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Homenagem de “Verão 90” a “Vale Tudo” tem cara de piada

Mauricio Stycer

10/03/2019 05h01

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Em cena que vai ao ar no capítulo de segunda-feira (11) de "Verão 90", a vigarista Vanessa (Camila Queiroz) vai deixar o Rio de Janeiro rumo a Londres dando uma "banana" para as câmeras. O gesto, claro, é uma referência ao final de "Vale Tudo" (1988-89), quando o vilão Marco Aurélio (Reginaldo Faria) foge do Brasil dentro de um jatinho e, impune, faz este mesmo gesto para o público.

Esta não será a primeira "homenagem" de "Verão 90" a uma das novelas mais marcantes da teledramaturgia brasileira, escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Toda a história de Janaína (Dira Paes) e Jerônimo (Jesuíta Barbosa), mãe e filho, está calcada na de Raquel (Regina Duarte) e Maria de Fátima (Gloria Pires).

Esta semana, "Verão 90" recriou uma cena clássica de "Vale Tudo", na qual a vilã Odete Roitman (Beatriz Segall) defende Maria de Fátima diante das acusações da mãe. Na atual trama das 19h, o papel coube a Totia Meireles, no papel da ricaça malévola Mercedes.

Dois problemas saltam aos olhos nestas "referências". O primeiro diz respeito a diferença de gêneros das duas novelas. "Verão 90" é uma comédia infantil, exibida às 19h. Assim, o que era dramático em "Vale Tudo" ganha tons farsescos na trama de Izabel de Oliveira e Paula Amaral. A impressão é que a novela está fazendo uma paródia da outra – a homenagem vira uma piada, na verdade.

O segundo problema, mais grave, é que a reprodução de tipos, situações e mesmo cenas inteiras de "Vale Tudo" expõe a falta de originalidade de "Verão 90". E ela não está sozinha nesta situação.

Parece haver um cansaço geral na teledramaturgia da Globo. "O Sétimo Guardião", como já observei, é uma grande homenagem de Aguinaldo Silva à própria obra – são várias as referências a outras novelas do próprio autor. Já "Espelho da Vida" é a quinta novela de Elizabeth Jhin com a mesmíssima temática – vidas passadas, espíritos e reencarnações.

Compartilho uma ótima reflexão do crítico Nilson Xavier sobre o tema. Até quando as novelas serão remendos umas das outras? O quanto as novelas atuais se aproveitam de tramas do passado disfarçando-se sob a aura de "referência"?

Novelas obedecem, de fato, a alguns mesmos padrões. É da natureza do folhetim. Mas a repetição pura e simples de "referências" pode ter o efeito de afastar o espectador

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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