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Chef Claude Troisgros se orgulha de reality na TV: "Respeito ao cozinheiro"

Claude Troisgros estreou o reality Mestre do Sabor, na Globo, após comandar várias atrações no GNT - Reprodução/Instagram
Claude Troisgros estreou o reality Mestre do Sabor, na Globo, após comandar várias atrações no GNT Imagem: Reprodução/Instagram

Felipe Pinheiro

Do UOL, em São Paulo

07/11/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Nascido na França, Claude Troisgros completa 40 anos no Brasil em 2019
  • Queridinho dos realities de culinária do GNT, o chef estreou mês passado o programa Mestre do Sabor, na Globo
  • Troisgros vem de uma família com tradição na gastronomia, mas foi no Brasil que ele descobriu uma culinária mais autoral
  • O chef diz que não teve o apoio do pai quando se mudou para o país: "Pedi para ele me emprestar dinheiro e ele se recusou"
  • Ele também afirma que não se vê mais morando na França e comemora a amizade de longa-data com Batista

Claude Troisgros vive uma experiência nova em sua carreira como apresentador desde que estreou há quase um mês na Globo o Mestre do Sabor. Mas para quem gosta de programas de gastronomia, o chef francês, há 40 anos no Brasil, é um velho conhecido. Na TV paga, Claude ajudou a popularizar o gênero desde 2015 com atrações como Que Marravilha!, Chato Pra Comer e The Taste Brasil.

Um dos primeiros chefs a acreditar na força dos realities de culinária no país, Claude afirma que uma das principais contribuições dos programas que surgiram nos últimos anos, na esteira do sucesso do MasterChef, no ar na Band desde 2014, é a valorização da profissão. Mas faz questão de salientar que o seu reality na Globo é diferente.

"O Mestre do Sabor é um programa em que valorizamos a nossa profissão por um lado positivo, em que acolhemos os pequenos produtores, mostramos as receitas tradicionais brasileiras. E fazemos o telespectador entender que o Brasil existe. Não é um programa comprado. É produzido no Brasil. E tem um diferencial pelo respeito ao cozinheiro e ao produto", compara.

Nascido em Roanne, cidade próxima de Lyon, na França, Claude vem de uma família com tradição na gastronomia —em seu livro Histórias, Dicas e Receitas, ele conta que o avô, Jean-Baptiste, foi o responsável por modernizar o serviço à francesa. Mas foi no Brasil, mais precisamente no Rio, que o chef descobriu que poderia desenvolver uma culinária autoral, com ingredientes brasileiros, e ao mesmo tempo fiel às suas origens.

"Visitei os mercados, sai experimentando todos os produtos maravilhosos da terra brasileira e fui adaptando as receitas. Foi um momento de descoberta e muita pesquisa que mudou minha forma de cozinhar", recorda ele, que define a sua culinária como franco-brasileira.

Claude cresceu, literalmente, dentro do restaurante dos pais —os quartos ficavam em cima do estabelecimento—, e diz que nunca sentiu o sobrenome renomado como um peso. Pelo contrário.

"Foi uma ajuda. Meu avô e meu pai me ensinaram a respeitar o sobrenome como ele é reconhecido na gastronomia mundial. Quando decidi seguir a profissão e abrir meu primeiro restaurante no Brasil, o nome sempre foi muito presente e ligado à minha personalidade. Com o tempo, consegui criar um nome próprio. Hoje em dia sou reconhecido como o chef Claude Troisgros. O Claude começou a ser valorizado com o tempo de trabalho", explica.

Mudança para o Brasil: "Se vira"

Claude soube pelo pai que o chef Gaston Lenôtre estava à procura de alguém para trabalhar com ele no Rio de Janeiro. Ele abraçou a oportunidade na hora, mas a relação com o pai ficou estremecida.

"Ele não aceitou. Quando eu decidi ficar no Brasil ele foi bem claro: o teu lugar é em Roanne, junto com o seu irmão Michel. O sonho dele sempre foi fazer uma dupla como ele fez com o irmão dele, Juan Troisgros, que faleceu em 1981. Ele queria renovar essa dupla. Isso não aconteceu com a minha decisão de ficar no Brasil e ele não entendeu".

O cozinheiro não sabe precisar quantos anos ficou rompido com o pai, mas ter conquistado reconhecimento e ter levado o sobrenome da família para lugares bem além da França ajudaram na reaproximação.

Quando pedi para ele me emprestar um dinheiro para começar a minha vida no Brasil, ele se recusou e falou: 'Se vira'. Hoje, 40 anos depois, penso que foi uma coisa boa porque eu consegui me virar. Estou com seis restaurantes, programa de televisão e um reconhecimento nacional importante. Mas naquele momento foi algo complexo para os dois lados. Fiquei chateado de ele não me ajudar. Com o tempo e a abertura do restaurante em Nova York, a relação começou a ficar calorosa de novo

Casamento com o Brasil e o Batista

Batista e Claude Troisgros estão juntos no reality da Globo Mestre do Sabor - Globo/Victor Pollak - Globo/Victor Pollak
Batista e Claude Troisgros estão juntos no reality da Globo Mestre do Sabor
Imagem: Globo/Victor Pollak
Para além da carreira, Claude construiu uma vida no Brasil. Em 2019 ele comemora 10 anos de casamento com Clarisse Sette, que conheceu no GNT quando ela era diretora do canal.

"Foi amor à primeira vista, principalmente pelo meu lado. Conquistei a Clarisse pouco a pouco. Os obstáculos são os mesmos de todo casamento. Somos muito unidos e ela é uma mulher muito compreensiva. É um casamento feliz e que vai durar mais 30 anos", orgulha-se.

Embora tenha o hábito de viajar sempre que a agenda profissional permite, o chef, que acaba de retornar de Portugal, diz se sentir mesmo em casa no Brasil.

"Meu pai fala que nasci no lugar errado. Que devia ter nascido no Brasil. Claro que amo a França, guardo no coração momentos incríveis com a família, mas eu não voltaria a morar lá. Vou pelo menos uma vez por ano visitar meu pai e meus irmãos", afirma.

Claude também ganhou um amigo, quase um irmão, com a mudança de país. O inseparável Batista, figura conhecida do público que acompanha o chef desde o início na TV, está com ele há 38 anos.

Nossa amizade é mais longa do que foram nossos casamentos. A gente se entende no olhar. É uma relação de amizade com respeito e confiança. Eu aprendi muita coisa com ele. Principalmente sobre a região onde ele nasceu. O Batista é essa generosidade e simplicidade que as pessoas veem na TV.