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Kevin O Chris é a prova de que existe vida inteligente no funk

Kevin, O Chris precisou de David Brazil para ficar mais à vontade em frente ao público - Divulgação/@asfotosdejoao
Kevin, O Chris precisou de David Brazil para ficar mais à vontade em frente ao público Imagem: Divulgação/@asfotosdejoao

Colunista do UOL

04/05/2020 06h00

O funk é o ritmo mais cruel que existe em toda música brasileira. Da mesma maneira que eleva um anônimo à categoria de celebridade, em um piscar de olhos, destrói a carreira de um ser vivo a ponto dele desaparecer completamente do mercado. Exemplos não faltam: de Pepê e Neném a Biel, passando por Naldo, que ainda insiste em uma carreira que já chegou ao fim. A live de Naldo chegou a números estarrecedores. Pouco depois de uma hora de transmissão, cerca de 800 pessoas acompanhavam a transmissão. Pra que passar por tamanha humilhação? Amor, nada é eterno: transforme-se, reinvente-se.

Neste mesmo caminho estão Nego do Borel e Jojo Todynho que precisam urgentemente de um sucesso. Hoje, eles só aparecem na mídia por motivos não ligados à música. De batismo a bate-boca na web: ninguém paga as contas às custas de polêmicas.

Em outros ritmos, os grandes hits perduram por décadas. "É o amor" é a base de uma carreira sólida da dupla Zezé Di Camargo e Luciano. O funk é perecível dura muito menos tempo que os demais ritmos. Um hit, depois de seis meses, você não suporta mais ouvir.

Anitta é gênio e está um passo à frente de todos, até mesmo para prever a própria queda. Ludmilla não dá para misturar nesse balaio. Ali é talento puro.

Só que no ano passado, tudo mudou. Surgiu um nome fortíssimo que já deu provas suficientes que perdurará por muitos anos: Kevin, O Chris. Entenda, esse rapaz nascido em Caxias não tem um carisma incrível, não depende de um corpo perfeito, não faz cara sexy, é tímido, precisou da ajuda de David Brazil para ficar mais à vontade em frente ao público... só que Kevin faz o que justamente ninguém faz decentemente no funk: compõe, e muito bem, diga-se de passagem.

Ele tentou fugir do óbvio e não usar termos clichês em todas suas músicas, como "quica", "senta" e "rebola". Kevin simplesmente escreveu uma sequência impressionante de sucessos, acabou com a hegemonia de São Paulo e conseguiu criar expressões próprias, que caíram no gosto do público. Simplesmente, o maior artista do mundo, Drake, fez um remix de uma canção do rapaz, de maneira legítima e espontânea.

E o mais curioso é que o sucesso não mudou em nada o rapaz. Ele sabe exatamente o valor de não cortar os laços com a comunidade, base da sua música. E na sua live, que aconteceu no último sábado (02), em Cabo Frio, Kevin foi... exatamente o que o público esperava dele. David era o mais saltitante em uma transmissão que teve a participação de ícones do povo: de Neymar a Gabigol. E todos seus grandes sucessos estavam lá, sem surpresas. Os números superaram às expectativas, já passou de um milhão de visualizações no YouTube, e ultrapassou a live da "gigante" Kondzilla.

A imprensa não dá o verdadeiro valor a Kevin, pouco se fala dele nos sites ou jornais mesmo emplacando hit atrás de hit. Talvez o investimento em mídia não esteja à altura do artista, ou simplesmente Kevin esteja mais interessado em emplacar sucesso do que virar o assunto dos programas de fofoca. Cada um faz da sua carreira o que bem quer. E Kevin é hoje o funk verdadeiro, na sua melhor versão.

Blog do Leo Dias