Porchat, Record e público ficam no prejuízo ao fim deste caso mal resolvido
Mauricio Stycer
20/12/2018 05h01
Nesta quinta-feira (20) vai ao ar o último episódio do "Programa do Porchat" na Record. Foram três temporadas apenas, da estreia em 25 de agosto de 2016 ao encerramento neste 20 de dezembro de 2018, com pausas no verão. Muito pouco para uma atração que renovou a programação da emissora e mostrou o enorme potencial do apresentador.
Fosse um relacionamento amoroso, eu diria que a situação entre Record e Fabio Porchat parece um caso mal resolvido. A separação se deu por motivos pouco claros, e gerou uma série de mal-entendidos, ressentimentos, frases ditas na hora errada e muitos desencontros. Tenho a impressão que faltou alguém, com status neutro, para se posicionar entre as duas partes, tentar aparar as arestas e colocar as coisas em pratos limpos.
O fim precoce do "Programa do Porchat" é ruim por vários motivos e deixa tanto a emissora quanto o apresentador no prejuízo.
Para Porchat é a interrupção de uma experiência rara na TV aberta, a chance de falar com um público enorme e diversificado. Mesmo com números de audiência modestos, o alcance do talk show na Record é de um "canhão", comparado a um programa equivalente na TV por assinatura.
Para a Record, Porchat representava uma voz na contracorrente. O seu humor e ironia pegavam bem em uma emissora sisuda e com imagem associada a posturas mais conservadoras. O apresentador fez muitas piadas, sobretudo no início, com a Globo e sobre a relação de Edir Macedo, dono da Record, com a Igreja Universal.
Considero um privilégio o espectador até hoje ter três opções de programas de entrevistas no fim de noite, início de madrugada. Espero que a Record não desista de colocar um outro talk show no lugar do "Programa do Porchat".
Por fim, lamento que o desentendimento entre o apresentador e a emissora tenha causado o esvaziamento do programa antes da hora. Este último mês do "Programa do Porchat" foi muito sem graça e não esteve à altura da atração. Foi um desrespeito com o público e deixou a impressão de que Porchat está saindo pela porta dos fundos. Uma pena.
Veja os melhores e piores momentos de Fabio Porchat na Record
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.