Ana Maria: 'No Império, estávamos sendo civilizados'; atriz negra responde
A apresentadora Ana Maria Braga distorceu a história do Brasil hoje no "Mais Você" ao dizer que, no período do Império, o Brasil estava "tentando ser civilizado". O comentário foi feito para se referir a época que a novela "Nos Tempos do Imperador" trata.
A produção do horário das 18h (de Brasília) vai mostrar o período com Selton Mello como Dom Pedro 2º, o segundo imperador do Brasil. No período, ainda havia a escravatura — abolida apenas em 1888, com o Brasil sendo um dos últimos a fazer isso.
Ana Maria mostrou os bastidores da nova novela da Globo, incluindo o zungu, "a pequena África". O espaço é uma forma de resistência cultural e de vida dos povos negros. Após o repórter Ivo Madoglio mostrar o zungu cenográfico com Dani Ornellas, a "rainha da pequena África", Ana Maria exaltou a produção.
O mais importante é que a novela tem um pouco de ficção, mas retrata tudo aquilo que aconteceu nessa época. Aonde a gente estava sendo civilizado, tentando uma civilização, e um momento muito difícil com uma escravidão que durou um maior tempo aqui na América do Sul e fomos o último país a libertar os escravos. Importante a gente entender de onde viemos e esse espaço vai retratar bem como é que os negros viviam nessa época e como eram tratados. Ana Maria Braga
Atriz responde
A própria atriz Dani Ornellas, que participava da entrada ao vivo da cidade cenográfica, rebateu a apresentadora.
Ela, que é Cândia, a "rainha da pequena África" na novela, disse que os povos negros já eram civilizados — a sociedade brasileira que não reconhecia isso.
A história, para mim e para nós, povo preto, não existe manutenção da nossa cultura sem dança, sem canto. E quando nosso país viveu esses 300 anos do momento mais vergonhoso de nossa história, tentaram nos aculturar, nós sempre fomos civilizados. Só que não entendiam a nossa cultura de uma forma respeitosa. Dani Ornellas
Tentativa de civilizar ou de se apagar?
A população brasileira já era civilizada. Antes mesmo dos portugueses invadirem o Brasil, em 1500, os povos originários tinham seu modelo de vida e suas organizações — que eram diferentes entre os povos indígenas.
Os povos negros sequestrados de África também vieram de países e reinos que tinham uma organização. A ideia de que eles eram não-civilizados ou "desalmados" advém da colonização violenta, que retirava direitos e tratava a população vinda de África como produto, mercadoria de trabalho.
O modelo de sociedade, na época, não considerava a inserção dos negros. A própria assinatura da Lei Áurea foi a conta-gotas, culminando em 1888 e sem reparação histórica. A população negra não teve nenhum tipo de auxílio e ficou vulnerável até as prisões com a Lei da Vadiagem — que discriminava as práticas culturais do povo negro.
Antes mesmo, a legislação impedia a população negra era impedida de acessar alguns meios: em 1824, a Constituição dizia que a escola era um direito de todos os cidadãos, o que não incluía os povos escravizados; já em 1850, a Lei de Terras permitiu ao Estado a venda de espaços agrários a custos altos.
Para piorar, a lei previu, mais tarde, subsídios do governo à vinda de colonos europeus para viverem e trabalharem no Brasil para "branquear" a população brasileira.
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