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Branca, Vera Gimenez minimiza racismo no Brasil: Importaram dos EUA

Vera Gimenez disse que racismo foi importado dos Estados Unidos, excluindo passado de escravidão e de poucas políticas contra desigualdades - RedeTV!/Artur Igrecias
Vera Gimenez disse que racismo foi importado dos Estados Unidos, excluindo passado de escravidão e de poucas políticas contra desigualdades Imagem: RedeTV!/Artur Igrecias

Pedro Ezequiel

Do UOL, em São Paulo

05/04/2021 13h13Atualizada em 05/04/2021 13h37

A atriz Vera Gimenez, mãe da apresentadora Luciana Gimenez, minimizou o racismo no Brasil ao comparar com o sistema que vigorou nos Estados Unidos até meados dos anos 60.

Branca e loira, a atriz deu entrevista em uma live com Diogo Bonfim e não reconheceu que, por aqui, a diferença racial foi velada e que após a abolição da escravatura, a população negra não teve nenhum tipo de ressarcimento ou projeto de inclusão na vida social.

É geração mimimi, eu acho muito chato. Qualquer coisa que se fale, é muito mimimi. Você não pode fazer uma piada, nem falar mais nada. Gente, vocês importaram de onde? Dos Estados Unidos, por exemplo, esse racismo. Olha, dentro a universidade que eu fiz, eu tinha três grandes amigas: Zezé, Ana e Desluce. Hoje em dia, não sei se fala 'pretas ou negras', não importa

Com apenas três amigas negras na faculdade, Vera não contou quantas amigas brancas tinha na mesma turma. A quantidade de negros em universidades só atingiu um nível superior a 50% dos alunos em 2018, segundo o IBGE.

Vera disse que ligou para as amigas negras para comentar sobre a última edição do "BBB 21" — pela primeira vez o reality teve maior número de participantes negros e levantou discussões sobre racismo no Brasil.

Eu até liguei para a Ana, quando eu vi umas coisas de racismo no 'BBB', eu falei: 'Ana, será que a gente ia conseguir ser amiga como a gente é até hoje, desde 1981? Será que a gente conseguiria ser?' Porque estou vendo esse racismo importado, americano. Aqui tem racismo, não estou desfazendo disso. Mas lá o racismo era terrível. Até a década de 50, 60, sei lá, os negros não podiam entrar no mesmo ônibus. Os negros, não, os pretos — não sei mais como fala

O Brasil nunca teve, de fato, um sistema de segregação explícito, mas as desigualdades sociais mostram quem está mais vulnerável: homens negros têm expectativa de vida até 4,6 anos menor que a de homens brancos; no mercado de trabalho, uma pessoa negra e uma pessoa branca com a mesma formação têm diferença salarial de 31%; em 2019, enquanto a maior parte dos habitantes era e ainda é negra (54%), 96% dos parlamentares são brancos; já um jovem negro era morto a cada 23 minutos.

Por aqui, pessoas negras pegam ônibus para chegarem em regiões centrais distantes, já que moram em maior quantidade em extremos: 57,1% das pessoas que moram em Parelheiros, na capital paulista, são negras, enquanto a região central como Pinheiros tem apenas 7,3%, segundo o relatório "Igualdade Racial em São Paulo: avanços e desafios" publicado em 2017 pela extinta Secretaria Municipal de Promoção e Igualdade Racial.

Quem mora no Jardim Angela, zona sul e distrito mais negro da cidade, por exemplo, passa em média 83,7 minutos se deslocando para acessar o local de trabalho, segundo o Mapa da Desigualdade de 2020.

Mas Vera continuou comparando os dois países, sem considerar o tempo que a escravidão foi abolida em cada um — O Brasil foi um dos últimos do mundo a fazer isso.

Aqui nunca teve isso. E, aliás, eu desafio a qualquer brasileiro, que não tenha um negro na família. Eu acho difícil. Aqui sempre teve um racismo de dinheiro: se você é rico, você pode ser negro, tanto faz. Nunca ninguém se importa. Nos Estados, não é bem assim. Agora está se importando esse problema aqui para o Brasil, que eu acho terrível, não consigo entender

Na verdade, faz diferença: em 2019, o informativo "Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil" do IBGE mostrou que entre 10% com maior rendimento per capita no país, só 27,7% eram negros, enquanto brancos eram 70,6%.

Na ponta da pobreza, a realidade se invertia com negros sendo 75,2% dos 10% mais pobres — brancos figuravam com 23,7%.

O racismo não foi importado agora e está presente na história do país já algum tempo. Antes da Lei Áurea de 1888, havia leis que dava direitos aos brancos e deixava os negros de lado. Em 1824, a Constituição dizia que a escola era um direito de todos os cidadãos, o que não incluía os povos escravizados.

Já em 1850, a Lei de Terras permitiu ao Estado a venda de espaços agrários a custos altos — os negros não podiam comprar.

Até mesmo após a promulgação da abolição, negros continuaram perseguidos. Na República, os negros que eram encontrados na rua ou que praticassem a capoeira podiam ser presos com base Lei dos Vadios e Capoeiras.

A fala pode ser vista a partir dos 33 minutos e 15 segundos.