Com júri previsível, “X Factor” esbanja choro e exibe pouco talento musical
Mauricio Stycer
30/08/2016 00h12
O produtor Rick Bonadio, já escolado por participações em júris de meia dúzia de shows de talentos, é o "bad cop", o policial mau, do programa lançado pela Band em coprodução com a TNT e a Fremantle. Diz "verdades". "Tá muito desafinado. E não é um. Os quatro estão desafinados", comentou sobre um grupo de jovens cantores.
Os outros três, Alinne Rosa, Di Ferrero e Paulo Miklos, ao menos na estreia, nesta segunda-feira (29), se mostraram mais bonzinhos e compreensivos. E mais propensos e divagar.
"Achei esse lance interessante", disse o cantor do NX Zero sobre uma candidata. "Você nem sabe por que está aqui. A gente também não sabe", observou o ex-Titãs sobre outra. "Chupa, Rick", disse a cantora de axé depois que uma candidata ganhou três "sim" e foi aprovada apesar do "não" do produtor musical.
O "X Factor" começou com uma imagem externa da apresentadora Fernanda Paes Leme em meio a candidatos que participaram da seleção. Ela fez questão de lembrar que o programa teve "mais de 30 mil inscritos", mas não fez nenhuma menção ao show de horror ocorrido na seleção. A enorme desorganização deixou candidatos por mais de 14 horas em filas, em pé, sem acesso a banheiros ou mesmo água, passando frio.
A falta de transparência se repetiu na ausência de explicações sobre os critérios que levaram os pré-selecionados a participar do primeiro programa. Como foi a seleção em meio a 30 mil? Quantos foram escolhidos? Quem os selecionou?
Muito editado, o "X Factor" não esconde que a apresentação dos candidatos é fruto de audições variadas. Os jurados apareceram em cena com pelo menos três figurinos diferentes.
Com uma ou outra exceção, o nível dos candidatos na estreia deixou a desejar. Teve muito choro, excesso de palavras de incentivo da simpática apresentadora e desafinação em quantidades industriais. Faltou talento e, mais importante, surpresa. "X Factor" demorou tanto a ganhar uma edição brasileira que chegou por aqui com cara de velho.
Veja também
Seleção para participar do "X Factor Brasil" vira um show de horror
Produtora Fremantle pede desculpas pelo caos na seletiva do "X Factor"
Inexperiente, Fernanda Paes Leme diz estar segura com estreia de "X-Factor"
Estreia do "X-Factor" tem desafinados, coral gospel e Beyoncé cover
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.