Topo

Harry e Meghan: o que a família real discute na reunião de emergência convocada pela rainha

13/01/2020 09h56

A rainha Elizabeth 2ª, do Reino Unido, convocou uma reunião de emergência para hoje, em Sandringham, casa de campo dela, para discutir o novo papel que o príncipe Harry e sua esposa, Meghan Markle, desejam desempenhar como parte da família real.

O encontro, que já está sendo chamado de "Sandringham summit", ou "cúpula de Sandringham", terá a participação do príncipe Charles, do príncipe William e do príncipe Harry. Meghan deve participar por telefone do Canadá.

Mas que questões serão consideradas nessa discussão? O que está em jogo para a família real britânica?

Os subsídios que o casal recebe hoje serão cortados?

Harry e Meghan anunciaram que querem "recuar" de seus papéis como "membros seniores" da família real britânica e "trabalhar para se tornarem financeiramente independentes".

Eles propuseram abrir mão da parcela deles do Subsídio Soberano, pago anualmente pelo governo para manter a família real e suas funções oficiais.

O duque e a duquesa de Sussex dizem que essa verba atualmente corresponde a 5% do que é usado hoje para pagar os custos de seus funcionários — dinheiro que eles terão que obter de outra fonte.

Os outros custos do casal são cobertos pelas receitas provenientes da renda do príncipe Charles como Duque da Cornualha. O ducado compreende um vasto portfólio de propriedades e investimentos financeiros, que arrecadou 21,6 milhões de libras (R$ 114,8 milhões) em 2019.

Rainha Elizabeth 2ª e os príncipes Charles, Harry e William participarão de 'cúpula' na casa de campo da rainha, Sandringham House, em Norfolk - Getty Images - Getty Images
Rainha Elizabeth 2ª e os príncipes Charles, Harry e William participarão de 'cúpula' na casa de campo da rainha, Sandringham House, em Norfolk
Imagem: Getty Images

Declarações feitas por Harry e Meghan no site oficial deles sugerem que o casal pretende manter essa fonte de renda. Eles dizem ainda que já pagam, atualmente, com dinheiro próprio, os custos de suas viagens particulares.

Após serem fortemente criticados por usarem aviões particulares para deslocamentos no ano passado, Harry e Meghan disseram que, sempre que possível, viajarão em "aviões de carreira, trens e veículos de combustível limpo".

A crítica pelo uso de jatos privados se deu principalmente pelo fato de Harry ser voz ativa na defesa da proteção ambiental e do combate às mudanças climáticas.

Já viagens oficiais feitas pelo casal a pedido do Escritório de Relações Exteriores do governo britânico são pagas pelo Subsídio Soberano e o duque e a duquesa de Sussex não parecem esperar que isso mude.

Como eles vão ganhar dinheiro próprio?

Para o padrão da maioria das pessoas do mundo, Harry e Meghan já são muito ricos. David McClure, autor do livro Legado Real, sobre as finanças da família real britânica, diz que o duque de Sussex herdou 7 milhões de libras (aproximadamente R$ 37,2 milhões) quando a mãe dele morreu.

Meghan, por sua vez, tinha uma carreira muito bem-sucedida como atriz quando conheceu Harry. "Juntos, eles devem ter entre 10 e 15 milhões de libras", estima McClure.

Mas o casal pode tentar carreiras no setor privado em busca de mais dinheiro. McClure adverte, porém, que membros seniores da família real sabem que trabalhar no setor privado tem o potencial de ser um "campo minado".

E o correspondente real Jonny Dymond diz que a regra geral é que membros da família real não sejam pagos para trabalhar, especialmente se isso puder causar algum conflito de interesse.

O príncipe Edward, filho mais novo da rainha Elizabeth 2ª, e a esposa dele, Sophie, condessa de Wessex, enfrentaram acusações desse tipo quando tentaram dirigir uma empresa de televisão e uma empresa de relações públicas, respectivamente.

Segundo Dymond, qualquer emprego ou função privada que Harry e Meghan forem exercer pode abrir caminho para que sejam criticados por explorar economicamente ou monetizar a "marca da realeza britânica".

Harry e Meghan manterão seus títulos reais?

Não houve indicação de que o duque a duquesa de Sussex desejam renunciar aos seus títulos reis. Quando Archie, filho de Meghan e Harry, nasceu, seus pais decidiram que ele não teria título — seria simplesmente Archie Harrison Mountbatten-Windsor.

A mãe de Harry, a princesa Diana, abriu mão de seu título de "Alteza Real" quando se divorciou do príncipe Charles. No entanto, especialistas na cobertura da família real britânica dizem que o Palácio de Buckingham dificilmente vai retirar os títulos do casal — após as críticas que receberam no caso de Diana.

Em dezembro, também foi revelado que Harry e Meghan estavam tentando usar a marca real do ducado de Sussex para comercializar uma série de itens, como livros, calendários, roupas e para levantar fundos de caridade. Uma renúncia deles ao título afetaria o status dessa marca.

A reunião desta segunda com a rainha Elizabeth 2ª dificilmente será usada para analisar a questão da sucessão: seria necessária uma decisão do Parlamento para alterar a linha de sucessão, pela qual o príncipe Harry ocupa a sexta posição, atrás do príncipe Charles, do príncipe William e dos príncipes George, Charlotte e Louis — filhos de William e Kate.

Onde Meghan e Harry vão morar?

Harry e Meghan anunciaram que pretendem dividir seu tempo entre o Reino Unido e a América do Norte. O Canadá, onde o casal passou seis semanas no período de Natal, tem sido aventado como possível local de residência para o casal.

Meghan viveu e trabalhou em Toronto por sete anos, quando estrelava a série Suits, do Netflix, e tem vários amigos no Canadá.

A correspondente de família real do jornal britânico Daily Mail, Rebecca English, sugeriu que o casal possa se fixar em Los Angeles, cidade dos EUA onde a mãe de Meghan mora e onde a duquesa de Sussex cresceu. Mas isso só ocorreria, segundo Rebecca, depois que terminar o mandato do presidente norte-americano Donald Trump.

Meghan fazia críticas abertas a Trump antes de entrar para a família real britânica e não participou das recepções ao presidente norte-americano quando ele esteve no Reino Unido no ano passado.

O período de tempo que o casal pretende passar no Reino Unido é uma questão crucial, já que Meghan estaria se candidatando à cidadania britânica, o que exige que ela não tenha passado mais de 90 dias fora do país por ano no período em que viveu na Inglaterra.

E, quando Archie estiver mais velho (atualmente ele tem oito meses de idade), o local onde frequentará a escola pode determinar qual será a principal residência do duque e da duquesa de Sussex.

Eles manterão a residência de Frogmore?

O casal planeja ainda continuar a usar a Frogmore Cottage, residência em Windsor que foi reformada recentemente ao custo de 2,4 milhões de libras (cerca de R$ 12,8 milhões), pagos com dinheiro dos contribuintes.

O objetivo é garantir que "tenham um lugar para chamar de lar no Reino Unido", disseram Harry e Meghan num comunicado.

Mas o casal reconhece que isso vai depender de permissão da rainha, que é a proprietária da residência.

Como eles vão conduzir sua situação fiscal?

Se o casal decidir fixar residência fora do Reino Unido, é possível que haja implicações relacionadas a impostos, diz o repórter Nicholas Witchel, que cobre a realeza britânica para a BBC.

Pelo sistema fiscal canadense, qualquer pessoa que vive no país por 183 dias ou mais deve pagar impostos sobre o total de seus rendimentos, independentemente de onde eles são gerados e recebidos.

Uma regra similar existe no Reino Unido, mas o limite é ainda menor, de 90 dias de permanência no país. Harry foi alertado do risco de dupla tributação sobre suas receitas caso decida dividir o tempo entre dois países, diz o jornal britânico Mail on Sunday.

O casal ainda vai cumprir obrigações reais?

O duque e a duquesa disseram num comunicado, publicado no dia 8 de janeiro, que pretendem continuar a "honrar suas obrigações com a rainha". Um dos desafios da reunião desta segunda (13) com a rainha Elizabeth será decidir o que exatamente isso significa.

"Não está claro que tipo de obrigações reais o príncipe Harry e Meghan se veem exercendo", diz o correspondente da BBC Jonny Dymond.

O ex-assessor de imprensa do Palácio de Buckingham Dickie Arbiter diz que qualquer tentativa de reduzir obrigações públicas pode causar problemas.

Em 2019, o príncipe Harry compareceu a 201 compromissos, enquanto a Meghan esteve presente em 83 eventos.

É menos que o número de compromissos assumidos pelo membro "mais ocupado" da realeza, o príncipe Charles, que participou de 521 eventos no ano passado.

Para que servirá a fundação anunciada por Harry e Meghan?

Em abril, Harry e Meghan anunciaram que pretendem lançar uma nova fundação que, segundo eles, vai servir para "fazer avançar soluções de que o mundo mais precisa", por meio de "ações comunitárias locais e globais".

Os dois disseram que, para desenvolver esse projeto, pesquisaram o trabalho de várias fundações pouco conhecidas do público.

O jornal britânico The Sunday Telegraph diz que o casal deve se inspirar em organizações como as comandadas por personalidades como Barack e Michelle Obama, Bill e Melinda Gates e George e Amal Clooney.

O jornal diz que Meghan e Harry obtiveram aval para a marca "Fundação do Duque e Duquesa de Sussex. Mas a publicação afirma que, se o casal quiser atrair investimentos de pessoas que residem nos Estados Unidos, terão que criar organizações parceiras para que esses doadores possam se beneficiar de isenções fiscais naquele país.

Como o casal vai lidar com a imprensa?

A maneira como Meghan e Harry têm lidado com a imprensa é motivo de controvérsia na família real. Uma fonte disse à BBC que o príncipe William teria ficado "furioso" com uma entrevista que o casal deu à emissora britânica ITV, em outubro de 2019.

As preocupações de integrantes da família real com as estratégias de relações públicas de Meghan e Harry poderão ser levantadas durante a reunião desta segunda.

Recentemente, o príncipe Harry disse que ele e William "certamente estão seguindo caminhos diferentes no momento".

Parte dos planos do casal inclui desviar da rota tradicional de relações públicas da família real, que garante à grande imprensa britânica acesso privilegiado a compromissos da realeza sob a condição de que fotos e comentários sejam compartilhados com as demais publicações.

Harry e Meghan têm manifestado preocupação com a frequência do que chamam de "reportagens equivocadas". Eles dizem que pretendem se conectar com o público mais diretamente, por meio de redes sociais, acrescentando que o sistema tradicional os impede de publicar fotos por si próprios.

Haverá redução no esquema de segurança do casal?

Meghan e Harry disseram que a segurança deles como "pessoas protegidas internacionalmente" é garantida por agentes da polícia britânica e gerida pelo Home Office — o Ministério do Interior do Reino Unido.

Alguns políticos já defenderam que o casal continue a receber essa proteção. "Eu acho que o contribuinte britânico deve continuar a pagar pela segurança de Harry e Meghan, como fazem com ex-ministros", disse à BBC Emily Thornberry, candidata à liderança do Partido Trabalhista.

Ela também destacou que Harry cumpriu serviço militar na guerra do Afeganistão há alguns anos.

Mas o jornal Sunday Times diz que a Polícia Metropolitana está considerando substituir o uso de oficiais armados na segurança de diversas personalidades por agentes que portam apenas tasers (equipamento que dá choque elétrico). O objetivo seria cortar gastos.

Não está claro, porém, se Harry e Meghan estariam na lista dos que podem sofrer mudanças na equipe de segurança.