Mister Taubaté relata homofobia em concurso de beleza: 'Voltei chorando'
O modelo e influenciador digital William Sousa, Mister Taubaté 2021, representou a cidade paulista na final do concurso Mister São Paulo CNB, que aconteceu no sábado (5), em São José do Rio Preto (SP). Mas, segundo ele, a participação no evento teve um final frustrante, diante de um episódio de homofobia da organização.
Segundo William, um dia após o evento, o coordenador do concurso, André Cruz, o chamou para uma conversa informal em que disse que o rapaz "tinha tudo para ganhar", usando a sexualidade de William, que é gay, como motivo para a derrota.
"Ele falou assim: 'William, eu vou te falar uma coisa. [...] O mister tem que ser homem, sabe por quê? O público não aceita gay. Os jurados não aceitam gays. E você que tem trejeitos. [...] Para você ser mister tem que ser pegador, tem que ser homem', começou a falar nesses termos", relatou William em entrevista ao UOL.
O mister afirmou que logo após a conversa André chegou a pedir desculpas, mas teria insistido nas mesmas justificativas para a não classificação em um diálogo com o marido de William, ainda no mesmo dia.
"Isso mexeu muito comigo. Quem é homossexual, quando sofre preconceito, é uma coisa muito difícil da gente lidar psicologicamente. Eu voltei chorando muito [para minha casa]", declarou o modelo, que abriu boletim de ocorrência contra o coordenador e relatou o caso na internet.
O outro lado
O UOL procurou o coordenador do Mister São Paulo CNB, André Cruz, que negou ter feito as declarações homofóbicas alegadas por William, como a de que o público que acompanha os concursos não aceita vencedores gays.
"Jamais [seríamos homofóbicos]. Eu sou gay, jamais teria isso. Essa edição foi a que mais teve candidatos gays no concurso. [...] Existem dois misters São Paulo gays, jamais a gente ia rotular a homossexualidade", afirmou.
Ele afirmou que apenas explicou para William que os candidatos do concurso precisam ser profissionais e ressaltou que eles posicionam "uma questão de comportamento".
"Se o concurso de mister tem uma postura profissional, [o candidato] tem que ser profissional ali em postura, conduta e ética", argumentou.
André diz ainda que ficou chateado com as declarações do Mister Taubaté nas redes sociais. O franqueado do Mister Brasil CNB também nega que teria dito para William que "para ser mister tem que ser pegador".
"Jamais [diria isso]. Pelo contrário, mister não tem que ser pegador, ele pode pegar quem ele quiser, mas só para ele, não outras pessoas. O mister é um exemplo de pessoa para a sociedade, de atitude, de fazer o bem".
Ao relatar as conversas com André, William Sousa afirmou que nas semanas antes do concurso, não só ele, mas outros candidatos gays, teriam sido orientados a retirar fotos com companheiros em seus perfis nas redes sociais.
"[Pediram para] Evitar ficar mostrando que a gente era gay nas redes sociais, porque 'o concurso não gostava'. Eu tive que ir sem aliança de casamento, fingir que era solteiro", declarou o mister.
Outro candidato LGBT+ ouvido pelo UOL, que preferiu não ser identificado, confirmou os pedidos para retirar fotos de relacionamentos homoafetivos, ou "situações em que parecesse gay", das redes sociais, "pois alguns fãs poderiam julgar e não gostar".
Mais uma vez, André Cruz negou tais pedidos. "A única coisa que eu comentei foi algumas [fotos] com posições que são um pouco vulgarizadas, poses, para serem retiradas da rede social, mas não de relacionamento".
"A gente já está cansado de ouvir certas coisas, por exemplo, 'ah, você não conseguiu isso porque você não é homem. Você não conseguiu isso, porque você é gay', isso machuca", reiterou William ao falar do coordenador.
O concurso
O concurso Mister São Paulo CNB teve a participação de 19 candidatos. Apesar de ser um concurso de beleza, as etapas classificatórias envolveram provas esportivas, de talento, passarela e projetos sociais. O vencedor foi o Mister Barretos, Renato Jacob.
Após responder sobre as supostas declarações homofóbicas, André Cruz disse que "há outras prioridades" e que ninguém queria falar do que o concurso promove de positivo.
"Tem outros conteúdos maiores e é chato falar que o concurso é homofóbico. Não tem por que ser homofóbico. Não tem lógica. O concurso de beleza onde todos os profissionais envolvidos no concurso literalmente são gays, não tem nexo", declarou.
Ele ressalta que "cobrar postura, comportamento e disciplina, isso não tem nada a ver com a questão da pessoa ser gay ou não".
Após as afirmações do Mister Taubaté, na noite de segunda-feira (7) o perfil do Instagram do Mister São Paulo CNB fez uma série de declarações, repostadas por André Cruz e também por Henrique Fontes, diretor do Concurso Nacional de Beleza (CNB), negando as alegações. Na mesma noite, o perfil oficial do evento nacional alterou o ícone do Instagram para as cores da bandeira LGBTQIA+.
"O Estado de São Paulo abraça a diversidade de povos, culturas, de artes e de orientação sexual e o Concurso Miss e Mister São Paulo CNB não poderia se comportar diferente", disseram.
O perfil também afirmou que "todas as calúnias e difamações terão de ser provadas na Justiça". "Tanto a coordenação como o coordenador já acionaram os advogados e a Justiça", concluíram.
Esta não é a primeira polêmica recente que a franquia do CNB se envolve. Em dezembro do ano passado, a atual Miss Brasil Mundo teve que pedir desculpas em redes sociais após ter ido à padaria comprar pão enquanto ela estava com covid.
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