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Lives derrubadas pelo YouTube expõem amadorismo das equipes de artistas

Felipe Araújo durante live - Reprodução/YouTube
Felipe Araújo durante live Imagem: Reprodução/YouTube

Colunista do UOL

26/04/2020 11h14

Por que tantas lives derrubadas? Por que, de repente, a transmissão é interrompida pela plataforma de vídeos? O YouTube é um portal do mal e quer mostrar seu poder? Não, né? Na verdade essas interrupções abruptas dos shows ao vivo apenas deflagram o amadorismo e o desconhecimento das equipes dos artistas quanto ao uso da plataforma.

O que aconteceu nos últimos anos? Os artistas se tornaram dependentes do YouTube e, mesmo assim, não sabem usá-lo corretamente. E pior, absolutamente ninguém criou um "Plano B" em relação à transmissão de shows pela internet. Todos dependem do YouTube. E por que nas equipes de cada cantor ou banda não existe a função de Gestor de Redes Sociais? A resposta é: amadorismo. Tudo bem, ninguém poderia imaginar que o atual momento um dia aconteceria. Mas deveriam.

Eu arrisco dizer que o cantor mais bem preparado para usar a internet neste período chama-se Luan Santana. Sua equipe é muito profissional e sabe o exato valor da internet em sua carreira. Mas mesmo assim, Luan já deveria estar presente em outras plataformas de vídeo (a francesa Daily Motion, por exemplo) ou em vias de criar a sua própria. A dependência do Youtube não é boa para o artista.

Eu imagino que o gasto para a criação de uma plataforma de vídeo própria seja altíssimo, mas acredito que o tamanho do artista Luan Santana merecesse um esforço entre ele e sua gravadora para que isso se tornasse real. É certo que a sobrevida de Luan no topo das músicas brasileira perdurará, no mínimo, pelos próximos 20 a 30 anos. Por isso, seria um investimento que certamente se pagaria. A plataforma estaria disponível em seu próprio site. Seria muito simples: quer ver um show do Luan ao vivo? Bastasse entrar em seu portal oficial, pagar uma assinatura com um valor acessível, e pronto! Porque ninguém pensou nisso?

A live de Ivete Sangalo caiu ontem por um motivo absolutamente banal. Vou tentar explicar: a Globo tem um sinal interno pro Youtube e esse sinal é monitorado com base no som e imagem para que ninguém retransmita o que é exibido na Globo automaticamente no YouTube. Mas o canal da Ivete estava autorizado. Só que ninguém avisou ao YouTube. E como o sistema é automático, a transmissão foi derrubada. Mas em pouco tempo foi retomada. Essa interrupção poderia ter sido evitada facilmente, concordam?

Vamos a outro exemplo: Felipe Araújo. Quem derrubou a live dele não foi o YouTube, mas sim a sua própria gravadora, a Universal Music, justamente para evitar um prejuízo maior ao artista pelo YouTube, como a suspensão de todo o seu canal.

A Universal não é a responsável pela parte digital do Felipe, mas sim seu próprio escritório. Felipe cantou músicas que não estavam programadas e a Universal foi lá e .... cataploft! Simples. O Youtube tem regras rígidas e se o artista quer estar lá, tem que se submeter a elas. O YouTube quer mostrar a todo momento que não é uma terra de ninguém. E estão certos.

O YouTube usa a expressão "strike" para sinalizar as punições que dá aos canais. Se você leva um strike, você perde a monetização nos vídeos. Com dois, você fica proibido de fazer lives. Com três, seu canal simplesmente é banido. Some. Desaparece do planeta. Como se, de uma hora pra outra, você deixasse de existir. O que significa isso para mim? Co-dependência. A sua existência está sujeita a outro ser. E isso me remete à escravidão.

Muitos dirão que eu estou sendo exagerado, mas é a mais pura verdade. No mercado é necessário concorrentes à altura para que ninguém tire vantagens de um monopólio. E isso não existe quando o assunto é plataforma de vídeo.

Eu entendo essas normas rígidas do YouTube. Eu apenas não concordo com a monetização que a plataforma paga pelas visualizações. Essa conta não está racional e eu vejo, particularmente, um ganho excessivo da gigante americana. Mas é business, baby. É praticamente um monopólio, então, eles se aproveitam do fato de ninguém procurar uma outra alternativa. Foi preguiça dos artistas, sim, foi!. Foi amadorismo, sim, foi. E está todo mundo louco correndo atrás do prejuízo? Sim, está.

Matheus, da dupla com Kauan, é uma espécie de geniozinho da música, e já está em fase final da criação do aplicativo que poderá transmitir ao vivo os shows. Ufa, surge o "plano B". Mas até o público entender e se acostumar a essa nova alternativa... meu amor, isso vai demorar! Até isso chegar com força na classe C, põe uns cinco anos. Todo mundo deixou o YouTube crescer praticamente sozinho durante muito tempo e ninguém fez nada.

Então, agora aguenta. Desde que o mundo é mundo, monopólio só é favorável a um lado. E os americanos são ótimos nisso.

Blog do Leo Dias