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Assim como O Sétimo Guardião, conheça outras novelas processadas por plágio

Nilson Xavier

27/03/2019 07h00

Bruno Gagliasso e Lília Cabral em "O Sétimo Guardião" (foto: reprodução)

Mais uma bomba cai sobre a já tão devastada "O Sétimo Guardião" – novela cujos bastidores são mais movimentados que a trama em si.

De acordo com matéria publicada no UOL, por Ricardo Feltrin (nesta terça-feira, 26/03), a escritora Barbara da Cunha Coelho Rastelli, autora do livro "As Muralhas da Vida Eterna: Uma Metáfora Sobre o Tempo", acusa a TV Globo e os autores de "O Sétimo Guardião" de terem plagiado o seu livro na novela. Barbara entrou com uma ação judicial pedindo que a emissora suspenda imediatamente a exibição da trama.

Não é a primeira vez que Aguinaldo Silva é acusado de plágio e nem é ele o único escritor de novelas a passar por isso. Abaixo cito os processos mais famosos. Trato aqui exclusivamente de casos que foram parar na Justiça, não de simples alegações de quem enxerga similaridades de tramas de novelas com filmes, livros, peças ou outras novelas.

Paulo Goulart e Armando Bógus em "A Próxima Atração" (foto: Acervo TV Globo)

Walther Negrão em "A Próxima Atração", 1970:

O dramaturgo Hélio Bloch processou a Globo alegando que, em sua peça "A Úlcera de Ouro", havia ingredientes usados por Negrão na novela "A Próxima Atração". Especificamente, a campanha que a agência de publicidade da trama fazia para promover um determinado papel higiênico que, ao ser desenrolado, apresentava ao consumidor uma história em quadrinhos. Bloch ganhou o processo. O veredito final saiu quatro anos depois (em 1974), quando Negrão escrevia outra novela, "Supermanoela", que ia mal de audiência. O desempenho desta novela mais o resultado do processo culminaram com a demissão do novelista. Negrão foi escrever novelas para a TV Tupi e só retornou à Globo em 1980.

Para o livro "A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo" (de André Bernardo e Cíntia Lopes), Negrão afirmou que a ideia de "A Próxima Atração" partiu de dois executivos da TV Globo que sugeriram adaptar a trama do filme "O Cadilac de Ouro" (1956, de Richard Quine): "Na ânsia de acertar e agradar os chefes (…), aceitei sugestões de temas para desenvolver a novela. Dentre elas, duas pessoas, cujos nomes não vou citar, até porque uma está morta, sugeriram um filme como ponto de partida, 'O Cadilac de Ouro'. Por coincidência, a mesma fonte de inspiração de Hélio Bloch para escrever "A Úlcera de Ouro". Foi ingenuidade minha, porque as semelhanças apareceram. Quem deveria ter processado era o roteirista do filme. A mim e ao Hélio Bloch."
Ao livro "Autores, Histórias da Teledramaturgia" (do Projeto Memória Globo), Negrão revelou o nome do falecido diretor: Augusto César Vannucci.

Luiz Gustavo como Juca Pirama em "O Salvador da Pátria" (foto: reprodução)

Lauro César Muniz em "O Salvador da Pátria", 1989:

A Globo foi processada por um radialista que se viu retratado à revelia na figura do personagem Juca Pirama, vivido por Luiz Gustavo. Na trama da novela, Juca era radialista – do bordão "Meninos, eu vi!". Alcides Nogueira, colaborador de Lauro César Muniz, narrou ao livro "Autores, Histórias da Teledramaturgia" (Projeto Memória Globo):
"Houve um radialista muito popular em São Paulo que achou que o Juca Pirama, personagem do Luiz Gustavo, estava copiando o estilo dele. E moveu um processo. (…) Foi feita uma perícia e, é claro, o juiz nos deu ganho de causa. Era algo completamente absurdo. O cara queria faturar em cima da popularidade da Rede Globo e do fato de Juca Pirama ser um personagem com grande empatia popular."

Malu Mader como Glorinha da Abolição em "O Outro" (foto: Acervo TV Globo)

Aguinaldo Silva em "O Outro", 1987:

A roteirista (e depois cineasta) Tânia Lamarca processou a Globo alegando que a novela "O Outro" teria sido inspirada em "Enquanto Seu Lobo Não Vem", sinopse escrita por ela e Marilu Saldanha e deixada na Casa de Criação Janete Clair, que, à época, recolhia sinopses para análises da Globo. Em 1987, Tânia pediu indenização de 12 milhões de reais (valores de 2009). Em 1994, o Supremo Tribunal Federal obrigou a Globo a indenizá-la. As duas partes entraram em acordo e Tânia embolsou 3 milhões. Com o dinheiro, ela produziu, em 1997, o filme "Buena Sorte". Foi a partir daí que a Globo passou a proibir qualquer funcionário de receber sinopses de autores que não sejam da emissora.

Flávia Alessandra e Luigi Baricelli em "Alma Gêmea" (foto: Acervo TV Globo)

Walcyr Carrasco em "Alma Gêmea", 2005:

Aqui, Carrasco foi acusado de plágio duas vezes. Primeiro o escritor Carlos de Andrade entrou com um processo alegando que a história de "Alma Gêmea" era uma cópia literal de seu livro "Chuva de Novembro", lançado em 1997. Depois foi Shirley Costa, que processou o autor pelas semelhanças que viu entre a novela e seu romance "Rosácea". Shirley alegou que tinha como provar que Carrasco esteve em contato com o seu livro. No fim, o autor foi absolvido.

Denis Carvalho e Regina Duarte em "Malu Mulher" (foto: Acervo TV Globo)

A título de curiosidade, cito um caso em que não houve processo ou qualquer acusação. Porém, o diretor Daniel Filho revelou o receio de que fosse descoberto. Foi em 1979, enquanto ele idealizava a série "Malu Mulher". Daniel citou em seu livro "Antes que me Esqueçam" que a ideia da série surgiu depois que ele assistiu, nos Estados Unidos, em 1978, ao filme "Uma Mulher Descasada", de Paul Mazursky:
"Quando 'Uma Mulher Descasada' estreou no Brasil, tive medo de que descobrissem o plágio. Ninguém disse nada. Quando o programa começou a ser vendido para o exterior, o medo aumentou. Continuaram sem dizer nada. Mas até hoje, se ouço o nome de Paul Mazurkis, fico com medo de que ele apareça na minha frente dizendo: 'Ah, foi você que me roubou?'"

Leia também: "Escritora acusa Globo de plágio e pede suspensão de Sétimo Guardião";
"Alunos que acusaram Globo de plágio serão processados por plágio";
"O Sétimo Guardião tem bastidores mais atraentes que a própria trama da novela".

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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