Daniel Ávila, o Dudu de 'A Viagem', recorda bullying na infância: 'Sofri'
Daniel Ávila ganhou fama ainda na infância como o Dudu de "A Viagem", da TV Globo, que voltou a ser assunto graças à reprise no canal Viva.
Depois do sucesso na trama espírita, em que foi filho de Antonio Fagundes, o ator emplacou mais alguns papéis em novelas como "O Profeta" e "Floribella", antes de se voltar ao circuito independente. Hoje, aos 36 anos, ele se diz disponível para voltar à TV.
Mas em entrevista à Quem, Ávila deixou claro que as consequências da carreira como ator mirim motivaram seu afastamento da televisão, contando ter sofrido bullying de outras crianças por seu trabalho.
Eu tinha toda uma vivência diferente das crianças da minha idade. Convivia com adultos no meu trabalho, viajava muito... Além disso, eu era dois anos mais novo que os meus amigos, tinha cabelo grande, era meio daquele jeito sem sexo saliente, muito criança e espontâneo. Era bullying direto. Sofri demais e alguns bullyings até mais sérios de tomar porrada de um grupo, puxarem meu cabelo, me chamarem de viado. Isso mexeu até um pouco com a minha espontaneidade, fiquei até mais gordinho por causa disso e tiveram períodos da minha vida em que me escondia mais e não queria fazer sucesso para as pessoas não implicarem comigo
Elogios ao elenco
Apesar das questões na escola, Daniel mostrou que tem carinho por seus tempos de "A Viagem", fazendo questão de homenagear os falecidos colegas de elenco Gésio Amadeu, Claudio Cavalcanti e Eduardo Galvão.
Jamais vou me despedir dos meus amigos atores. Quem é artista de verdade, sempre será artista. Se existem outras vidas você vai ser ator em todas as vidas. Para mim somos uma família, uma tribo. Quando faço esses posts estou chamando a tribo. Estou vendo que agora com A Viagem, as pessoas andam saudosistas. Elas falam das novelas de antes, sobre o Rio de Janeiro de antes, sobre os artistas de antes... As pessoas estão com muita saudade, quase chorando. Tenho isso comigo. Vi muita gente que foi embora, muita gente boa que a gente tem conheceu ainda, gente que desistiu porque não conseguiu se sustentar com isso e eram os melhores atores que eu conhecia. Muita gente que não era para estar aí, está. Eu gosto de relembrar os atores que me formaram, que estão vivos em mim. Honro esses artistas parceiros que tiveram o amor de chegar até mim e me ensinar alguma coisa. Às vezes, quando estava sem trabalho e sem entende muito isso por ser criança, eles vinham e me elogiavam. Por isso, coloco eles vivos. Não vão morrer nunca.
Ávila comentou ainda que gostava do clima de gravações da novela espírita, especialmente por conseguir conciliar melhor sua vida como profissional e sua rotina de criança.
"Tive muita sorte. Já tinha feito novelas que eram bem mais complicadas, como 'A História de Ana Raio e Zé Trovão', na Manchete. Eu tinha que viajar e ficar mais de um mês fora e sem escola. Então, tinha professora particular, fazia prova via Correios... Era bem complicado", detalhou.
"Já em 'A Viagem', parece que o Fagundes tinha um contrato com a Globo que ele não podia gravar quinta, sexta, sábado e domingo por conta do teatro. Então, a maioria das gravações da casa do Jordão eram nesses dias e a minha escola era respeitada também. Não foi tão complexo. Lógico que eu trabalhava bastante, mas não foi uma das novelas mais complexas que eu fiz em termos de ter dificuldade em conciliar as gravações com os estudo, de estar toda hora viajando, não dormir, trabalhar de madrugada e essas coisas".
Falando em Fagundes, que interpretou seu pai na obra de 1994, o ator não poupa elogio ao veterano.
Sempre foi um cara muito tranquilo e na dele, mas com um olhar carinhoso. Lembro do Fagundes na espera das gravações lendo textos e livros. Ele lia o tempo todo. Contava que lia 40 páginas em uma hora. Eu achava aquilo incrível e me tornei um cara que li e leio muito. Era bacana! Ele trocava como muita generosidade, tinha um amor pelos filhos do personagem dele... Aprendi muito. Ele não decorava o texto. Ele lia antes de entrar em cena e era muito bom no improviso. Depois mais velho, acabei fazendo isso em um personagem também por causa dele.
Espiritualidade
"A Viagem" também fez com que Daniel se envolvesse com a espiritualidade abordada na trama. Ele revela que era fascinado pelo personagem de Guilherme Fontes, o Alexandre, apesar da temática pesada em suas cenas.
Nunca fui uma criança medrosa. Sempre fui muito curioso. Eu achava irado o Alexandre. Em relação a essa comunicação com o plano espiritual, ouvi relatos de cair não sei o que no chão nos bastidores e de que na casa de um dos artistas as gavetas se abriram... Teve gente que foi fazer reza lá, outras tentaram se comunicar. Eu nunca tive medo. Se aparecesse um espírito para mim tudo bem, ia bater um papo
Acho maravilhoso uma novela espírita que traz essas questões. É muito bacana uma novela que fala não só do invisível, mas dos nossos sentimentos. Na época, eu não entendia muito, mas sentia um amor muito grande por esse diálogo. Depois fui pesquisar um pouco mais o que era o espiritismo e entendi que tem muito disso de você se doar espiritualmente e materialmente, ser generoso. Eu sentia muito isso. Sentia essa energia de amor. Mas não tive experiências espirituais fantásticas. Para mim foi mais experiência de encontro e tentar entender o céu, o inferno, a vida aqui, as pessoas que se foram, o bem e o mal.
Carreira independente
Depois de atuar em "A Viagem", Daniel fez outras tramas da Globo, como "Malhação", "Corpo Dourado" (1998) e "Agora É que São Elas" (2003). Ele também atuou em "Floribella" (Band) e "Rei Davi" (Record).
Formado em Cinema, ele fez mestrado em Cuba, mas encontrou a essência como ator com a mentoria do diretor teatral e teatrólogo Amir Haddad, de 83 anos.
Eu era muito novo e estava querendo aprender e ouvir de verdade o que esses artistas, que tinham acabado de sair do teatro, tinham para passar. Eu conheci artistas que levaram o Brasil nas costas, que criaram a nossa dramaturgia e me deram conselhos, levaram isso como função, responsabilidade social. Não pensavam só em matérias, aplausos e glamour. Depois disso, teve uma mudança. Virou aquela moda de ator de TV, fortinho, com a cara bonita... A gente vive um presente superficial, ignorante, distraído da nossa brasilidade e das pessoas que fizeram a nossa vida. Se a gente não reconhece a real natureza do ofício, a gente vira galã, concentrado em si e sem saber o motivo real do ofício
Sobre a TV, ele assume ter entrado em crise.
Fiquei um pouco cansado. A minha cabeça não estava crescendo, eu já não estava entendendo o que estava fazendo... Entrei em uma crise grande e fui querer entender o que estava acontecendo. Comecei a buscar o que era a função real do ator e encontre o Amir e fui entender que a arte começou na rua. Fazer arte pública foi uma escolha do meu coração. A arte pública me trouxe de volta aos meus ancestrais. Me apresentar em praça pública, ocupando a minha cidade e o mundo, trocando diretamente com o meu semelhante, é uma troca maravilhosa que me fez entrar em contato com a essência do ator contador de histórias. Não tem essa de artista de rua, de TV, de cinema... Só existe um artista. No grupo de teatro, a gente que constrói cenários, faz figurinos, dirige, faz as câmeras quando necessário, edita...
Apesar de estar fora dos holofotes, ele conta que trabalha muito como ator e não está em uma corrida por oportunidades.
Trabalho desde os seis anos de idade. Estou com 36 anos. São trinta anos como ator! Não parei de trabalhar em nenhum momento. Tenho três filmes ainda para serem lançados, tenho o grupo de teatro, ensaios, apresentações, faço muitas dublagens, produzo... Também dou aulas sobre o ofício. Aonde tiver bons personagens estarei disponível como ator, seja na TV, cinema, teatro, na arte pública. Não escolhi ir para um lugar e não ir para outros, escolho ser artista
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