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Lockdown: será que o brasileiro traduzirá a expressão para 'Tranca Rua'?

Lockdown é o termo usado para definir o bloqueio durante a pandemia - Google Earth/Reprodução
Lockdown é o termo usado para definir o bloqueio durante a pandemia Imagem: Google Earth/Reprodução

Colunista do UOL

07/05/2020 14h54

Desde que a pandemia do coronavírus avançou em todo o mundo, um termo vem ganhando força nos noticiários. Se trata de 'lockdown', expressão em inglês que significa 'bloqueio', ou seja, quando algum Estado ou município decreta o 'lockdown' está bloqueando que os negócios funcionem e evitando que pessoas saiam na rua. É a medida mais rígida adotada durante situações extremas.

Curiosa se o termo vai pegar no Brasil, a Coluna do Leo Dias conversou com algumas pessoas. Há quem diga que sim, afinal adoramos uma palavra 'gringa' no nosso vocabulário. Mas há também quem já aposte em uma tradução: 'Tranca Rua'.

Porém, quem conhece de religião, sabe que 'tranca rua' é também o nome de um Exu, figura que causa certo receio em muitos que desconhecem as religiões com origens africanas.

Procuramos então uma mãe no santo da Umbanda e uma professora de inglês para discutir o assunto. Será que o brasileiro traduzirá a expressão 'lockdown' para 'Tranca Rua'?

Claudia Marcela Miranda, mais conhecida como a Tia do Inglês nas redes sociais, é professora de língua inglesa há 26 anos, e acredita que basta uma blogueira ou web-celebridade começar a pronunciar o termo em seus vídeos para que os brasileiros já entrem na 'onda'.

"É um termo que facilmente vai pegar. Mas talvez a pronúncia possa ser diferente. Muito facilmente as pessoas vão dizer 'loqui-down', com o 'i', por conta da vogal de apoio, que é muito comum entre os brasileiros. O melhor significado da expressão é 'confinamento', mas também pode ser usada como 'bloqueio', já que se refere a um bloqueio geral dos negócios", diz a professora.

Ela se diverte ao escutar que 'Tranca Rua' pode ser uma opção de tradução, mas acredita que não será necessária uma palavra na língua portuguesa para a expressão. "Temos um amor muito grande pela cultura americana. Consumimos filme, séries, e isso influencia na nossa cultura. Eu curto bastante essa mistura. Vivemos num mundo globalizado e a informação permite que isso aconteça", aponta a Tia do Inglês, que relembra quando 'corona vairus' ganhou destaque após um vídeo de Cardi B: "Tudo aconteceu por conta da viralização. Isso é ótimo. Sou fã da comunicação e conexão."

Samanta Cavalcanti, psicóloga e mãe de santo - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Samanta Cavalcanti, psicóloga e umbandista
Imagem: Arquivo Pessoal

'Banalizar termos religiosos é ruim'

Umbandista e mãe no santo desde 2018, Samanta Cavalcanti, que pratica sua religião em um terreiro em sua casa, em Salvador, também conversou com a Coluna do Leo Dias e falou a respeito de traduzirmos 'lockdown' para 'Tranca Rua'. Ela, que também é psicóloga, alerta para não banalizarmos termos religiosos e explica o motivo de muitos 'terem medo' das figuras de Exu.

"Exu é aquele que nos conhece atrás de nossas máscaras e de nossas fraquezas que tanto tentamos esconder. O medo que muitos possuem de Exu dizendo que ele é mal ou o diabo, é apenas o medo que sentem de olhar para as suas próprias dores e maldades. Mas Exu ensina que sem a humildade e a coragem de olharmos para nós mesmos sem as máscaras, não poderemos deixar o peso das mentiras para trás e seguir nossa caminhada", ressalta a umbandista.

Samanta diz que Tranca Rua atua trancando os caminhos que não nos servem mais e abrindo novos caminhos: "Acho que banalizar termos religiosos é uma coisa ruim. Nada na umbanda é feito sem fundamento, e dessa forma cada nome tem uma função. Mas não deixa de ser curioso pensar que nesse momento onde o Brasil precisa tanto de liderança e de um caminho, nós pensemos em Tranca Ruas atuando para bloquear tudo de ruim e nos mostrando caminhos para a família, para novos hábitos, novas formas de pensar o trabalho e a sociedade".

Ela finaliza com uma sugestão: "Ao invés de usarmos o nome dele, recomendo que busquemos ampliar nosso conhecimento e assim busquemos sua proteção para os novos caminhos durante e após essa crise."

*Com reportagem de Lucas Pasin

Blog do Leo Dias