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Zezé Motta critica campanha de papel higiênico preto: "Respeito, por favor"

Zeze Motta  - Jardiel Carvalho92
Zeze Motta Imagem: Jardiel Carvalho92

Colaboração para o UOL

24/10/2017 19h30

Zezé Motta resolveu usar seu Instagram na tarde desta terça-feira (24) para dar sua opinião sobre a polêmica campanha do papel higiênico preto, o Personal Black, da marca Santher, acusada de racismo. O slogan usado na propaganda, estrelada por Marina Ruy Barbosa, é a frase "Black Is Beautiful" ["negro é lindo"], ícone da resistência do movimento negro norte-americano. 

"Não estou aqui para julgar uma atriz que faz campanha enrolada em um papel higiênico preto. Cada um faz e aceita o trabalho que melhor lhe convém", começou Zezé.

A atriz lembrou quando viajou em 1969 aos Estados Unidos para encenar uma peça em que usava uma peruca lisa. "Um grupo de militantes negros ficou chocado. Era o auge do 'Black is Beautiful', e a gente tinha que manter as características originais da raça", relatou.

Zezé disse que foi aí que começou a se aceitar como negra. "Reparava que os negros americanos andavam de cabeça erguida. Não tinha essa postura subserviente que eu sentia no Brasil e em mim mesma. Essa viagem teve essa importância de fazer com que eu enxergasse meu país de fora. Voltei ao Brasil. E cheguei pensando: Agora ninguém me segura", contou.

Ela afirmou ter tido uma adolescência complicada, já que suas amigas diziam "seu nariz é chato, seu cabelo é ruim, sua bunda é grande". "Para uns pode parecer bobagem, mas para mim e para milhares de negras que viveram em plena década de 70, 'Black is Beautiful' foi algo extraordinário, passamos a nos aceitar, a nos empoderar. E não posso achar interessante uma campanha de papel higiênico preto (tá, tudo bem, sem nenhum problema, pois preto é uma cor, até aí, nenhuma 'criatividade' como essa me choca mais), ser VENDIDA COMO BLACK IS BEAUTIFUL. RESPEITO, POR FAVOR", pediu.

Marina Ruy Barbosa também usou suas redes sociais para falar da campanha da qual é garota-propaganda e pediu desculpas. "Eu lamento muito, de verdade, e peço desculpas às pessoas que se sentiram afetadas. Estou bem triste por tudo isso e espero que entendam que jamais foi feito com a intenção de ofender", declarou a atriz.

 

Não estou aqui para julgar uma atriz que faz campanha enrolada em um papel higiênico preto. Cada um faz e aceita o trabalho que melhor lhe convém. Mediante a tantas ligações e mensagens, gostaria apenas de esclarecer o que muitos ainda não sabem, quanto a importância do #BlackisBeautiful. Tenho propriedade para falar sobre o assunto, vi com meus próprios olhos, sei o que foi dentro de mim. Foi em 1969, viajei aos Estados Unidos com o grupo do Augusto Boal para encenar Arena Conta Bolívar e Arena Conta Zumbi. Ficamos três meses na estrada. Fomos também ao México e ao Peru. Eu tinha comprado uma peruca lisa chanel e representava com ela. Quando nos apresentamos no Harlem, um grupo de militantes negros ficou chocado com o fato de eu usar peruca. Era o auge do black is beautiful, e a gente tinha que manter as características originais da raça. O Boal ainda me defendeu, disse que eu era engajada e tudo o mais. Nesse dia, voltei para o hotel, tomei um banho demorado e deixei meu cabelo voltar ao natural. É que, além da peruca, eu fazia alisamento com pente quente. Ali eu comecei a me aceitar como negra. Saía nas ruas do Harlem e reparava que os negros americanos andavam de cabeça erguida. Não tinha essa postura subserviente que eu sentia no Brasil e em mim mesma. Essa viagem teve essa importância de fazer com que eu enxergasse meu país de fora. Voltei ao Brasil. E cheguei pensando: Agora ninguém me segura! Isso, porque na adolescência tive a fase de embranquecimento. Minhas amigas diziam: “Seu nariz é chato, seu cabelo é ruim, sua bunda é grande”. E aí comecei a não gostar de nada em mim... Descobri que era questão da autoestima bem resolvida. Para uns pode parecer bobagem, mas para mim e para milhares de negras que viveram em plena década de 70, Black is Beautiful foi alto extraordinário, passamos a nos aceitar, a nos empoderar, e não posso achar interessante uma campanha de “papel higiênico” PRETO (tá, tudo bem, sem nenhum problema pois preto é uma cor, até aí, nenhuma “criatividade” como essa me choca mais), ser VENDIDA COMO BLACK IS BEAUTIFUL. RESPEITO, POR FAVOR...

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