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Novelas são parte da resistência a Bolsonaro, diz jornal dos EUA

Joaquim (Joaquim Lopes), Ligia (Paloma Duarte), Rita (Alanis Guillen) e Filipe (Pedro Novaes) são protagonistas de "Malhação:Toda Forma de Amar" - Divulgação/TV Globo
Joaquim (Joaquim Lopes), Ligia (Paloma Duarte), Rita (Alanis Guillen) e Filipe (Pedro Novaes) são protagonistas de "Malhação:Toda Forma de Amar" Imagem: Divulgação/TV Globo

Guilherme Machado

Do UOL em São Paulo

31/07/2019 16h48

As telenovelas brasileiras são destaque de uma reportagem publicada hoje pelo Washington Post, jornal dos Estados Unidos. O texto "No Brasil de Bolsonaro, novelas são parte da resistência" destaca como as tramas, ao trazerem temas contemporâneos para o horário nobre, estão funcionando como resistência às políticas do governo de Jair Bolsonaro (PSL).

Entre os exemplos citados pelo jornal americano estão as histórias de Malhação: Toda Forma de Amar, cuja trama aborda um adolescente que enfrenta o preconceito de colegas pela sua homossexualidade, e Órfãos da Terra, que trata do drama dos refugiados. Para o Washington Post, as histórias entram em confronto direto com ideias que foram divulgadas durante a campanha do atual presidente.

A reportagem menciona ainda a série Aruanas, disponível no Globoplay (plataforma de streaming da Globo), protagonizada por um grupo de ativistas que investigam crimes ambientais na Floresta Amazônica.

O jornal relembra que telenovelas já influenciaram o debate nacional ao trazerem temas de relevância, como Cheias de Charme (2012), que foi exibida um ano antes de leis trabalhistas para empregadas domésticas serem aprovadas no país, e Mulheres Apaixonadas (2003), cuja trama envolvendo Dóris (Regiane Alves), que agredia os avós, provocou a criação de leis de proteção aos idosos.

"A imprensa está enfrentando uma época delicada, sendo desacreditada e acusada de inventar notícias quando elas não coincidem com o que alguns espectadores querem que seja verdade. Mas a ficção tende a ver estes tópicos de uma forma que é mais suave, menos impositiva. No momento que você se identifica com os problemas dos personagens, você vê o mundo com olhos diferentes", diz Daniela Ortega, pesquisadora do centro de estudos de telenovelas da USP, entrevistada pelo jornal.

O texto ressalva que as novelas não têm promovido apenas "valores progressistas" e afirma que o foco de algumas nas elites brasileiras ajudou a divulgar "valores conservadores, individualismo e o medo da violência que ajudaram a levar Bolsonaro ao poder", citando como exemplo Segundo Sol (2018). A novela das nove foi criticada, entre outros motivos, pela falta de atores negros em uma trama que era ambientada em Salvador.