Após contratar Gottino, sócio da CNN é alvo de ataque do Jornal da Record
Mauricio Stycer
21/09/2019 00h28
Quatro dias após a CNN Brasil anunciar a contratação de Reinaldo Gottino, uma das maiores estrelas da Record, o presidente do Conselho de Administração do futuro canal de notícias, Rubens Menin, foi alvo de um ataque pesado da emissora de Edir Macedo.
O empresário foi tema de uma reportagem de cinco minutos do "Jornal da Record" sobre outro de seus negócios, a construtora MRV Engenharia. O pretexto jornalístico para a matéria foi uma ação contra a empresa ajuizada pelo Ministério Público do Paraná. Trata-se de uma ação datada de 15 de agosto, noticiada há 35 dias por quem se interessou pelo assunto, como o telejornal local da Globo em Londrina.
A ação acusa a empresa de responsabilidade "por falhas graves na construção de onze prédios" na cidade paranaense. De São Paulo, o repórter Fábio Menegatti disse, carregando nas tintas: "O que era a realização de um sonho se transformou imediatamente num pesadelo sem fim".
O repórter não mencionou que, entre muitos outros patrocínios, a MRV apoiou a realização dos filmes "Nada a Perder" 1 e 2, que contam a história de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal e proprietário da Record.
Aliás, no intervalo do "Jornal da Record", antes da exibição da reportagem, foi exibida uma mensagem publicitária da segunda parte do filme, atualmente em cartaz nos cinemas. A certa altura do trailer, Edir Macedo (vivido por Petrônio Gontijo) comenta as muitas acusações feitas a ele e à Igreja Universal: "Tudo nós temos que suportar. Todas as injustiças, todas as infâmias, as perseguições. De maneira nenhuma procuramos revidar."
"Enquanto entrega apartamentos de baixa qualidade, a construtora registra lucros bilionários", disse Menegatti, reforçando o tom opinativo (ou "editorializado", como se diz) da reportagem sobre a MRV. "No ano passado, a empresa apresentou lucro de R$ 690 milhões."
O repórter lembrou ainda: "A MRV não foi beneficiada apenas no programa Minha Casa Minha Vida. A empresa também foi uma das que conseguiram um empréstimo do BNDES para compra de jatinhos com taxa de juros bem abaixo do mercado."
Anunciada em janeiro, a CNN Brasil é um projeto do jornalista Douglas Tavolaro, que fez carreira na Record, em diferentes posições, alcançando a vice-presidência de jornalismo, cargo que ocupou por 14 anos, até sair para criar o canal de notícias.
Nos meses seguintes à saída de Tavolaro, a CNN Brasil contratou vários profissionais da Record, mas todos para cargos de chefia e bastidores. Gottino foi o primeiro que apresentava um programa na emissora – e não um qualquer, mas um dos maiores sucessos do canal, o "Balanço Geral".
Ainda sem previsão de estreia, a CNN contratou outros profissionais renomados nos últimos meses, como William Waack, Evaristo Costa e Monalisa Perrone. O canal fala em ter 700 funcionários, com sede em São Paulo e escritórios no Rio e em Brasília.
Procurada pelo blog, a MRV disse que não vai comentar a reportagem do "Jornal da Record". Igualmente procurada, a CNN Brasil também disse que não faria comentários.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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