Paola Carosella muda vida de ex-detento trans, que se emociona: "Surreal"
Paola Carosella ajudou a dar um novo rumo para John Maia, um homem transgênero de 35 anos, ex-presidiário e ex-dependente químico que descobriu um novo propósito para a sua vida após se formar na primeira turma do projeto Cozinha e Voz, de Goiânia, que tem a jurada do MasterChef Brasil como coordenadora.
Na última quinta, a chef postou uma foto de um abraço em John após conhecê-lo. O encontro aconteceu na Penitenciária Feminina Consuelo Nasser, em Aparecida de Goiânia, e marcou um momento muito esperado por ele, que se tornou um dos monitores dos cursos de formação em assistente de cozinha.
"Eu imaginava conhecer a Paolla porque sou da primeira turma do projeto de empregabilidade trans em Goiânia. Tivemos um momento rápido por Skype na formatura no ano passado e quando soube que ela viria para cá a única coisa que eu queria era tirar uma foto com ela", conta.
A primeira vez que ele viu a chef argentina foi pela televisão: ao lado de Erick Jacquin, Henrique Fogaça e Ana Paula Padrão no reality culinário da Band. A admiração só cresceu após ele conhecer as outras facetas de Paolla, engajada em projetos sociais.
Ela me abraçava e falava: 'Você é lindo. Você é cheio de luz, maravilhoso. Continua na sua caminhada'. E passava a mão no meu rosto. Foi algo surreal. Ela dá oportunidade em lugares onde não somos vistos. Sabia que ela tem mulheres trans que trabalham no restaurante dela? Ela abraça o público trans, a população de rua e em cárcere. Ela vai onde ninguém vai. O projeto dela foi um divisor de águas na minha vida".
John diz ter sido surpreendido pela reação à foto postada pela chef, que que recebeu centenas de milhares de interações, nem todas positivas e levou muitas pessoas a seu perfil.
"Estou em choque com o que aconteceu porque jamais imaginei uma repercussão tão grande e com tantos comentários. Em duas horas, 600 pessoas vieram me curtir, sendo que eu era praticamente uma pessoa invisível".
Foi Paolla que entrou em campo para defender o pupilo de comentários transfóbicos. "Seu comentário vem do desconhecimento e do preconceito. Muitos têm. Mas talvez você possa manter o seu preconceito e seus valores sem menosprezar ou ferir os sentimentos dos outros", disse a chef a um dos seguidores.
"Muitas outras vidas vão mudar"
Até conhecer o projeto com Paola Carossella, de capacitação profissional e inclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade, John enfrentou momentos difíceis. Ele foi dependente químico, morou na rua e foi preso após um assalto na Rua da Consolação, em São Paulo.
"Não me esqueço de uma vez em que estava na Cracolândia. Estava muito frio e lá é difícil a gente conseguir dormir porque você apanha muito. Pedi para que um senhor ficasse me olhando. Ele acabou dormindo também e fomos acordados com os policiais chutando a nossa cara", lembra.
"Isso marcou demais a minha vida. Nós não estávamos roubando e nem usando drogas. Estávamos simplesmente dormindo". Preso com mais 3 mil mulheres na Penitenciária de Santana, ele começou ali a enxergar a mudança.
Na penitenciária, onde ficou 1 ano detido, John não usou drogas. Ele afirma que não queria se deixar dominar pelo crack, "algo tão pequeno que cabia na palma da mão", e venceu a dependência química.
Após deixar a prisão, voltou para a natal Caraguatatuba, no litoral norte paulista. Filho único, deixou a cidade e se mudou para Goiânia após a morte da mãe. Na capital de Goiás, teve contato com o projeto de Paola Carosella.
No ano passado, John deu um passo importante em seu processo de transição de gênero submetendo-se a uma mastectomia (procedimento cirúrgico de remoção das mamas), o primeiro de um homem trans no Hospital Estadual Alberto Rassi de Goiânia.
"É um momento em que você consegue se olhar no espelho da forma como sempre se viu e passa a enxergar além da sua imaginação. Você passa a ser quem sempre sonhou".
Monitor e palestrante do Cozinha e Voz há dois anos, John afirma que agora sabe onde quer chegar. "Tenho a certeza o que quero para minha vida, que é trabalhar com movimento social em cárcere, população trans e população de rua".
O primeiro passo? Voltar à penitenciária onde cumpriu pena. "Muitas outras vidas ainda vão mudar", acredita.
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