"Foi muito doloroso sair da 'Praça'", diz ator que trocou SBT pela Globo
Com mais de 30 anos de carreira como ator, humorista, cantor e compositor, Saulo Laranjeira nunca havia feito novela. A oportunidade chegou com um convite tentador da Globo para "Velho Chico", em que interpreta o prefeito Raimundo. Para aceitar a proposta, teve de se despedir de seu trabalho mais famoso: "A Praça É Nossa", programa do SBT onde atuou durante 21 anos como João Plenário.
"Foi muito doloroso eu sair da 'Praça', porque foi um convívio intenso, com muito carinho, respeito e amizade com Carlos Alberto de Nóbrega e o elenco maravilhoso. Foi muito difícil para mim, foi uma vida que eu tive ali, mas o Carlos compreendeu, o pessoal do SBT também, entenderam que estou indo para um projeto que tem a ver comigo, com a minha história. Foi tudo muito leve, as portas ficaram abertas", conta Saulo Laranjeira ao UOL.
O ator teve um motivo especial para deixar o SBT e aceitar o convite da Globo. Mineiro, ele trabalha desde o início da carreira com a valorização da cultura do interior do Brasil, amplamente divulgada pela trama de Benedito Ruy Barbosa. Há 25 anos, Saulo faz espetáculos de música regional e leva artistas como Almir Sater e Geraldo Azevedo ao programa que apresenta em sua terra natal.
"O convite para 'Velho Chico' veio a calhar porque mostra a diversidade e potencialidade cultural do Nordeste tendo como cenário o rio São Francisco. As questões sociais e ambientais vêm à tona, sem falar da autoria do Benedito Ruy Barbosa, um mestre, grande dramaturgo, e a genialidade do Luiz Fernando Carvalho, que faz um trabalho diferente, cinematográfico, muito lúdico. Procuro fazer isso em Minas, uso o nosso espaço para mostrar a qualidade de grandes compositores que estão à margem da mídia", elogia.
Retorno à Globo
As primeiras cenas de Saulo Laranjeira em "Velho Chico" foram ao ar na última terça-feira (12). Entretanto, não é a primeira vez que o ator de 63 anos aparece na Globo. Seu início na TV foi no programa "Som Brasil", no ar entre 1981 e 1989, que difundia a cultura regional e popular brasileira. Na atração, Saulo cantava, recitava e fazia quadros de humor.
"Comecei minha história na televisão foi na Globo, como cantor e compositor no 'Som Brasil', na época do Rolando Boldrin e depois com Lima Duarte, com quem fiz um recital baseado na obra 'Grande Sertão: Veredas', de Guimarães Rosa. Meu trabalho de humorista existia desde a adolescência e minha formação foi acontecendo naturalmente", recorda.
Saulo é o terceiro humorista famoso a aparecer em "Velho Chico", após Batoré e Lucas Veloso, filho de Shaolin. O ator já gravou em Petrolina (PE), às margens do rio São Francisco, e nos Estúdios Globo (antigo Projac), onde foi construída a cidade de Grotas do São Francisco, governada pelo prefeito Raimundo. O ator se surpreendeu com a estrutura da nova emissora e o carinho do elenco, que o reconheceu e até tietou nos bastidores.
"Nunca havia trabalhado com Antonio Fagundes e Marcelo Serrado, eles já têm experiência em novela e são muito amáveis, me receberam com muito carinho e respeito e isso me tranquilizou. Estou aprendendo com eles, porque a linguagem de novela é diferente do teatro, do cinema e do humor da 'Praça'. Sabiam que eu sou um profissional experiente, mas estava em uma praia nova. Muitos manifestaram admiração pelo meu trabalho. Cheguei como um artista querido", comemora.
Corrupto na TV, constrangido na vida real
Coincidência ou não, Saulo Laranjeira interpreta na TV mais um político corrupto. O deputado João Plenário, xodó do ator, e o prefeito Raimundo têm semelhanças e certamente seriam aliados, segundo o ator, que teve liberdade para criar e dar o tom certo ao personagem de "Velho Chico".
"A postura do João Plenário é extremamente de comédia, Raimundo não tem essa coisa caricata e histriônica do deputado, não se igualam. Mas no posicionamento diante da sociedade e na corrupção os dois se igualam totalmente. Descompromisso total. Existe inclusive no prefeito Raimundo a ironia utilizada pelo João Plenário. A cena da inauguração da escola é hilária, porque a escola tem tapumes e não existe ainda. É o João Plenário escrito, um Odorico Paraguaçu", compara, referindo-se ao prefeito de Sucupira em "O Bem-Amado" (1973).
Apesar de ser prefeito, Raimundo não tem o poder e é subordinado do coronel Afrânio (Antonio Fagundes) e do deputado Carlos Eduardo (Marcelo Serrado): "Quem manda na cidade é o coronel. Raimundo é capacho dele, atende as vontades do Afrânio. Eu, que viajo muito, vejo políticos de fachada e coronéis que dominam a estrutura política das regiões".
Saulo garante que continuará interpretando João Plenário no teatro (estreou neste ano a peça "Se Meu Gabinete Falasse"). Assim como Raimundo, o deputado expressa com ironia a realidade brasileira, especialmente nos dias de hoje. Sem se posicionar a favor ou contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o ator se sente constrangido com o atual cenário político.
"Sinto constrangimento total de ver homens públicos, que estavam com uma responsabilidade tão grande no poder, sendo fragilizados diante de tantas mazelas. Temos que admitir que as coisas não podem ser por aí. Estamos aguardando os acontecimentos, mas o que sinto mais é constrangimento como cidadão de ver esse cenário tão complicado, tão complexo da política brasileira", critica.
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