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Globo cria aplicativo e acaba com "tráfico" de capítulos de novelas

Capítulos das novelas eram "traficados" - Reprodução
Capítulos das novelas eram 'traficados' Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

06/12/2019 10h15

Chegou ao fim, de uma vez por todas, a venda de capítulos de novelas da Globo. O comércio do texto escrito por autores e enviado a atores e produtores existia há cerca de 20 anos e só agora, com a novela Amor de mãe, é que a Globo criou um mecanismo que pôs fim a este tipo de comércio. Quem comprava os capítulos? A imprensa especializada na cobertura de TV: colunistas de jornais, sites especializados e revistas de novela. Hoje em dia, os blocos semanais de uma novela das 21h custavam no mercado cerca de R$ 1 mil por semana, mas já custou muito mais.

Desde o fim da década de 90, o "tráfico" de capítulos era algo sabido por todos. E a Globo sempre tentou impedir esse comércio. Mas nada que fazia surtia efeito. Antes do surgimento da internet, quando os capítulos eram fotocopiados e entregues na casa dos atores, o tráfico com as revistas era bem mais complicado. Este colunista trabalhou na Editora Abril e acompanhou por diversas vezes a negociação e a entrega dos textos. Mas nunca os capítulos chegavam diretamente à redação. Com medo de serem flagrados, os "traficantes" escolhiam postos de gasolina no meio da Via Dutra para a entrega dos blocos a motoristas da editora. Era algo surreal. Entre 2003 e 2009 foi o auge do tráfico. Os preços estavam nas alturas, o valor era o equivalente ao salário de um editor da mesma Editora Abril. Gastava-se cerca de R$ 5 mil por semana. Naquela época, a venda das revistas compensava o pagamento daquele valor.

O advento da internet facilitou a entrega do capítulo mas acabou com o básico: a venda das revistas. Muitas faliram, poucas resistiram. Aí surgem os sites especializados. Um novo mercado surge. A cada novela, muda-se o traficante. Mas o comércio continuava lá, firme e forte.

Capítulos das novelas eram 'traficados' - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Hoje em dia, nos sites especializados em TV, a cobertura das tramas de novelas corresponde de 40% a 60% dos cliques totais, por isso, valia muito a pena comprar e antecipar as novidades das novelas.

Em "A Dona do Pedaço" os capítulos eram enviados aos jornalistas via WhatsApp. Logicamente através de um número pré-pago onde seria impossível identificar o verdadeiro funcionário da Globo que teve acesso e resolveu vender as histórias.

Mas quando a novela de Walcyr Carrasco acabou, tudo começou a mudar. A TV Globo criou um aplicativo de celular para repassar os capítulos de novela aos atores. Esse aplicativo direciona os textos para pouquíssimas pessoas, todas identificadas através de senhas. E o elenco recebe, basicamente, suas falas, e não mais a história completa.

Este aplicativo veio com a criação dos novos Estúdios Globo. Há várias siglas e senhas que deixa o aplicativo bem restrito ao uso apenas por quem está realmente envolvido com a obra. E detalhe importante: está funcionando perfeitamente bem. Os principais colunistas de TV do Brasil não estão tendo mais acesso aos capítulos e a venda que, para muitos, virou uma profissão, acaba de chegar ao fim.

A Coluna do Leo Dias procurou a Comunicação da Globo para falar da novidade. Eles enviaram uma nota exclusiva sobre o aplicativo: "O aplicativo foi desenvolvido para facilitar a rotina de gravação do elenco, atendendo as necessidades que os próprios atores indicaram, e ampliar a eficiência do processo de produção. É também parte de uma série de iniciativas sustentáveis implementadas pela Globo para neutralizar o impacto de sua operação, o que levou a empresa a receber, esta semana, a certificação da ABNT como empresa carbono zero. Entre outros benefícios, a ferramenta vai possibilitar uma redução drástica de consumo de papel. O reconhecimento da Globo como carbono zero foi possível graças a um completo estudo da origem das emissões, da implementação de várias iniciativas de redução destas emissões e uma compensação através da compra de créditos de carbono."

*Com colaboração de Lucas Pasin

Blog do Leo Dias