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Aos 74, Irene Ravache diz não ligar para rugas no ar: "Sou despudorada"

Irene Ravache como Margot e Hildegard, suas personagens em "Espelho da Vida" - Globo/João Miguel Júnior/Reprodução/Globo/Montagem UOL
Irene Ravache como Margot e Hildegard, suas personagens em "Espelho da Vida" Imagem: Globo/João Miguel Júnior/Reprodução/Globo/Montagem UOL

Guilherme Machado

Do UOL, em São Paulo

25/03/2019 04h00

Consagrada nos palcos e nas telas, Irene Ravache é associada há anos com grandes atuações. No teatro, arrebatou o público em "De Braços Abertos", grande sucesso de Maria Adelaide Amaral, e na TV, como a sofrida dona Lola de "Éramos Seis" (1994), a tresloucada Clô de "Passione" (2010) e, mais recente, a pérfida condessa Vitória, de "Além do Tempo" (2015).

Questionada sobre ser uma das maiores atrizes do país, a intérprete responde um sonoro "Não", em meio a risos. "Eu fui fazendo, não pensava nessas coisas", diz ela.

Ela se destaca agora em "Espelho da Vida", na qual interpreta duas encarnações da mesma alma - em vidas diferentes - uma mulher bondosa, e a outra fria e cruel. O cuidado da atriz é tanto, que até seu olhar muda de cena para cena.

"Costumo dizer que é muito mais difícil você fazer comédia, porque a emoção o autor já entrega. O prato já vem recheado com as lágrimas. Você fala dessa perda que é a pior que alguém possa imaginar, isso já vem pra você pronto pra atingir sua emoção. Aí é deixar ela vir mesmo, sem nenhum pudor."

"Sou muito despudorada nas minhas cenas de emoção: [não ligo] se vou ficar feia, meio amassada, se vai aparecer uma obturação a mais, se vou ficar com mais rugas do que tenho, se vou franzir muito a testa. Não paro para pensar nisso, nem passa pela minha cabeça. Vou e faço, tenho uma entrega legal na hora de fazer a cena", completa a veterana.

Na atual trama das 18h, de Elizabeth Jhin, Irene já entregou diversas cenas emocionantes. Uma das mais impactantes foi quando Margot descobriu que seu filho, Pedro, havia morrido. A reação da personagem foi de profundo desespero, e choveram elogios.

"A cena foi rápida, de primeira. Até agora gravei três cenas muito emocionantes na novela, essa é uma delas. E todas foram de primeira. Tudo estava de acordo: a direção, a iluminação, a emoção, e tem uma coisa: existe uma rede de entendimento entre os técnicos e o nosso ritmo, isso ajuda muito", relembra Irene.

"Gostaria de ser recebida pelos meus pais"

Reginaldo Faria e Irene Ravache em cena de "Espelho da Vida" - Reprodução/Globo - Reprodução/Globo
Reginaldo Faria e Irene Ravache em cena de "Espelho da Vida"
Imagem: Reprodução/Globo

Em sua terceira novela da autora --a atriz foi inclusive indicada ao Enmmy internacional por seu papel em "Eterna Magia" (2007)-- Irene é só elogios: "Ela me fascina. Acho a Elizabeth uma pessoa muito comum. Ela não tem nenhum tipo de defesa, de estrelismo. Você consegue se sentir parceira dela em um trabalho. Ela é aberta ao diálogo, ela não está isolada no alto de uma montanha, inatingível. Eu admiro quem é assim".

"Ela não tem pudor com a emoção. Eu acho que emoção é um fio condutor muito rápido, muito inteligente para você manter o espectador atento", afirma.

Apesar de tantos trabalhos ligas à espiritualidade, a atriz não sabe se acredita ou não em questões relacionadas, mas diz que tem esperanças de reencontrar sua família.

"Eu gostaria na hora da minha morte de ser recebida pelo meu pai e pela minha mãe, gostaria que eles estivessem ao meu lado. Não sei se é verdade, se é assim que acontece, mas seria um bálsamo em um momento tão definitivo. Muitas vezes, dependendo da literatura, eu digo: Não, não tenho a menor dúvida de quem tinha razão era [Charles] Darwin. Aí digo: Não há a menor dúvida de que doutrina espírita está certa. Vou fazendo uma mistura de tudo. Mas eu não gostaria de ter certeza de nada [risos]. Deve ser um momento tão emocionante que acho que ele precisa ser vivido com coragem."

Dualidade e novela em família

Cadu Libonati contracena com a avó em "Espelho da Vida" - Globo/Paulo Belote - Globo/Paulo Belote
Cadu Libonati contracena com a avó em "Espelho da Vida"
Imagem: Globo/Paulo Belote

Em sua reta final, "Espelho da Vida" tem um mistério a ser solucionado: Quem matou Júlia Castelo (Vitória Strada)?

A personagem de Irene é suspeita. A atriz diz que adora as duas personagens que interpreta, mas confessa sua preferência pela mais bondosa, Margot.

A novela marcou ainda um reencontro. Mais uma vez, ela contracena com seu neto, Cadu Libonati, que interpreta Hugo. Cadu já havia dito que aprende muito com a avó. O sentimento, segundo ela, é mútuo.

"Ele defende muito as ideias dele, ele se expressa muito bem e eu presto atenção. Tenho muitos defeitos, posso enumerar vários, mas tem uma coisa interessante que tenho que é prestar atenção, principalmente em pessoas que são muito diferentes de mim. 'Que que ele viu que eu não vi?' É bem bom."

"Quando o neto nasce ele fica muito dependente de você. Depois acho que cabe a gente ir entendendo que os lugares estão mudando, que cresceu, é outra pessoa, tem a identidade dele. Gostaria muito de fazer um trabalho com ele no teatro", diz ela.