Atriz revive drama de violência doméstica: "Não queria sentir tudo de novo"
Hermila Guedes precisou revisitar uma passagem muito dolorosa de sua vida, na série Segunda Chamada (Globo), sobre educação para jovens e adultos (EJA) que a Globo estreia no dia 8 de outubro. Ela interpreta Sônia, uma professora de história que é agredida pelo marido, Carlos (Otávio Muller). O drama foi difícil pois convergia com a vida da atriz: ela assistiu durante anos ao seu pai agredindo sua mãe.
"Eu não queria sentir tudo aquilo de novo", declarou ela, chorando, a jornalistas durante o evento de divulgação da série, na semana passada, em São Paulo. Hermila disse que a diretora da série, Joana Jabace, não sabia do fato, e que ao mesmo tempo que foi doído passar por todas aquelas sensações, ela se sentiu mais forte.
"A arte cura, fortalece. É uma oportunidade incrível poder vivenciar certas coisas para se transformar. Eu não só tive a felicidade de desenvolver essa simpatia com a Sônia, mas de poder entender como ela poderia desenvolver a empatia dela com os alunos", contou.
Em conversa com o UOL após o evento, Hermila afirmou que abordar o tema da violência doméstica é importante porque pode alertar outras mulheres sobre a questão.
"O feminicídio no Brasil é uma questão muito séria. Começa com uma agressão verbal e termina com uma morte. Infelizmente, na minha família isso aconteceu e, por pouco, a minha mãe não foi vítima e fez parte dessa estatística", desabafou.
O ocorrido foi traumático para ela, que nunca soube como deveria se sentir em relação ao pai: "Meu pai morreu e a minha mãe seguiu, cuidando das filhas sozinhas. A gente ficou com essa história na nossa vida durante muito tempo. Como filha é muito difícil, como é que você pode sentir raiva do seu pai? De alguém que é da sua família? Acho que é uma das coisas mais difíceis para alguém viver, porque não traumatiza só a vítima, mas os filhos também".
Ao longo de seu processo parar viver a personagem, Hermila tentou bloquear os eventos de sua vida. Mas, com o andar da trama, ela percebeu que não havia como fazer isso, pois tinha uma forte identificação com a personagem.
"Tentei fugir o máximo que pude, mas, a partir do momento em que eu vi que não conseguiria interpretar diante de uma situação tão difícil, que me remetia a memórias difíceis, eu tive que deixar isso acontecer. Foi até mais fácil para a verdade da personagem."
"Tentei mais entender o que eu tinha passado. As cenas da Sônia com a família têm essas situações, e eu me via em alguns momentos como criança, no lugar dos filhos. Isso facilitou e também dificultou esse processo."
Na série, ela faz parte do corpo docente da Escola Estadual Carolina Maria de Jesus, onde educadores se dedicam ao ensino noturno, auxiliando jovens e adultos que não tiveram a oportunidade de estudar a terem uma nova chance.
"Fiz uma pesquisa no EJA, fui assistir a uma aula. Mas fui a última a fazer isso. Tenho tias professoras, conversei com elas e tentei entender como é essa paixão [pelo trabalho de educar]", contou Hermila sobre sua preparação.
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