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Mauricio Stycer

"Arte não tem ideologia, não pode ter ideologia", diz Regina a Vereza

Regina Duarte dá entrevista a Carlos Vereza no programa "Plano Sequência" da TV Escola - Reprodução
Regina Duarte dá entrevista a Carlos Vereza no programa "Plano Sequência" da TV Escola Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

21/01/2020 19h50

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O que esperar de Regina Duarte como secretária de Cultura do governo Bolsonaro? Algumas pistas foram dadas recentemente pela atriz em entrevista ao também ator Carlos Vereza, gravada em novembro do ano passado para o programa "Plano Sequência", na TV Escola, do governo federal.

A certa altura da conversa, Vereza diz que pensa em indicar a colega para o cargo de ministra da Cultura: "Quando eu olho para você, a dignidade é o dado que vem. Sempre vem junto com você. Dignidade. Eu vou fazer uma campanha para indicar você como ministra da Cultura. Qual seria o seu projeto?" Regina diz: "Não. Você não me ama, Vereza". O ator replica: "Amo muito". Ao que a atriz fala: "Você não vai querer me ver enfiada num gabinete resolvendo burocracia".

O ator diz: "Mas você não ficaria no gabinete. Tenho certeza." Regina, então, se sente à vontade para falar o que pensa do assunto. Primeiro, ela diz: "Ou você pega o pacote inteiro ou não pega e fica de fora, contribuindo com tudo que você puder para que a cultura floresça". A atriz observa: "Tem gente que treinou pra isso. Vivenciou os gabinetes, vivenciou gestões, sabe onde está o quê."

Em seguida, Regina diz: "É um quebra-cabeças complicadíssimo a cultura no Brasil. É um país imenso, com expressões culturais muito variadas, com muitas dificuldades. No momento, a mais terrível, que é essa desunião, essa polarização, inspirada por questionamentos partidários, políticos. O que isso tem a ver com a gente? Com a nossa fantasia, com a nossa criação, com a nossa vontade de ser plural, de aceitar o humano na sua totalidade?"

E prossegue: "A nossa função é essa: dar humanidade pro sonho, dar humanidade pro bem e pro mal, liberar o humano pra criar, pra abraçar a pluralidade. Todo mundo tem razão. Cada um escolhe o seu. Se eu não gosto do seu, eu não vou te reprimir. Por que eu vou te reprimir? Deixa você exercer a sua liberdade de ser quem você é, pensar como você quiser. A arte serve para nos ensinar a ser justos com o humano, sem repressões, sem partidarismo, sem ideologia. Arte não tem ideologia, arte não pode ter ideologia."

Carlos Vereza entrevista Regina Duarte no programa "Plano Sequência" gravado na Cinemateca Brasileira - Reprodução - Reprodução
Carlos Vereza entrevista Regina Duarte no programa "Plano Sequência" gravado na Cinemateca Brasileira
Imagem: Reprodução

Antes, Vereza havia perguntando a Regina: "Como é uma cultura? O que uma cultura expressa de uma civilização?" E a atriz respondeu: "Liberdade. Liberdade de viver uma fantasia, de brincar, de ser uma coisa que a gente não é. A possibilidade de brincar, de não ser uma coisa que a gente não é. Essa possibilidade de não ser só um na vida, ser vários."

Regina, então, refletiu sobre como o ofício do ator impacta o espectador: "Isso vale pro artista e pra quem está assistindo também. Porque cada vez que ele se identifica com um personagem, ele tá vivendo um outro lado do seu humano. O humano é múltiplo. 'Como você fez a Porcina?' Porque todos nós temos uma Porcina dentro da gente. Basta deixar ela aflorar, agir, ficar viva, aparecer. É uma liberdade que o ator tem e que ele transfere para quem está assistindo e dá a essa pessoa a liberdade também de sonhar não ser só ele mesmo, na sua pequenez. O ser humano é ambicioso, ele quer ser vários".

Lançado em dezembro passado, "Plano Sequência" traz conversas de Vereza com diretores, roteiristas, atores, figurinistas e técnicos de produção. No site do canal estão disponíveis os primeiros quatro episódios, com Othons Bastos, Ugo Giogetti, Regina Duarte e Olga Futemma.

O programa vai ao ar às quartas-feiras, às 21h, com reprises aos sábados, às 20h, e aos domingos, às 19h. Também serão exibidas entrevistas, entre outros, com Neville D´Almeida, Mauro Mendonça, Juca de Oliveira e Zezé Mota.

A conversa com Regina, como as demais, foi gravada na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Veja abaixo: