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"É muito difícil julgar", diz Isis sobre Ritinha, sua "mocinha do avesso"

A atriz Isis Valverde - Estevam Avellar/TV Globo
A atriz Isis Valverde Imagem: Estevam Avellar/TV Globo

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

03/06/2017 04h00

Antes de ser convidada para dar vida à Ritinha de "A Força do Querer", Isis Valverde ganhou de presente um escapulário de sereia. Era seu aniversário de 29 anos, em 2016.

"Estava andando na praia, de bobeira, e uma garota veio com ele na mão e me disse: 'É para você, que é uma sereia'. Peguei e agradeci. Nunca coloco nada que me dão, eu sou meio supersticiosa. Na mesma hora, eu coloquei a parada. A Natália [Duran, figurinista da novela], que me conhece há anos, falou: 'É dela'", lembra ela, explicando que o objeto entrou para o figurino da trama.

Intérprete intuitiva, como classifica o colega Marco Pigossi, ela diz que é assim em cena, onde procura estar acordada e com os sentidos abertos, e também na vida. Isis acredita em destino - em vários destinos traçados, para ser mais exata. E acredita no poder das escolhas de cada um na hora de determinar seu caminho.

Pois Ritinha tem se mostrado outra escolha certeira na carreira de Isis, atriz profissional há 12 anos e sucesso na TV desde seu primeiro papel, a doce Ana do Véu de "Sinhá Moça", em 2006. Com uma personagem cheia de defeitos nas mãos, ela construiu uma "mocinha ao avesso" carismática .

"Sempre fui muito cuidadosa com as minhas escolhas. Não vou acertar sempre, tenho dúvidas. Mas acho que fui iluminada todas as vezes que disse: 'É esse'", conta. "Às vezes eu não escutava a minha intuição, mas percebi que era burrice minha, porque na maioria das vezes ela está certa", conta ela, também nos cinemas com o longa "Amor.com".

Ritinha (Isis Valverde) brincando com os botos em "A Força do Querer" - Estevam Avellar/TV Globo - Estevam Avellar/TV Globo
Ritinha (Isis Valverde) brincando com os botos
Imagem: Estevam Avellar/TV Globo

As senhorinhas abraçam (literal e figurativamente) a jovem de Parazinho. As crianças enlouquecem ao verem de perto a sereia. As outras parcelas do público é que andam mais divididas se torcem contra ou a favor. O trunfo dessa conquista - o benefício da dúvida, digamos -, ela atribui à autora, Gloria Perez.

Força da natureza

"Tentei ficar bem próxima da Gloria para entender essa personagem, que dizia coisas muito absurdas com naturalidade, com essa inconsequência. Por isso que eu falo que ela é uma força da natureza. Se um bicho está com sono, ele dorme. Se ele está com fome, ele caça. É muito difícil você julgar. Talvez seja por isso que as pessoas acabam gostando. Você fica brava com o leão porque ele matou a zebra? Ela não é mocinha nem vilã, cabe a você decidir", analisa.

Criadora de Ritinha, a atriz reluta um pouco em apontar os defeitos da cria.

"Acho que ela é egocêntrica, tem algumas atitudes impensadas e quando a gente faz isso acaba se ferrando. Fico com pena dos outros que estão sofrendo, mas dela também."

"Tenho que embarcar na dela, acreditar que ela é uma sereia. Costumo dizer que ela vive no fantástico mundo de Ritinha. Ali só entram as coisas que ela gosta. Às vezes ela tem um olhar perdido quando estão falando um assunto sério. É que ela não quer ouvir. Ela tem um botão 'off', que é sensacional, que eu queria ter", brinca.

Perfeição

E os defeitos da Isis, quais são? "Não vamos botar isso na roda, né [risos]? Mas eu tenho defeito pra caramba, e é necessário reconhecê-los, porque assim você conserta e segue em frente. Ser perfeita deve ser chato. A beleza está no imperfeito", sentencia.

Conforme a atriz vai falando da personagem, vai incorporando, naturalmente, o sotaque, o jeito de falar mais atrevido, a postura. São mudanças sutis, mas necessárias para a intérprete chegar a esse lugar: Ritinha anda de um jeito diferente, ela lembra, sobe em árvore, dança carimbó, faz apneia com uma cauda de 27 quilos.

"É uma personagem que exige fôlego. Ela está sempre agitada, mesmo quando está quieta. No início eu me cansava horrores. Quando chegava em casa, sentia que tinha acabado a força", lembra.

Zeca (Marco Pigossi) e Ritinha (Isis Valverde) dançam carimbó em "A Força do Querer" - Estevam Avellar/TV Globo - Estevam Avellar/TV Globo
Zeca (Marco Pigossi) e Ritinha (Isis Valverde) dançam carimbó
Imagem: Estevam Avellar/TV Globo

Tanto esforço físico, ela diz, lhe exigiu mais do que a sequência trabalhosa do parto de Ritinha, uma experiência "intensa, cansativa e única". Ali, Isis pensava como mãe, vivência que ela quer ter no futuro.

Casamento e família

"Não imagino a hora que vai ser, mas não pode ser agora", diz ela, que namora há um ano e três meses o modelo André Resende. "Ele adora criança, tem a mesma vibe. Ele adora bicho. Homem que adora bicho é o ponto! Amou um cachorro, cuidou, catou o cocô, você fala: 'Opa, peguei, é esse!' [risos]. Estou vendo todas as minhas amigas nesse negócio de casar... É uma coisa que eu quero: casar, construir uma família. Acredita que eu tenho esse sonho bobo?"

Isis tem outros sonhos também, nada bobos, como o de não precisar dizer a sua futura filha o que ouviu da mãe certa vez: que ela queria ter tido um menino.

"Ela disse: 'Minha filha, eu te amo, mas mulher sofre muito. Quando você nasceu, falei: Coitadinha'. Por quê, né? Cresci com aquela questão na minha cabeça. Sentia na pele isso e me revoltava."

Isis Valverde investiu na camiseta feminista da Dior para a coletiva de imprensa da novela "A Força do Querer" - Roberto Filho/Brazil News - Roberto Filho/Brazil News
Na coletiva da novela, Isis usou uma camiseta feminista
Imagem: Roberto Filho/Brazil News

Feminismo

A revolta, no entanto, deu origem a uma nova postura - essa é uma discussão da qual ela não abre mão. No evento de lançamento da novela, por exemplo, Isis usou uma camiseta com os dizeres: "Todos deveríamos ser feministas". O assunto também é abordado em suas redes sociais, onde recentemente ela ressaltou a diferença entre os termos feminismo e femismo. 

"Femismo é o machismo ao avesso, a mulher que quer ser acima do homem, e isso eu não concordo. As pessoas têm que ter um conhecimento um pouco maior sobre o feminismo, esse movimento que é simplesmente pela igualdade", explica. 

Risonha e brincalhona o tempo inteiro da conversa, ela adota um tom mais sério e até se emociona ao tratar do tema.

"Nós estamos injustiçadas. A culpa sempre cai nas nossas costas, é a gente que recebe menos. Fiquei muito feliz de ver todo mundo se mobilizando por isso e não podemos parar de falar. Não pode largar o osso. Se a gente esquece, volta tudo ao normal. Desculpa, não consigo ficar quieta", afirma.

A postura de menina de Ritinha desaparece no meio do discurso, mais condizente com sua idade que com os 20 anos da sereia: os 30 chegaram em fevereiro para Isis, e com eles, uma descoberta. 

"Falam que a gente fica superpoderosa, né? Acho que me trouxe autoconhecimento, segurança, liberdade do não. É muito louco, agora acabou, você não é mais uma menina. Agora não ligo mais para minha mãe tantas vezes, só se for uma coisa séria. Mas eu resolvo. Cansa? Cansa. Mas você sente que vai levar a sua vida. Crescer não é fácil, mas é muito libertador. Eu me senti muito dona de mim, dona do meu nariz."