Jornalista brasileira relata dia a dia em Cabul após ascensão do Talibã
A jornalista brasileira Anelise Borges, correspondente internacional do canal Euronews, com sede na França, relatou como tem sido a o dia a dia de trabalho em Cabul, capital do Afeganistão, após a retomada do poder pelo grupo extremista Talibã.
Em entrevista ao "Fantástico" (Rede Globo) de ontem, Anelise contou a respeito das duas semanas que já completou no país. Ela chegou a Cabul logo após a ascensão do Talibã.
"As pessoas se aproximam de mim na rua e pedem ajuda. Me perguntam se elas podem ir embora comigo daqui", contou Anelise.
Segundo a jornalista, mesmo sua entrevista ao programa da Globo foi dada com dois soldados do lado. Questionada se isso não a incomodava, Anelise afirmou que eles provavelmente não entenderiam muito, já que ela estava falando em português.
Ela contou algum dos momentos que já a marcaram durante a cobertura recente.
Eu estava no carro, baixei o vidro, uma mulher começou a falar comigo, muito rápido, tinha um bebê no colo e ela pegou a criança e botou na minha cara. Eu fiquei surpresa, não estava entendendo. Ai meu produtor disse: ela tá querendo que você leve. Aquilo ficou comigo. é muita coisa. Desculpa, é muita tristeza." Anelise Borges
Anelise também falou sobre ter coberto uma manifestação de mulheres, assustadas com a iminente perda de direitos.
Uma coisa que marcou muito foi a audácia delas diante desse grupo muito importante de homens, armados até os dentes, com armas que as vezes são do tamanho do corpo deles, com o dedo no rosto dizendo 'Você não vai me impedir de protestar. Eu tenho direito de protestar'".
"Eles estavam tão desnorteados com essa força feminina. Foi a manifestação que eu vi o Talibã perder controle total", completou.
Anelise revelou que os soldados circulam nas ruas armados e que gostam de falar com jornalistas - ela conseguiu, inclusive, entrevistar uma das lideranças do regime. Contudo, a situação não tem melhorado, segundo conta.
"Os últimos dias ficaram mais difíceis porque a gente viu que o discurso do Talibã que era muito mais aberto e menos conservador não tá se traduzindo nas ações. As mulheres estão trancadas em casa. ontem tive na casa de uma delas que disse. 'começa aqui a campanha deles pra gente desaparecer", contou.
Questionada se sentiu medo em algum momento da cobertura até então, Anelise relatou uma situação tensa: quando seu câmera - com quem ela consegue circular pelas ruas com mais segurança- foi detido por 4 horas, agredido e teve os documentos confiscados.
"Eu achei que eu tinha que ir embora e ele me convenceu a ficar. Ele falou: 'Você aqui vai fazer um trabalho e ele é muito importante. Eu tô aqui pra fazer esse trabalho com você. Se você for embora, além de eu não poder fazer o que tenho que fazer, eu fico sem trabalho. Sem trabalho, fico sem salário".
Anelise não sabe ainda quando volta para casa.
"O problema pra mim é que tô aqui pra contar a história deles. E acho que isso pode ajudá-los, mas tenho ciência que tô expondo eles a um novo regime e que eu vou embora e eles vão ficar", finalizou.
Anelise saiu do Brasil há 15 anos para ser repórter na Europa e há 7 atua em áreas de conflito. Entre as histórias que já contou nestes dias, estão a de um afegão que perdeu a filha de 3 anos, uma mulher prestes a dar à luz sem ter onde morar e um pai que perdeu o filho atleta na explosão do aeroporto.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.