Na posição de aluno, Porchat deixa Jô brilhar como contador de histórias
Excelente contador de histórias, Jô Soares muitas vezes não se conteve e interrompeu os convidados dos seus talk shows no SBT e na Globo para lembrar de situações que viveu ou testemunhou. Aliás, foi frequentemente criticado por este comportamento, como lembrou em entrevista ao "Programa do Porchat", na Record, exibida nesta quarta-feira (18).
Agora que está do outro lado do balcão, Jô pode falar livremente, sem a preocupação de estar cortando o seu entrevistado. Depois de quase 15 mil entrevistas em 28 anos, é curioso ver como está à vontade nesta nova posição. Como se estivesse fazendo um show de stand up. Já havia sido assim no "Conversa com Bial", na Globo, em novembro de 2017, e no "Bola da Vez", na ESPN, em janeiro deste ano.
"Não vou dar entrevista pra qualquer pessoa. Pra você, eu confio", disse a Porchat. "Assisto toda segunda-feira", disse, referindo-se ao programa "Papo de Segunda", que o humorista apresenta no canal pago GNT.
Dois ingredientes acrescentados por Porchat na entrevista fizeram a diferença. Primeiro, deixou transbordar emoção e reverência a Jô, a quem credita o primeiro empurrão na carreira. O apresentador se colocou na posição de aluno mesmo – e pareceu muito natural, sem afetação, neste lugar. E, segundo, não limitou o tempo da conversa. "Adoro conversar", disse o entrevistado, como se a gente não soubesse disso.
A entrevista exibida foi apenas a primeira parte do encontro – uma segunda vai ao ar nesta quinta-feira (19). Sem a necessidade de cortar e editar, Porchat deixou Jô à vontade para contar muitas histórias – e ele é um mestre nesta arte.
Por quase 80 minutos, falou muito, se perdeu, voltou, fez piadas, tocou bongô e até entrevistou o apresentador e seu assistente, Paulo Vieira. Mesmo relatando assuntos dramáticos, como os embates com a censura durante a ditadura militar, Jô é engraçado e divertido.
Um resumo desta longa conversa pode ser lido aqui, no relato do repórter Paulo Pacheco, que assistiu a gravação. O cardápio inclui: 1. uma aula sobre os pioneiros de talk shows nos EUA; 2. as conversas que teve com Boni e Silvio Santos ao trocar a Globo pelo SBT em 1988; 3. propaganda da peça que vai encenar em maio, em São Paulo ("A Noite de 16 de Janeiro", de Ayn Rand"); 4. lembranças da polêmica entrevista com Dilma Rousseff; 5. comentários sobre Lula ("me decepcionou") e o PT; 6. uma declaração sobre a sua posição política ("Sou anarquista"); 7. memórias dos tempos da ditadura ("Não é possível que tem gente que diz que a ditadura é a solução"); 8. o reconhecimento de que sofre com as críticas ("Quem disser que uma critica não incomoda é mentira"); 9. e lembranças dos tempos em que trabalhou na Record, na gestão Machado de Carvalho.
Uma entrevista, enfim, muito legal, agradável e instrutiva, um conjunto nem sempre oferecido nos talks shows da TV aberta.
Audiência: A primeira parte da entrevista com Jô Soares rendeu ao "Programa do Porchat" média de 4,7 pontos em São Paulo, a sua maior audiência nesta temporada.
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