Conhecido por polêmicas, João Gordo diz: 'Hoje sou completamente careta'
Entre os anos 1990 e 2000, João Gordo marcou uma geração como o apresentador desbocado da antiga MTV Brasil. Hoje em dia, ele mistura o gosto pela vida de entrevistador e pela culinária em um canal do YouTube chamado Panelaço, no qual entrevista celebridades, políticos e convida chefs para apresentarem receitas veganas.
Em entrevista à Quem, o vocalista da banda de punk Ratos de Porão revelou que sua vida vem se transformando nos últimos anos. Com a pandemia, o início de uma depressão foi detectado.
Eu entrei em uma certa depressão por estar muito tempo parado. Vou ao psicólogo e psiquiatra que me receitam umas coisas para dar uma segurada. Praticamente minha vida é lavar louça e catar bosta de cachorro. Cuido dos filhos também. Fico meio angustiado porque queria voltar a tocar, mas comecei a fazer uns projetos musicais com um monte de gente e esses projetos que me confortam
Com a ausência de shows, João Gordo acabou participando de outros projetos musicais, como a banda de death metal LockDown, ao lado de Antonio Araújo, da Korzus e Matanza Ritual, e dos músicos Rafael Yamada e Bruno Santin.
Cada um colaborou de um canto. O Antonio de Recife, o Rafael de Las Vegas e o Bruno do Piracicaba. A tecnologia nos proporcionou isso. A gente trocava as bases pelo Whatsapp e eu gravava aqui de casa em São Paulo. Foi a primeira vez que trabalhei assim e a banda ficou muito boa
Além disso, ele se uniu ao Asteroides Trio para lançar um vinil com versões em rockabilly de clássicos e também criou o supergrupo Revolta, que tem como objetivo fazer músicas de protesto ao governo, necropolítica, entre outros temas e conta com a parceira de Igor Cavalera e Moyses Kolesne. "Caiu no colo da metalhada (metaleiros) reaça", conta.
Marmita vegana
Pai de Victoria, de 16 anos, e Pietro, de 15 anos, ele é casado desde 2004 com Vivi Torrico, com quem desenvolveu o projeto Solidariedade Vegan em meio ao confinamento.
O intuito é entregar marmitas veganas para moradores de rua de São Paulo.
A gente teve que fechar o restaurante [Central Panelaço] para o público por causa da pandemia e ela decidiu fritar algumas coxinhas de jaca e levar para o povo da rua que estava no Bixiga. Juntou um monte de gente que com a pandemia ficou sem lugar para descolar água e comida. Ela se emocionou porque não tinha comida para todos e chegou em casa chorando. Chamei os filhos e decidimos fazer as marmitas. A Vivi idealizou tudo. No começo, a gente fazia 76 marmitas por dia e hoje a média é de 200
O apresentador revela que Vivi é a responsável por manter tudo organizado, já que ele faz parte do grupo de risco.
Como eu sou do grupo de risco da Covid, ela fica à frente do projeto e eu fico na retaguarda cuidando dos filhos. Sou doente, tenho DPOC (grupo de doenças pulmonares), se pego Covid, embarco... Quase embarquei em 2019 com uma pneumonia. Então, eu vou em algumas entregas de marmitas, mas é a Vivi que todo dia está lá. Sai às 7 da manhã de casa e só volta às 20h. Ela tem um coração muito grande. Quando era adolescente, levou um morador de rua para casa, deu banho e comida.
Mantido por vaquinhas online, o projeto ajuda também aldeias indígenas e outros grupos em situação de risco.
João Gordo é vegetariano há 17 anos e acabou se tornando vegano naturalmente. "O meu veganismo é contra exploração animal. É uma puta sacanagem explorar a vaca em nível industrial para produção de leite e etc", analisa.
Ele, que já chegou a pesar 210 quilos, conta que sente os reflexos da dieta em sua saúde, mesmo não sendo essa sua maior intenção.
Tem gente que fala: 'Como pode ter gordo vegano?'. Pessoal não entende que um prato de arroz, feijão e salada sustenta. Eu tenho diabetes e em 2019 fiquei internado por causa de uma pneumonia. Mas mesmo assim, por eu ser vegano, minha pressão estava todo dia 12 por 8 e meu colesterol lá embaixo. Só de pensar que quando eu era obeso comia bacon e feijoada! Esse colesterol baixo seria impossível.
'Hoje sou completamente careta'
Quem se lembra das polêmicas de João Gordo não o imaginaria levando uma vida tão serena, nem ele mesmo.
Em 2003, ele se viu envolvido em uma polêmica com Dado Dolabella, entrevistado do "Gordo a Go-Go", na qual ele e o ator trocaram insultos e chegaram a quebrar o cenário do programa.
Além disso, a época foi marcada pelo uso de drogas e muita bebida. Ele chegou a falar em entrevista ao "Conversa com Bial", em 2017, que chegou a ter uma overdose.
Naquela época eu era outra pessoa, um suicida que ligou o foda-se e que quase conseguiu o intento de se matar duas vezes. Mas a Vivi mudou totalmente a minha vida. Tem gente ainda que me cobra atitude de adolescente aos 50 e poucos anos. Se um roqueiro vive eternamente essa vida louca, vai morrer desse jeito. Eu gosto de droga. Se droga fosse ruim ninguém usava, mas não dava mais para mim. Hoje sou completamente careta
A conta está chegando... Usei muito pó e ácido com bebida e agora estou sentindo os efeitos. A saúde está zoada
João Gordo chegou a ter pneumonia, derrame pleural e disritmia no coração nos últimos anos, mas espera que o estilo de vida saudável e tranquilo possa fazer com que ele siga subindo aos palcos com o Ratos do Porão e seus projetos musicais, além de poder ver seus filhos e futuros netos.
Eu falo desde que os meus filhos são crianças sobre tudo, sexo e drogas. Eles têm uma consciência política, são superbem informados, tem uma cultura pop invejável... Meus filhos são bem estudiosos.
Eu quero ter saúde para ver meus netos! Não preciso de dinheiro, fama, mulheres... Minha vida já foi muito louca. Sou conhecido no mundo inteiro. Tem cara na Grécia e Eslovênia que canta em português as música da minha banda. E isso é uma sensação de recompensa
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