Para atores, protagonistas negros de "Mister Brau" são um avanço na TV
Um casal de protagonistas negros, ricos e bem-sucedidos. Juntar esses elementos é um dos trunfos de "Mister Brau", estrelada por Lázaro Ramos e Taís Araújo, que faz o que muitas novelas em anos de dramaturgia na televisão brasileira não conseguiram: dar lugar de destaque para pessoas do mundo real que ainda não tem representação na TV.
No Dia da Consciência Negra, atores ouvidos pelo UOL concordam que a evolução no Brasil segue um pouco mais lenta, em comparação a séries estrangeiras como "Empire", "Scandal" e "How to Get Away with Murder", que já dão espaço para negros brilharem nos papéis principais há mais tempo. No entanto, há que se reconhecer um certo progresso.
"Antes de mais nada é a arte imitando a vida. De fato os negros ocuparam uma posição de subserviência durante muito tempo, mas hoje a realidade é outra. Nada mais justo do que retratar essa transformação da sociedade", diz Babu Santana, visto recentemente em "I Love Paraisópolis" como Jávai, um dos alguns bandidos que já interpretou no cinema e na televisão.
Nascido no Vidigal, no Rio, ele não vê problema em encarar papéis do tipo. Pelo contrário, encontra ali a oportunidade de fazer sua parte e de conquistar seu espaço.
"Além de preto, sou favelado. Já tive amigos que não entraram no teatro por não se acharem dignos, o mercado é fechado. Para mim foi essa janela que se abriu, esse tipo de figura, e eu tenho que pagar minhas contas. Mas do limão tento fazer uma limonada. Não dá para ficar só se queixando de fazer bandido, o humano e o social se misturam muito na favela. Não sou só ator, faço cenário, luz, busco no teatro maior liberdade de escolha. O mercado vai ter que me absorver", diz ele, que interpretou Tim Maia no filme de Mauro Lima.
Val Perré, que vive o fotógrafo Raul na segunda fase de "Além do Tempo", concorda que mostrar negros nessa posição social também é necessária. "As pessoas se identificam com os personagens. Se uma criança só vê o negro como capanga, marginal, bandido, só vai ter essa referência. Existem pessoas boas e más, independente de cor, de religião", analisa.
Na primeira etapa da trama de Elizabeth Jhin, ambientada no século 19, seu personagem era um escravo na trama. Depois de um salto de mais de 100 anos, o preconceito continua em discussão.
"Foi instigante fazer o Raul da fase anterior, mas acho importante também mostrá-lo dessa forma. Ele tem uma visão ampla, conhece o mundo inteiro, frequenta todo tipo de lugar. Pode tomar um bom vinho e jantar num restaurante bacana. Na vida real existem essas pessoas. O Raul do século 21 ainda passa por discriminação, com contornos diferentes. Mas o objetivo é o mesmo: ofender. Que sociedade é essa que carrega consigo o preconceito? É lamentável. Como a própria Taís Araújo disse, o que aconteceu com ela não foi um caso isolado", afirma ele, referindo-se aos recentes ataques racistas que a atriz sofreu nas redes sociais e que estão sendo investigados pela polícia.
Protagonista de "Escrava Mãe", que estreia ano que vem na Record, a atriz Gabriela Moreyra diz que a televisão brasileira ainda tem muito que avançar, mas considera um grande passo uma atração ter Brau e Michele como personagens centrais.
"Uma coisa que acontece aqui no Brasil é procurar atores pela cor e não pela personalidade. Uma novela sobre escravos está retratando uma época em que os patrões eram brancos, não tem para onde correr. E mesmo assim não deixa de discutir o assunto. A maior parte da população negra teve dificuldade de acesso a estudo, foi prejudicada durante muitos anos. A nossa novela fala de amor, mas dentro disso tem história, lembra que isso existiu", afirma ela, que interpreta a escrava Juliana na trama de Gustavo Reiz.
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