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Rapper é alvo de racismo ao ser chamado de 'escravo'; polícia investiga

Jotaerre é cantor e organizador da Batalha da Conselheiro, em Santos (SP) - Reprodução/TV Globo
Jotaerre é cantor e organizador da Batalha da Conselheiro, em Santos (SP) Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

12/08/2021 10h21Atualizada em 13/08/2021 09h04

O rapper e produtor negro Jotaerre, 31, registrou um boletim de ocorrência após ser xingado de "escravo" por uma mulher durante uma batalha de rap na cidade de Santos, no litoral de São Paulo.

O cantor não se apresentava na batalha — que coloca em combate dois artistas através da rima —, apenas fazia apresentação da rinha. O evento foi no dia 6 por volta da madrugada, segundo o registro policial.

Segundo o rapper, um grupo de três mulheres torcia para uma MC, que acabou perdendo a batalha em uma casa de eventos na região central de Santos. Uma delas havia provocado Jotaerre com palavrões, mas ele relevou — de acordo com o depoimento feito ao jornal A Tribuna.

Ao anunciar o resultado da disputa entre os rappers, a mesma garota que havia lançado palavrões teria chamado ele de "escravo".

O próprio artista divulgou nas redes sociais o episódio e mostrou que fez o boletim de ocorrência via internet na delegacia eletrônica. O registro foi encaminhado ao 1º DP de Santos, área dos fatos e as investigações estão em andamento, conforme anunciado pela a SSP (Secretaria de Segurança Pública) ao UOL.

B.O contra o racista registrado, ok? Nunca deixem passar batido, denunciem. Jotaerre

Nas redes sociais, ele contou sobre o caso.

Jotaerre ficou incrédulo com a situação, principalmente como a forma que a mulher se referiu a ele.

Em depoimento ao jornal A Tribuna, ele não entende como ela pôde ofendê-lo dentro de um evento que, justamente, serve para enaltecer a cultura negra brasileira através da rima.

É bem pesado, ainda mais pela naturalidade e frieza que ela usou.Não tive reação alguma, travei e fui lá fora com alguns amigos e também estavam inconformados. Ela estava com uma mina preta, o que só me faz pensar que ela é daquele tipo de pessoas que não são racistas 'porque têm amigas pretas'. Jotaerre

Ele recebeu apoio de colegas e fãs vias redes sociais que incentivaram ele a denunciar o caso.

Jotaerre decidiu levar o caso à polícia e refletiu que não há mais desculpas para alguém ser racista no mundo atual. Mesmo com discussões sobre colorismo — que o preconceito estaria agarrad ao tom da pele —, ele afirma que, para o ódio, mesmo não sendo retinto, e às vezes questionado sobre sua identidade, ele é o alvo.

Vocês têm mania de dizer que tal pessoa 'nem é tão preta assim'. Só que pro racista, pra polícia, pra entrevista de emprego, enfim, pra vários tipos de situação, não existe isso, é preto, é escravo, é traficante, não serve pra vaga . Jotaerre

Mas não são os xingamentos racistas que passarão e pararão o rapper. Ele é organizador da Batalha da Conselheiro, que acontece desde 2015 em Santos (SP), sagradamente às quartas-feiras.

Suas próprias linhas também estão disponíveis nas plataformas digitais. A música mais recente, "Ballantines", fala da ascensão entre amigos da mesma "banca" enquanto aproveitam o luxo. A canção é derivada do trap, uma das vertentes do rap que trata das conquistas pessoais.

Há pouco mais de três meses, ele participou de uma música em homenagem ao rap e ao funk, dois ritmos pretos e periféricos do Brasil. A canção foi feita com os cantores Tubarão e Cres.

Nas redes sociais, ele expressou seu desejo de falar mais sobre seu trabalho, ao invés de, mais uma vez, ter que relatar um caso de racismo — que não é isolado no país que faz um cidadão ficar de cueca para provar que não furtou nada, ataca o cabelo de um jogador negro da série B e que teve queda no número de crimes de racismo, mas porque há distorções e subnotificações.