A menina do MasterChef

Ana Paula Padrão se reinventa na Band, diz não sentir falta do jornalismo e, aos 53, comemora "genética boa"

Felipe Pinheiro Lucas Lima/UOL

Há cinco anos, Ana Paula Padrão deu um salto na carreira e aceitou o convite para apresentar a edição brasileira do "MasterChef", seguindo um caminho também percorrido por Fátima Bernardes e Patrícia Poeta, contemporâneas suas que migraram do jornalismo para o entretenimento. Não demorou muito para o talent show com os chefs Erick Jacquin, Henrique Fogaça e Paola Carosella, que chega à décima temporada em abril, se tornar um sucesso, cativando público e anunciantes. 

Embora tenha perdido audiência nos últimos anos, a atração se mantém como o carro-chefe da programação da Band. Se hoje o desafio é manter o sucesso, lá na estreia a expectativa era permeada de incertezas. Ana Paula, que vinha de uma bem-sucedida carreira no jornalismo na televisão, com passagens como repórter, correspondente internacional, editora e âncora na Globo, SBT e Record, calculou os riscos e refletiu muito antes de fazer a transição. 

Comecei a achar que eu estava trabalhando num negócio velho e que jornal com hora marcada tinha deixado de fazer sentido. Eu queria fazer coisas novas, ter experiências diferentes --ainda que fossem no jornalismo. No entanto, quando você é aprovada numa função é muito difícil sair dela. Você começa a virar escrava do sucesso que você alcançou. Não foi simples deixar a bancada. 

Um ano foi o período em que ela ficou fora do vídeo -- tempo em que escreveu sua biografia, "O Amor Chegou Tarde em Minha Vida", em que narra como se deu conta de que abriu mão de projetos pessoais em nome da carreira. Até aceitar a proposta que daria um novo rumo a sua trajetória profissional,  a brasiliense também teve de superar uma personalidade assumidamente tímida. Deu certo. Mais desenvolta fora da bancada, hoje é reconhecida, na rua, como "a menina do MasterChef" pelas novas gerações que não a viram nos telejornais.

O caminho percorrido até aqui, seja na vida pessoal ou profissional, é feito de êxitos e, também, de fracassos. Ao mesmo tempo em que acompanhou o crescimento do programa culinário, a apresentadora viu naufragar um projeto encampado por ela nas manhãs da Band. O "Superpoderosas", programa apresentado por Natália Leite que se originou do Escola de Você, uma plataforma de capacitação feminina que começou em 2014, foi encerrado menos de sete meses após a estreia.

Com a razão que a experiência lhe trouxe, Ana Paula diz ter aprendido a aceitar os revezes.

O que é o sucesso? Depende do seu objetivo com aquilo. Não me cobro mais tanto para que as coisas deem certo o tempo inteiro"

Lucas Lima/UOL

Um fracasso, um sucesso e a herança materna

Lucas Lima/UOL

Saída da Globo: "Queria a vida que as pessoas tinham"

Filha de pais do interior de Minas Gerais, que se conheceram em Brasília, Ana Paula Padrão lembra de uma garota tímida, bastante reservada, na infância --características que ela afirma carregar até hoje. 
 
"Aprendi a me colocar e a fazer valer as minhas opiniões, mas no fundo sou muito mais introspectiva do que extrovertida. Gosto de ficar em casa, não faço a menor questão de ir para boteco bater papo e tomar chope". 

Da mãe, lembra do conselho para "nunca depender de homem". Já o pai, ela brinca, deve acreditar até hoje que sua primogênita é o homem que desejava como primeiro filho. "Ele me criou para ser um menino, o que foi muito bom para mim porque foi ele quem me ensinou a dirigir, me deu livros e cobrava as leituras."

Se a mãe tinha a frustração de ter largado o emprego como locutora da Rádio Nacional para criar os três filhos, Ana Paula se formou jornalista pela Universidade de Brasília e não parou mais. Começou a trabalhar na TV Brasília, afiliada da Manchete, e no ano seguinte, 1987, foi para a Globo, onde ficou por 15 anos. 

Na emissora onde ficou conhecida do grande público, trilhou todas as funções: repórter, correspondente internacional em Londres e Nova York, editora-chefe e âncora. Foi pela Globo que Ana Paula entrou pela primeira vez no Afeganistão e realizou para o "Jornal Nacional" uma série de reportagens especiais no país que atravessou uma guerra civil por mais de vinte anos sob o regime do Talibã.

Esta foi a última grande cobertura dela antes de assumir a bancada do "Jornal da Globo", em 2000. Os anos à frente das madrugadas da emissora, no entanto, cobraram seu preço e, em 2005, veio o pedido de demissão. Se faria diferente hoje em dia? Ela garante não ter arrependimentos.

Eu e meu marido na época tínhamos que marcar almoço às vezes porque senão a gente não se via. Eu estava guiando a minha vida para ter equilíbrio entre meu lado pessoal e profissional. Eu queria a vida que todo mundo mais ou menos tinha, com fins de semana e noites em casa. 

Ela já estava decidida em sair da emissora quando recebeu uma proposta irrecusável de Silvio Santos. Embora o dono do SBT tenha a fama de não dar muito valor ao jornalismo no seu canal, a ex-âncora garante ter recebido carta branca para trabalhar.

"O que ele me disse foi: 'Você é responsável pelo que põe no ar. Se alguém reclamar eu vou mandar reclamar com você. Eu não tenho nada com isso. O problema é seu'. E isso não era um problema para mim, era parte da profissão", recorda ela, que ficou quatro anos no canal onde, além de lançar o "SBT Brasil", apresentou o programa de documentários "SBT Realidade".

Antes de deixar de vez o jornalismo diário --ela ainda produz reportagens especiais eventualmente para a Band-- houve ainda uma passagem pela Record, onde apresentou o principal telejornal da emissora até 2013. De novo, foi a busca pelo equilíbrio que a fez recalcular a rota. 

Estar no local de grandes acontecimentos já não atrai mais Ana Paula Padrão, que afirma que mesmo durante eventos importantes para o noticiário não se vê fazendo o que por anos fez parte de sua rotina. 

Gosto de ver boas matérias, adoro um material bem produzido, mas não tenho vontade de estar mais lá. Por muito tempo pensei sobre isso: 'Será que em algum momento eu vou sentir saudade de estar onde as coisas estão acontecendo? Será que vou me arrepender disso?' Nunca.

Lucas Lima/UOL Lucas Lima/UOL

Sou introspectiva e tímida e talvez por isso o ego e a vaidade da TV nunca me pegaram

Sobre ter deixado de comandar telejornais para se dedicar mais à vida pessoal

Três reportagens marcantes

Luciana Whitaker

Ver para crer

"Fui ao Alasca entrevistar uma brasileira que se apaixonou por um esquimó e foi morar em Barrow. Foi uma história muito bonita. A minha dúvida era: por que uma brasileira bonita, carioca, do Leblon, que tinha um super emprego bacana deixa a vida que ela tem para se casar e ter filhos com um esquimó? Eu pensava: 'Tem alguma outra coisa. Não pode ser só amor. Não é possível!' Cheguei lá e o que era? Amor mesmo! Que coisa poderosa esse sentimento. Foi lindo"

Arquivo pessoal

Afeganistão pós-Talibã

"A cidade estava cheia de gente andando nas ruas. Muitas mulheres descobrindo a cabeça, tirando fotos -- o que era proibido no regime do Talibã -- crianças correndo, música tocando... E uma coisa marcante: pessoas que tinham escondido fotos antigas me mostravam as imagens de cinco anos atrás e parecia que elas tinham envelhecido vinte anos. Elas queriam me provar o quanto o sofrimento as tinha envelhecido. Foi um momento rico"

Associated Press

Prisão de Pinochet

"O ex-ditador do Chile foi preso numa clínica em Londres, onde estava em tratamento. Saiu a ordem de prisão e eu fiquei um dia inteiro esperando na porta da clínica ele sair. Tudo o que eu vi foi um carro passando com ele dentro. Gostei muito de estar ali no momento em que essa história estava acontecendo"

Preconceito na carreira: "A gente queria trabalhar como homem"

Reinaldo Canato/UOL

Um conselho para Paola

O "MasterChef" trouxe para Ana Paula Padrão mais do que a oportunidade de se reinventar na carreira. Os jurados Henrique Fogaça, Erick Jacquin e Paola Carosella se tornaram mais do que colegas de trabalho, mas amigos por quem tem grande admiração.

"Ganhei três consultores de primeiríssima qualidade", diverte-se ela, que afirma que passou a ousar mais na cozinha após o programa. Com 1,62 de altura, a apresentadora, que diz ter dificuldade para ganhar peso, jura comer de tudo --exceto abacaxi, fruta que lhe provoca alergia. 

O "MasterChef" ainda estava nas primeiras edições quando Paola Carosella pediu ajuda de Ana Paula para solucionar um dilema: com o sucesso à frente do programa, já não sabia se era apenas cozinheira ou também apresentadora de TV. A jornalista conta como foi a conversa com a chef argentina: 

"A Paola me falou: 'Estou muito inquieta porque esse programa tomou na minha vida uma proporção que não tinha. Para mim seria uma tentativa de um programa de TV. Agora, depois da segunda temporada, está se tornando uma segunda profissão. Não sei se estou gostando porque sou cozinheira'. Eu perguntei: 'Escuta, você está triste? Você acha que desempenha mal na TV?'. 'Não'. 'Então, você está querendo inventar um motivo para ser infeliz? Qual o problema de ter uma segunda profissão? Vai ser feliz, amiga!'. Ela encarou de uma maneira muito bonita e de fato ficou uma pessoa mais feliz depois disso."

Lucas Lima/UOL Lucas Lima/UOL
Divulgação

Henrique Fogaça

"É o que eu menos vejo fora do trabalho, mas porque nossas vidas não tem muita simbiose fora do programa. Ele gosta de rock pesado, de Harley Davidson e eu não vou a show de rock, nem gosto de moto. Quando a gente se encontra é em algum evento relacionado a comida. Mas é um amor e eu gosto muito dele. Tem um grande coração"

Divulgação/Fox Life

Erick Jacquin

"Eu e meu marido nos tornamos muito próximos dele. Acompanhei a gravidez da mulher do Jacquin desde antes de acontecer, quando indiquei o médico. Ver a Rô [Rosângela Menezes] grávida foi lindo! Ver os bebês nascendo, pegar no colo... Tenho uma afinidade muito grande com ele, que é sagitariano e uma pessoa generosa como eu"

Roberto Seba / Folhapress

Paola Carosella

"É mais uma afinidade intelectual. A gente gosta de falar e de ler as mesmas coisas. A Paola é muito intensa, ela chora, ri. Eu me permiti ser um pouco mais emotiva também. O meu treinamento como jornalista era aquela coisa de esconder as emoções. E no programa eu descobri que eu podia! Aprendemos muito uma com a outra"

Tentativas de ser mãe e aborto: "Uma dor muito grande"

Lucas Lima/UOL Lucas Lima/UOL

"Um ponto de infelicidade" e um novo amor

A vida pessoal melhorou e o casamento ia muito bem quando Ana Paulo e o então marido, o economista Walter Mundell, resolveram ter filho. Aos 37 anos na época, a jornalista diz que o desejo pela maternidade veio pela pressão da idade, já que se via no limite biológico para conseguir engravidar. Como sempre se dedicou muito ao trabalho --algo era comum às mulheres dos anos oitenta, ela ressalta--, acabou postergando um desejo que acabou lhe trazendo desgaste e dores emocionais.  

Padrão e Mundell recorreram à fertilização in vitro, mas depois de algumas tentativas ela desistiu de ser mãe.

Muitas mulheres que como eu adiaram a maternidade, repetiram esse processo por dez, quinze vezes até dar certo. Eu não fiz isso. Não é legal ficar se entupindo de hormônio, ter dia e hora para ir ao médico e checar a temperatura, fazer a coleta... Nada disso é bonitinho, fofo. Me dava a impressão de que eu estava permanentemente desafiando a natureza

A apresentadora, então, diz que deixou de idealizar a gravidez por perceber que a questão estava interferindo em todos os outros planos.  

"Se ser mãe, com a minha condição física naquela idade, não estava rolando. Será que eu não estava forçando uma barra? Aquela vida bacana ganhou um ponto de infelicidade que antes não havia. Tinha aquele elemento de incerteza, insegurança, infelicidade que você criou. Eu falei: 'Vamos deixar, se vier, ótimo. E parei de tentar artificialmente."

Ela parou com os procedimentos e acabou engravidando naturalmente, mas sofreu um aborto espontâneo aos três meses de gestação. 

Ana Paula e Mundell ficaram casados por 12 anos. O fim do relacionamento foi confirmado em 2015 pelas redes sociais. "O amor que nos uniu até aqui nos guiou para este caminho, que acreditamos ser o melhor diante de momentos de vida muito distintos. Agradecemos imensamente aos amigos que nos apoiaram e consolaram nesses últimos três meses e também à imprensa que sempre tratou nossa união com admiração e saberá respeitar esta nossa hora de dor e recolhimento", dizia o texto. 

Mas não demorou muito para a jornalista redescobrir o amor. O luto da separação passou e sete meses depois ela conhecia o executivo Gustavo Diament, de 47 anos, que foi por anos diretor do Spotify na América Latina. Os dois estão casados e planejam para os próximos meses mudarem para o apartamento que compraram e reformaram juntos nos Jardins, bairro abastado de São Paulo onde já vivem.

Lucas Lima/UOL

Desafio dos 53 anos

Ana Paula Padrão não aderiu ao #TenYearsChallenge ou desafio dos dez anos, uma brincadeira que conquistou famosos e anônimos nas redes sociais recentemente. Se tivesse publicado uma imagem de dez anos atrás, no entanto, talvez nem todo mundo notasse que o tempo passou para ela. Ao postar fotos sem maquiagem, na praia, a apresentadora costuma chamar a atenção dos seguidores pela aparência jovem.

"O bom de não mentirmos a idade é ouvir esse tipo de coisa: 'Nossa, você está bem para a sua idade!'. Não tenho nenhuma vergonha da minha idade, do meu corpo. É óbvio que envelheci e que sou uma mulher de 53 anos", afirma ela, que diz ter herdado a boa genética da família.

A jornalista se orgulha de suas (poucas) ruguinhas e diz que faz apenas aplicações com botox para suavizar as marcas de expressão e dar "aquela levantada no olhar". "Na testa não tenho coragem de fazer porque acho que perde a expressividade no ar", diz.

Além dos exercícios físicos regulares, ela afirma também já ter feito tratamentos a laser na pele, mas não gostou do resultado. 

Sou uma entusiasta [de experimentar novas técnicas], mas se eu achar que está precisando. Estou feliz com o que eu vejo

Lucas Lima/UOL Lucas Lima/UOL

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