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Após greve de jornalistas, afiliada da Globo demite 15 em Alagoas

Jornalistas em greve protestam em frente à sede da TV Gazeta, afiliada da Globo em Maceió - Divulgação / Jon Lins / SindJornal
Jornalistas em greve protestam em frente à sede da TV Gazeta, afiliada da Globo em Maceió Imagem: Divulgação / Jon Lins / SindJornal

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

05/07/2019 04h00

A Organização Arnon de Mello (OAM), grupo de comunicação do ex-presidente e senador Fernando Collor de Mello (Pros), demitiu pelo menos 15 jornalistas ontem, na sede da empresa em Maceió. As demissões ocorreram após o retorno ao trabalho da categoria, que fez uma greve de nove dias contra a redução do piso salarial em 40% em Alagoas.

Os profissionais demitidos trabalhavam nas emissoras TV Gazeta de Alagoas, afiliada da Globo, TV Mar, canal de televisão a cabo, e no portal G1. As demissões ocorreram em descumprimento à determinação do TRT (Tribunal de Justiça do Trabalho) da 19ª Região que garantiu a estabilidade dos jornalistas que participaram da paralisação pelo período de 90 dias.

Na quarta, o TRT aprovou, por unanimidade, em dissídio coletivo, o reajuste de 3% nos salários dos jornalistas, além da manutenção do piso -- que passou de R$ 3.565,27 para R$ 3.672,22.

Os desembargadores também decidiram pela legalidade da greve e o não desconto dos dias parados nos salários dos jornalistas. O acórdão ainda não foi publicado, mas a decisão passou a valer após o anúncio.

Mobilização em frente à TV Gazeta, em Maceió: jornalistas fizeram greve contra redução de salários - Divulgação / Jon Lins / SindJornal - Divulgação / Jon Lins / SindJornal
Mobilização em frente à TV Gazeta, em Maceió: jornalistas fizeram greve contra redução de salários
Imagem: Divulgação / Jon Lins / SindJornal
Programação improvisada

Os jornalistas deflagraram a greve no último dia 24, após um mês de negociação do sindicato com as empresas de comunicação para o reajuste salarial. Durante as negociações, as empresas propuseram a redução do piso da categoria em 40% alegando crise financeira. Diante do impasse, jornalistas decidiram parar e fizeram piquetes na frente das três principais empresas de comunicação.

Durante a greve, as emissoras de televisão de Alagoas tiveram que improvisar para manter a grade de programação local, exibindo reprises de programas, reportagens antigas nos telejornais e escalando até profissionais de outros Estados. A situação inusitada gerou comentários e memes nas redes sociais. O portal G1 ficou sem atualização durante toda a paralisação.

Sem entendimento entre jornalistas e empresas nas quatro audiências de conciliação realizadas no TRT, o dissídio foi levado a julgamento pelo tribunal. As empresas não conseguiram comprovar na Justiça que enfrentam dificuldades financeiras e os desembargadores decidiram favorável aos jornalistas.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas, Izaias Barbosa, afirma que as demissões são uma retaliação à greve e destaca a ilegalidade das demissões. A diretoria e o departamento jurídico do sindicato se reuniram com os jornalistas demitidos e definiram que vão ingressar com ação judicial pedindo a readmissão dos jornalistas desligados.

"Os jornalistas voltaram ao trabalho de cabeça erguida, com respeito, e foram surpreendidos com demissões. Essa situação caracteriza assédio moral e perseguição. Nós vamos reclamar na Justiça essa arbitrariedade. O acórdão nem foi publicado e a OAM descumpriu a determinação de manter os salários dos jornalistas por 90 dias", disse Barbosa.

O UOL tentou contato com o diretor executivo da OAM, Luís Amorim, por diversas vezes durante o dia de ontem, mas ainda não obteve retorno.