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Mauricio Stycer

Trama rocambolesca de Vitória lembra que "Amor de Mãe" é só uma novela

Em "Amor de Mãe", Vitória (Taís Araújo) vai descobrir que é mãe do seu motorista, Sandro (Humberto Carrão) - Reprodução
Em "Amor de Mãe", Vitória (Taís Araújo) vai descobrir que é mãe do seu motorista, Sandro (Humberto Carrão) Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

28/12/2019 10h40

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Para quem ainda tinha alguma dúvida, "Amor de Mãe" mostrou nesta sexta-feira (27) que a sua linhagem é mesmo a dos típicos folhetins, com um pé bem enfiado no rocambolesco. Esqueça esse papo de série ou filme. A novela de Manuela Dias é um novelão mesmo.

Vitória (Taís Araujo) se deu conta de que Sandro (Humberto Carrão) tem tudo para ser o filho que ela teve, aos 17 anos, com Raul (Murilo Benício) e não contou para ninguém. Detalhe: o rapaz hoje é seu motorista e suposto filho da babá Lurdes (Regina Casé).

Ao explicar para as duas irmãs por parte de mãe, Miranda (Debora Lamm) e Natália (Clarissa Kiste), como fez para esconder a gravidez do menino ela contou uma história sem pé nem cabeça, que só mesmo uma novelista seria capaz de criar.

Vitória revelou que, mancomunada com a bandida Katia, fingiu ter embarcado para Paris, se escondeu por seis meses no cafofo dela, onde ficou estudando francês, e deu um jeito de escrever cartas para as irmãs que eram enviadas para a França e de lá voltavam para o Rio para provar que ela viajou. Por que ela inventou tudo isso? Não me pergunte...

Nos próximos capítulos, outro clichê típico das novelas vai entrar em ação: o famigerado exame de DNA. Vitória vai roubar um fio de cabelo de Sandro para examinar e comprovar que o rapaz é filho dela mesmo. Assim a saga de Lurdes em busca de seu filho Domênico vai recomeçar.

Toda essa história diminui "Amor de Mãe"? Não. Nem um pouco. É injusto colocá-la no nível de novelas bem piores só porque recorreu a uma trama muito rocambolesca para desenvolver uma história. Mas essa aventura de Vitória ajuda a colocar "Amor de Mãe" no lugar dela - uma ótima novela.

"Pular o tubarão"

Muita gente considerou que a novela de Manuela Dias "pulou o tubarão" nesta sequência em que Vitória explicou como teve o seu filho sem ninguém saber. Será?

"Pular um tubarão" é um termo bem conhecido por fãs de séries de televisão. A expressão define aquele momento em que o programa que você acompanha já há algum tempo dá uma escorregada gigantesca para prender a audiência. E quando isso ocorre, tudo indica, está começando a sua decadência.

O termo foi criado pelo comediante Jon Hein nos anos 90, inspirado numa cena da série "Happy Days". Exibido por 11 temporadas, entre 1974 e 1984, o programa mostrava as aventuras de uma turma de amigos nos anos 50 e 60, e ficou marcada pelo tom otimista e alegre das histórias.

A certa altura da quinta temporada, um dos personagens principais, Fonzie (Henry Winkler), está esquiando no mar e pula por cima de um tubarão, numa cena completamente sem propósito, que marcou uma surpresa e, de certa forma, uma ruptura com o clima ameno do programa.

Hein desenvolveu um site sobre o assunto. Analisando centenas de seriados, ele apontava o momento em que, na sua opinião, cada um deles "pulou o tubarão". O site foi comprado pelo "TV Guide" e perdeu parte de sua verve, mas o tema ainda inspira uma seção da publicação na internet.

Acho precipitado dizer que "Amor de Mãe" pulou o tubarão. Mas que a cena causou espanto é inegável.