formar em medicina veterinária, não iria cobrar por serviços de quem não poderia pagar pelos atendimentos.

"Ela cresceu tanto no body piercing que chegou a falar para mim que a veterinária seria algo secundário. Não precisava tanto de dinheiro da profissão, mas que atenderia animais de maneira beneficente. Tinha bem claro na cabeça que não seria por falta de dinheiro do dono do animal que deixaria de atender", frisa a prima.

Com a filantropia em vista, a doença interrompeu o sonho de se graduar em medicina veterinária a pouco mais de um ano da conclusão. Ansiosa para pegar o diploma, já tinha quitado os boletos dos pagamentos da festa de formatura e escolhido o vestido.

"Ela quitou a formatura não faz nem dois meses. Era o próximo sonho a ser realizado. Já tinha até desenhado o vestido para mandar fazer. Concluir a faculdade era a maior vontade do momento."

Com a perda repentina, a família busca agora reunir forças para lidar com a ausência da jovem, considerada alegre e alto astral.

"A família está péssima. Estou falando com você e me segurando para não chorar. A mãe está muito abalada, já teve de ser socorrida, a nossa avó apenas chora. Somos muito unidos e a perda é muito sentida", conclui Juliana Dal' Bó.