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Dançarino do AM relata morte de noiva que contraiu covid-19: 'Lutou muito'

O dançarino Raony Ferreira da Silva ao lado da cantora Roci - Reprodução/Facebook
O dançarino Raony Ferreira da Silva ao lado da cantora Roci Imagem: Reprodução/Facebook

Colaboração para o UOL, em São Paulo

03/02/2021 21h41

Rocineide Mendonça de Oliveira, de 39 anos, conhecida por ser a cantora, do Boi Bumbá Garantido, morreu no dia 9 de janeiro após ter sido diagnosticada com a covid-19. Na época, Roci havia passado por um parto prematuro do seu primeiro filho e não resistiu à sequência de eventos.

Em relato à Revista Crescer, o dançarino e coreógrafo Raony Ferreira da Silva, 28 anos, relatou a experiência de perder a noiva e, ao mesmo tempo, trazer ao mundo Max foi o primeiro filho do casal. O bebê precisou ficar internado em uma UTI do Amazonas após o nascimento durante o colapso do sistema de saúde do estado.

"Nós já tínhamos conversado sobre ter filho há um tempo. A Roci queria muito ter filhos e eu também. Quando ela fez o teste de gravidez e me contou que estava grávida, fiquei muito feliz! Não sabia o que falar no momento. Sentei na cama e comecei a beijar a barriga dela emocionado. A partir daquele momento, sabia que teríamos uma grande família", escreveu o artista.

De acordo com Raony, a gestação teria sido tranquila e a noiva "teve sintomas normais de grávidas". O dançarino afirma que não se sabe qual foi o momento que Roci foi infectada pela covid-19 e que no início da pandemia o casal estava isolado em Boa Vista dos Ramos, no Amazonas e que foram mais tarde para Manaus, "tomando os cuidados".

"Só que na gravidez, a Roci tinha mania de não usar máscara, porque se sentia mal. Eu sempre brigava com ela, por isso. Quando percebemos uma queda nos casos de covid, demos uma relaxada e essa relaxada complicou tudo", contou.

Às vésperas do natal, Raony percebeu que a noiva estava com tosse e que não chegou a participar das festividades de natal na casa da irmã. "Ficou no quarto com a nossa cachorra Mel, que tem medo de fogos. Depois viemos para casa e no dia 25, ela começou a sentir a tosse mais forte. Neste dia, Roci tinha gravação no estúdio, queria muito que ela não fosse, mas, infelizmente, ela foi e voltou muito mal."

Dias depois, Roci apresentou muita febre, mas o resultado do teste para a covid-19 havia dado negativo.

"Voltamos para a casa, a febre passou e à noite ela piorou novamente. Muita febre, dor de garganta e fomos para o pronto-socorro no outro dia. Ela fez mais um teste e deu negativo. Foi então que ela foi medicada e liberada para voltar para casa, mas não melhorou. Fizemos um teste particular e deu positivo. Nesse momento, ela ficou com o psicológico abalado. Tentei acalmá-la de todas as maneiras possíveis", relembra.

O casal retornou ao hospital no dia 30 de dezembro e a cantora foi medicada e retornou para a casa. No dia seguinte pela manhã, a bolsa estourou e eles retornaram à maternidade. Roci chegou a fazer um novo teste de covid-19, que deu negativo.

"A Roci foi para a sala pré parto, estava com apenas três centímetros de dilatação e sofreu muito com as contrações. Naquele momento, não sabia o que fazer. Eu me senti um inútil. Ela continuava tossindo muito e como o exame tinha dado negativo, achávamos que era uma gripe normal. No dia 31, ela ainda estava sentindo as contrações mais fortes e à tarde os médicos decidiram fazer a cesárea. Ela estava sem forças para ter parto normal."

Max nasceu de 33 semanas pesando 2 kg e 270 gramas. Dias depois, a mãe da criança fez novamente um teste de covid-19, que deu resultado positivo para a doença. "Disseram que ela estava com covid e teria que ser transferida para o leito das grávidas com covid. Ela ficou muito debilitada com a notícia. Eu fiquei destruído. Depois, vimos que eu também estava com dor de garganta e calafrios, já tinha pegado a covid dela. Ela me pediu para ir para casa e descansar, mas eu não queria deixá-la. Logo depois, ela foi para a sala de UTI e aí começou o sufoco, ficávamos sem notícias."

A comunicação entre os noivos se deu por cartas e áudios e Roany conta que, no dia da morte da noiva, ele teria sido a última pessoa a ser informado devido ao isolamento para a sua recuperação da doença. "Ela lutou muito, escreveu uma carta e mandou um áudio para mim, doeu muito!", relembrou.

"Foi um choque, fiquei sem ação. O que dói não é a dor da partida, mas a saudade. No dia do enterro, não pude acompanhar para não transmitir o vírus para as pessoas. Enquanto eu estava no hospital também, ela não viu o Max pessoalmente, só por foto. Depois que eu fiquei isolado, foi muito difícil receber notícias dela."

Roany ainda comentou que quando houve a falta de oxigênio em Manaus, Max já estava fora da UTI e que aos poucos foi ganhando peso, o que culminou em sua alta no dia 23 de janeiro. "Foi um grande alívio", finalizou o dançarino.

Em janeiro, diversos artistas se mobilizaram para enviar cilindros de oxigênio para o estado do Amazonas durante o colapso do sistema de saúde. Gusttavo Lima chegou a compartilhar o envio de 150 cilindros e o humorista Whindersson Nunes enviou 60 ventiladores pulmonares para a capital.

Atualmente, a doença segue com aceleração da doença calculada em 62%, segundo consórcio de veículos da imprensa. O número de mortes por causa da covid-19 no Amazonas nos primeiros 30 dias de janeiro já supera o total de óbitos da doença contabilizados nos últimos sete meses de 2020.