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Autores se manifestam após cancelamento de 'Malhação': 'Sonho continua'

Do UOL, em São Paulo

30/09/2021 11h13

Eduardo e Marcos Carvalho, que seriam os autores responsáveis pela nova temporada de "Malhação", se manifestaram após o cancelamento da novela pela Globo após o início da sua produção.

Conhecidos como Irmãos Carvalho, eles agradeceram as mensagens de apoio que têm recebido e aproveitaram para dizer que "o sonho continua."

Um sonho que não é só de nós dois, nem só da equipe, nem só do elenco. Sonho dos que vieram antes de nós e nos abriram caminho. Sonho de Ruthes e Otelos. Sonho de Zezés e Miltons. E de milhões de brasileiros. O sonho da tela da TV ser menos janela e mais espelho. Menos janela pra um Brasil de bairro nobre de Rio ou São Paulo e com cor de Suíça. E mais espelho de nós mesmos, do Brasil real. Um Brasilzão grande e complexo. Cheio de dor e alegria, miséria e irreverência. E cor. Muitas. Todas. escreveram

A foto que acompanha a publicação mostra os dois "sarrando" no ar ao lado dos prêmios que conquistaram com o curta-metragem "Chico". Segundo os autores, é "para lembrar que a favela é potência e magia."

Eduardo e Marcos são gêmeos do Morro do Salgueiro, na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro. Os dois se formaram em Cinema na Pontifícia Universidade Católica e produziram diversos curtas-metragens. Com "Chico", citado no post, ganharam o Troféu Candango de melhor direção no Festival de Brasília de 2017.

A trama da temporada cancelada de "Malhação", que ainda não contava com um título, se passaria em uma escola na zona norte do Rio de Janeiro considerada a "pior do país" na ficção.

De acordo com a coluna de Patrícia Kogut no jornal O Globo, mais de 70% dos atores do elenco seriam negros.

Confira a publicação na íntegra:

Eu e Eduardo não íamos nos manifestar publicamente sobre a notícia do cancelamento de Malhação, mas mudamos de ideia, já que ainda temos recebido de amigos e jornalistas perguntas de como estamos ou o que aconteceu. Segue abaixo nossa mensagem:

Agradecemos por todas mensagens que recebemos e por aquelas que não recebemos, pois as pessoas ficam na dúvida se é pertinente se manifestar. Por aqui, seguimos serenos e firmes.

Há 3 anos, antes mesmo de definirmos sobre o que seria a história, traçamos uma premissa: precisamos nos ver nela. Queríamos olhar pelo portão, ver as pessoas subindo o morro e pensar: nossos personagens, com seus dramas, poderiam estar subindo essa ladeira. Apresentar isso para milhões virou nosso sonho.

Mas a vida é desafio e nosso sonho continua. Um sonho que não é só de nós dois, nem só da equipe, nem só do elenco. Sonho dos que vieram antes de nós e nos abriram caminho. Sonho de Ruthes e Otelos. Sonho de Zezés e Miltons. E de milhões de brasileiros. O sonho da tela da TV ser menos janela e mais espelho. Menos janela pra um Brasil de bairro nobre de Rio ou São Paulo e com cor de Suíça. E mais espelho de nós mesmos, do Brasil real. Um Brasilzão grande e complexo. Cheio de dor e alegria, miséria e irreverência. E cor. Muitas. Todas.

Não temos a pretensão de herdar o anel de bamba dos gigantes que vieram antes de nós. Mas, assim como tantos outros, assumimos a responsabilidade de atender ao pedido final de muitas e muitas gerações: a de não deixar nosso samba morrer. Nem nossos sonhos.

E a foto da sarrada com os prêmios que recebemos em Brasília pelo filme 'Chico' é pra lembrar que a favela é potência e magia. Que não importa onde tá a linha de chegada, nós passaremos por ela. Melhor: por cima dela, sarrando. Nós, os que já vieram antes e os milhares que também são responsáveis por estarmos aqui. Juntos. Sempre.

Paz.