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Manifestação política de artistas divide opiniões no Prêmio Multishow

Ana Cora Lima

Do UOL, no Rio

25/09/2018 22h47

Artistas têm que se posicionar sobre política no momento atual do Brasil? No tapete vermelho do Prêmio Multishow 2018 que aconteceu no Rio de Janeiro na noite desta terça-feira (25) o assunto ainda era quente.

No fim da semana passada Anitta se viu envolvida em uma polêmica ao se recusar a dar um posicionamento sobre o candidato à presidência Jair Bolsonaro, do PSL, alvo da campanha "Ele Não". Depois de ser cobrada pelos seus fãs, principalmente mulheres e membros da comunidade LGBT, e desafiada pela cantora Daniela Mercury, a cantora do hit "Vai Malandra!", que concorre como "Hit Chiclete" na premiação, postou um vídeo no Instagram onde disse não apoiar o candidato e ainda desafiou Preta Gil e Ivete Sangalo a também mostrarem sua postura política. 

Anitta foi uma das apresentadoras da noite, ao lado de Tatá Werneck, e assim que subiu no palco para abrir a premiação, o público da arena onde aconteceu o evento, gritou em uníssono "ele não", em referência à campanha contra o candidato, que surgiu no Facebook e já uniu 3 milhões de mulheres, entre elas muitas atrizes famosas, que foram atacadas pelo posicionamento.

A reportagem do UOL conversou com artistas na chegada do prêmio sobre o assunto que explicaram por que são a favor ou contra os artistas manifestarem suas posições políticas.

"Cada um faz o que quer. Quem quiser se posicionar, se posiciona. Quem não quiser, não se posiciona. Não existe isso de obrigação.  Sou contra patrulhamento. Tenho horror à patrulha", disse Caetano Veloso, que afirmou votar em Ciro Gomes, candidato do PDT. "É o único que tem um plano de governo. Faço campanha", afirmou o artista que concorre na categoria "Canção do Ano". O músico foi acompanhado da mulher, Paula Lavigne, os filhos Tom e Zeca, e o ativista político Pablo Capilé.

Já Luis Lobianco, o Clóvis de "Segundo Sol", disse que tem de haver cuidado ao abordar um artista sobre suas posições pessoas para não cair no erro de parecer uma postura ameaçadora. Porém, ele ressaltou, que os artistas que têm publico LGBT têm de avaliar melhor seu posicionamento.

"A festa LGBT é maravilhosa, mas temos uma ameaça real e constante. É um país que mais mata LGBTs no mundo. Nessas horas todo mundo tem que se colocar e as pessoas que dizem fazer parte desse movimento é muito importante que elas se coloquem. Mas, opressão, intimidação e ódio, isso nunca, nem combina com movimento LGBT, que é de inclusão", afirmou o ator.

O sertanejo Zezé Di Camargo, que foi com a namorada, Graciele Lacerda, já acha que os artistas podem sim expressar suas posições políticas. 

"O artista tem que manifestar a posição dele como cidadão e não querer usar aquilo como influência política sobre as pessoas. Claro  que falar de um amigo, um político que você gosta, tudo bem. O Brasil não tem que ter partido hoje. A bandeira tem que ser verde amarela e ponto. Temos que brigar por um Brasil melhor, não por partido", afirmou o sertanejo.

Para Johnny Massaro, que acabou de fazer "Deus Salve o Rei", é preciso compreender o momento e respeitar quem se posiciona e quem não quer fazer o mesmo. "Entendo quem fala que não se posicionar é um posicionamento e entendo quem não quer se posicionar e acha isso certo. Isso tem que ser respeitado", afirmou o ator, que acrescentou sua posição.

"Sou da corrente de que nem falo o nome porque já está subentendido, vai ser a pior das situações. Temos possibilidades excelentes de discutir um país que será melhor para todos. Minha expectativa é termos duas pessoas que possam debater um projeto, coisas que não acredito que Bolsonaro tenha", declarou.

Ney Matogrosso afirmou que falar sobre sua posição política é um direito. "Cada um tem direito a se expressar livremente, apoiar quem quer apoiar, têm liberdade, é foro íntimo", afirmou o artista.

Entre os artistas que estiveram na premiação, Maria Gadu defendeu Anitta. A cantora, que é casada há seis anos com a produtora Lua Leça, afirmou que a funkeira sempre se manifestou politicamente desde o momento que subiu no primeiro trio elétrico LGBT.

"Anitta sempre se posicionou. É uma mana da periferia que constrói uma carreira bonita, é posicionamento. A causa LGBT luta por sobrevivência e liberdade. Anitta se posicionou quando subiu no trio e tamo junto. Respeitamos muito ela", disse a cantora, que todos têm o direito de defender o que acreditam e que para ela a luta é pessoal.

"Estamos lutando para ficar livres, não é só por ideologia. Todo mundo tem direito de falar, sou contra agressividade. Estou lutando para poder amar. Lá em casa sofro preconceito do meu sogro, que não aceita meu casamento. Por isso que estamos lutando. Impor [uma postura] acho desrespeitoso. O que tenho certeza é que sou contra Bolsonaro e que sou a favor de uma vida íntegra como uma mulher gay", declarou Gadu.

Para Iza, se houver respeito, vale tudo no posicionamento de artistas. "As pessoas devem ser livres para fazer o que quiserem. Se achar que não tem que postar não posta, que tem que falar, fale. E se falar, que sejam respeitadas por isso", afirmou a cantora que concorreu como "Melhor Música" com o hit "Pesadão".