Crime da vilã e “ressurreição” da vítima se repete em 3 novelas de Walcyr
Mauricio Stycer
31/10/2019 05h01
Em participação no "Altas Horas", em setembro, Walcyr Carrasco contou que escreveu a sinopse de "A Dona do Pedaço" em duas semanas. Em outubro, no "Conversa com Bial", o autor revelou que criou a trama com uma "certa pressa", em três semanas.
Duas ou três semanas, não importa tanto. O espectador consegue perceber, a todo momento, que a trama da novela é pobre, mal estruturada e sem imaginação. Para piorar, Carrasco escreve cenas de forma apressada, sem maiores cuidados, com a intenção de provocar polêmica e repercussão nas redes sociais. Como perguntei em agosto: Para que fazer uma cena legal se você pode fazer uma cena idiota?
Nesta reta final, espectadores mais atentos notaram mais um sinal da pressa e da falta de criatividade do autor. A tentativa de assassinato de Teo (Rainer Cadete) cometida por Josiane (Agatha Moreira) guarda muitas semelhanças com cenas vistas nas outras duas novelas das 21h escritas por Carrasco, "Amor à Vida" (2013-14 ) e "O Outro Lado Paraíso" (2017-18).
Na primeira, a vilã Aline (Vanessa Giácomo) ilude Ninho (Juliano Cazarré), seu amante, e o esfaqueia antes de fugir. Milagrosamente, apesar dos muitos golpes, Ninho consegue sobreviver e escapa do galpão onde foi apunhalado. No leito do hospital, entre a vida e a morte, ele revela que Aline está fugindo naquela mesma noite para o exterior.
Na segunda, Sofia (Marieta Severo) vai atacar seu amante, Mariano (o mesmo Juliano Cazarré), com uma tesoura. Com a ajuda de Zé Victor (Rafael Losso), a vilã enterra o garimpeiro, mas ele reúne forças e sai da cova. Acolhido e tratado por Mãe (Zezé Motta), Mariano reaparece na última semana da novela para, com seu depoimento, ajudar a condenar Sofia.
Esta semana, em "A Dona do Pedaço", a vilã Josiane usou um picador de gelo para matar o namorado Teo dentro de um motel. Eliminou todas as provas do crime e se livrou do celular que guardava a foto que provaria que é uma assassina. Ela só não poderia imaginar que, tal como os mortos-vivos das duas outras novelas, Teo iria sobreviver e incriminá-la. É o que veremos nos próximos capítulos.
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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