Autor fala sobre polêmicas de A Dona: "Antena para temas importantes"

Um empresário que é gay enrustido e vive um casamento de fachada, uma mulher trans que busca respeito, uma socialite cinquentona que redescobre a sensualidade com um amante. Além da trama central de A Dona do Pedaço, com a saga de Maria da Paz (Juliana Paes), sua filha mau caráter e os desencontros com Amadeu (Marcos Palmeira), a novela das 21h tem outros enredos que prometem movimentar o público. O UOL conversou com o autor Walcyr Carrasco sobre esses assuntos.

"Eu não sou um autor que aborda um tema com intenção específica, de conscientizar. Acredito que os autores têm sim uma antena que percebe temas que são importantes para a sociedade, e desenvolvem isso criativamente. Minhas novelas e livros costumam tocar em assuntos que hoje a sociedade discute porque eu, como cidadão e como artista, também sou tocado por eles", afirma Carrasco.

Fim do armário de Agno?

O capítulo do próximo sábado (22) deve marcar uma virada na trama do personagem Agno (Malvino Salvador), que será visto por Fabiana (Nathalia Dill) e Rock (Caio Castro) conversando com um garoto de programa na região da avenida Paulista, em São Paulo. O lugar, o Parque Trianon, é um conhecido ponto de garotos de programa na cidade. O autor garante que não se espelhou em alguém real para criar o personagem e diz que outros tipos da novela já levantaram suscitaram essa questão.

"É outro engano, que tem sido recorrente nesta novela: a crença de que me inspiro em pessoas conhecidas para escrever. Isso não acontece de forma tão óbvia ou linear", observa o autor que, em sua última trama das 21h, O Outro Lado do Paraíso, também tinha um personagem, o médico Samuel (Eriberto Leão) que enfrentou drama semelhante.

Sensualidade aos 50

Agno tem um longo casamento com Lyris (Deborah Evelyn), uma mulher na casa dos 50 anos que, após sofrer com a indiferença sexual do marido, consegue satisfazer seus desejos nos braços de Tonho (Betto Marque). As cenas mostram uma faceta mais sensual pouco explorada até então pela própria intérprete de Lyris. A atriz foi escolhida por Carrasco e Amora Mautner, diretora artística da trama.

"Já trabalhei com a Deborah em Caras & Bocas [2009] e sempre quis voltar a trabalhar com ela. Também já a vi no teatro, é uma grande atriz. Não foi teste não, mas uma escolha minha e da Amora", afirmou Carrasco, que assegura que a ideia da personagem não era explorar a sensualidade de mulheres de 50.

"Quando eu escrevo, não existe 'por que'. Mas simplesmente intuição e criação. Esse tema das mulheres de 50 surgiu no contexto de criação da trama."

Trans vivida por trans

Outra personagem que entrou causando na trama foi Britney (Glamour Garcia), uma mulher trans interpretada por uma atriz trans. A personagem fez a transição longe da família e entrou em cena nove dias após a estreia da novela. A opção por uma atriz na mesma condição da personagem também foi da dupla de autor e diretora.

"Acreditamos que as trans estão ganhando espaço, saindo do gueto para participarem ativamente da sociedade. Ainda é um movimento pequeno, mas está acontecendo. A Glamour Garcia é uma atriz experiente, que veio dos Satyros, um importante grupo de teatro de São Paulo. Na minha opinião, dá intensa verdade à personagem."

Britney foi paquerada por Abel (Pedro Carvalho) desde quando chegou à fábrica de bolos de Maria da Paz. Ela dá uma chance ao chef de cozinha e começa a sair com o rapaz, mas vai ter dificuldade em revelar a ele que é trans.