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Amin Khader trabalhou no camarim do Rock in Rio e relembra pedidos bizarros

Amin Khader - Reprodução/Instagram
Amin Khader Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

26/09/2019 14h53

Quem vê Amin Khader hoje como 'venenoso' da Record pode não saber que o fofoqueiro tem muita história com o Rock in Rio - festival de música que terá mais uma edição a partir de amanhã, sexta-feira, 27. Ele foi produtor de camarim das três primeiras edições do evento no Brasil, nos anos de 1985, 1991 e 2001, cuidando de pedidos bizarros e regalias para astros internacionais que passaram por lá, como Freddie Mercury, Prince, Ozzy Osbourne, Rod Stewart e Axl Rose.

A Coluna do Leo Dias conversou com Amin e relembrou esta época, que segundo ele, não há registros de imagem pois eram proibidas câmeras fotográficas na região dos camarins. Ele conta que os artistas brasileiros passaram a tomar whisky influenciado pelos astros internacionais, relembra que as geladeiras dos espaços eram todas de isopor, e revela que Freddie Mercury quebrou todo o camarim por não gostar de uma atitude dos brasileiros que dividiam o mesmo corredor.

Ainda na lembrança da época, Amin conta que Prince exigia que todos virassem de costas quando ele passasse nos bastidores. O motivo? Ele usava bobs no cabelo e não queria ser visto. O ex-produtor também aponta Ozzy Osbourne como careta, e relembra quando Axl Rose convidou toda a equipe de funcionários dos camarins, incluindo faxineiras, para jantar com ele no espaço após seu show.

Leia a entrevista completa com Amin Kadher:

COLUNA DO LEO DIAS - Como foi que você foi parar na produção dos camarins do Rock in Rio?

AMIN KHADER - Trabalhei dez anos com a Gal Costa e acabei conhecendo todo o meio artístico. Um dia me ligaram me convidando para trabalhar no Rock in Rio, disseram que eu era a pessoa mais indicada, que sabia lidar com os artistas. Eu nem acreditei, tinha acabado de comprar aquelas cartelas para ganhar ingressos de sorteio para o festival, e de repente me chamam. Fui indicado para esse trabalho mas não sabia falar inglês. Colocaram um intérprete para me ajudar, seguranças para andar comigo. E eu fiz o primeiro, segundo e terceiro Rock in Rio.

E o que você lembra do trabalho? Como era o serviço de camarins do festival?

Na minha época não tinha essa mordomia que temos hoje. Os camarins ficavam no subsolo e lá trabalhavam eu e mais oito garçons apenas, atendendo todos os artistas do festival. A infraestrutura era outra. O primeiro Rock in Rio deixou todo mundo na lama, todo mundo afundou na lama. Mas marcou a época da nossa geração. Me lembro que os artistas nacionais não estavam acostumados a tomar whisky em camarim, isso começou a virar moda aqui com o Rock in Rio, porque eles viam que era uma exigência dos artistas internacionais e queriam também. Uma coisa que todos os artistas internacionais pediam também é macarrão, e tinha que ser feito na hora, trinta minutos antes de eles subirem ao palco. Queriam para dar energia, força. Os internacionais ganhavam um verdadeiro banquete naquela época e os brasileiros ficavam só de olho. As bebidas nos camarins ficavam numa geladeira de isopor com gelo. Os carpetes do camarim ficavam molhados, tinha aquele cheiro de mofo, nós precisávamos limpar toda hora.

Como eram as exigências dos artistas do Rock in Rio nesta época?

Além do whisky, que virou o pedido principal dos brasileiros, tinham alguns que pediam também convites para amigos. O Lulu Santos, por exemplo, trocava o whisky por esses convites. Já recebi pedidos de águas vulcânicas, saquês a 20 graus de temperatura, tinha muito pedido maluco.

Alguém já quebrou o camarim ou aprontou muito?

O Freddie Mercury, quando esteve com o Queen. Me lembro dele chegando de helicóptero. Ele perguntou quem estava nos corredores dos camarins, porque queria aquele espaço todo livre. Pediu cinco minutos para deixar todo o corredor livre. Fiquei maluco. Neste dia eu tinha Erasmo Carlos, Elba Ramalho, Alceu Valença, Ney Matogrosso e o Queen. Cheguei no corredor e fui pedindo para ninguém ficar lá. Um pedido inusitado dele, né? Todos entraram nos camarins e exigiram uma garrafa de whisky. Sem permissão da família Medina eu falei que dava, só para eles entrarem. Aí passou o Freddie Mercury com aquela pose de superstar. Quando ele passou os artistas brasileiros e banda começaram a gritar: "bicha, bicha, bicha!". O Freddie perguntou o que estavam falando dele e eu disse que era um elogio. Não adiantou, ele sacou que era algo errado, entrou no camarim e quebrou tudo. Jogou tudo pro alto. Ficou indignado. E eu tive que deixar tudo arrumado de novo pra ele. Fiquei desesperado e achei que tinha perdido meu emprego, mas a família Medina mandou repor tudo e ficou tudo bem. Nunca mais esqueci disso.

Freddie Mercury no Rock in Rio em 1985 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

E trabalhar com o Prince no Rock in Rio de 1991. Como foi?

O Prince deu uma ordem bem clara. Toda vez que ele passasse pelos bastidores todos deveriam virar de costas para não o ver. Sabe por que? Ele chegou de bobs no cabelo, correndo. E não queria ser visto. Ele me pediu 200 toalhas em pleno domingo à noite. Tive que ir de motel em motel na Barra da Tijuca pedindo as toalhas todas emprestadas. E ele jogava as toalhas para plateia, os bateristas queriam levar as toalhas embora, e eu tive que tomar de volta pra devolver pros motéis. Fiquei enlouquecido!

Depois disso tudo, teve alguém que te surpreendeu positivamente?

Teve o Axl Rose. Ele me pediu vinte pratos de fettuccine, para ele e banda. Só que a banda dele foi embora sem comer. Pensei: e agora? Entrei no camarim do Axl, ele estava lá só de sunga branca colada, tinha acabado de sair do banho, meu Deus! E aí eu expliquei a ele que tinham 20 pratos de comida e que a banda dele tinha ido embora. Ele mandou chamar toda a equipe que estava trabalhando lá, faxineiras, seguranças, tudo, e mandou a gente se sentar e comer com ele. Preparei uma mesa enorme, farta, e comemos tudo com ele, brindando, por volta das 3h da madrugada. Também me surpreendi com Ozzy Osbourne. Todo mundo dizia que ele comia morcego, fiquei apavorado. Que nada! Ele é careta, um Roberto Leal da vida. Tomava chá, comportado. Não fez nenhuma loucura.

Se te chamassem hoje para voltar a fazer esse trabalho, você toparia?

Não faço. Não faço de jeito nenhum. Trabalhei com a Gal Costa por muitos anos, servi a ela mais de 2 milhões de cafezinhos, em 29 anos trabalhando juntos. Mas hoje eu não quero mais isso. Não quero mais trabalhar servindo ninguém. Hoje eu estou cansado, não faria tudo isso de novo não. Aprendi muito, demais. Conheci todos os tipos de artista, mas não voltaria não.

*Com reportagem de Lucas Pasin

Blog do Leo Dias