Carioca com Bolsonaro é 'lamentável' e 'deprimente', diz imitador de Dilma
Resumo da notícia
- A sátira de Carioca a Bolsonaro, ao lado do presidente, provocou reações de analistas econômicos e humoristas
- Apoiadores de Bolsonaro compararam a imitação de Carioca à de Dilma Rousseff, feita por Gustavo Mendes
- O humorista chamou o episódio de Carioca de "deprimente" e revelou ter negado convites do governo Dilma
- Hubert, Alexandre Porpetone e João Kleber, que já debocharam de ex-presidentes, também se manifestaram
A presença do humorista Carioca na entrevista de Jair Bolsonaro desagradou não apenas a jornalistas, oposição e analistas econômicos, que esperavam uma resposta mais séria sobre o menor crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em três anos (1,1%). O humorista, fantasiado de presidente e distribuindo bananas aos repórteres, foi comparado a um "fantoche" do chefe do Executivo, provocando questionamentos no universo da comédia.
O UOL procurou humoristas que imitaram presidentes na TV para analisar a postura de Carioca ao lado de Bolsonaro. Gustavo Mendes, famoso por interpretar a ex-presidente Dilma Rousseff no "Zorra Total" (Globo) e no "Agora É Tarde" (Band), definiu a interação como "lamentável" e "deprimente".
"Achei lamentável. O papel do humor, mais do que fazer rir, é fazer pensar. Por isso digo que humor é sempre oposição, independentemente do viés político. Meu alvo sempre foi o opressor. Jamais aceitaria me prestar a um papel desses, pela situação do país. Atravessamos crises terríveis, tanto no governo Dilma quanto agora, no governo Bolsonaro, então acho um desserviço. A população precisa de informação e, à frente das câmeras, oferecem bananas. É tão deprimente que você vê claramente o desconforto do Carioca. Mas esse episódio lamentável não invalida a carreira brilhante dele, porque ele é genial", opina Mendes.
Apoiadores de Bolsonaro compararam a participação de Carioca durante a entrevista coletiva com os encontros de Gustavo Mendes e Dilma. Fantasiado como a ex-presidente, ele a viu apenas uma vez, na Band, após o debate eleitoral de 2014, situação diferente da ocorrida nesta semana, em que o ex-integrante do Pânico utilizou até o carro oficial do governo para imitar o atual chefe do Executivo. Outro encontro, com Gustavo de cara limpa, aconteceu após o impeachment, em setembro de 2016.
"Fui convidado diversas vezes ao Palácio na época da Dilma, mas nunca quis comparecer, porque achava que, se fosse, estaria de certa forma contaminado. Como conseguiria fazer críticas ferrenhas ao governo, como sempre fiz, depois de me tornar amigo dela? Nunca foi um convite para fazer o que Carioca fez, porque ele não fez humor. Quando comecei a imitar a Damares [Alves, atual ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos], fui chamado para conhecê-la e também não aceitei."
Carioca imitou Bolsonaro ao lado do presidente para o "Domingo Espetacular", programa jornalístico dominical da Record, emissora aliada do presidente. Em 2019 (até outubro), a Record recebeu a maior fatia da verba publicitária do governo (42,6%).
"Muita gente diz que [Carioca fez] papel de bobo da corte, e não é bem assim, porque historicamente o bobo da corte dizia verdades ao rei em forma de humor. Ali a gente viu uma tentativa patética de usar um humorista. Eu não condeno o Carioca, acho que ele foi usado, se perdeu ali na questão do poderio. Conheço-o de perto, na época da Dilma tínhamos opiniões parecidas, mas é lamentável. Não o que ele pensa da política, mas o que ele tem se tornado. Acho um desserviço à carreira dele e ao humor brasileiro", critica.
Veja a a opinião de outros humoristas sobre a participação de Carioca durante a entrevista de Bolsonaro:
Hubert, chargista da Folha de S.Paulo e imitador de Fernando Henrique Cardoso e Lula no 'Casseta & Planeta, Urgente!' (Globo):
Eu acho o Carioca ótimo, mas, apesar do talento dele, o melhor imitador do Bolsonaro continua a ser o próprio Bolsonaro. Muito mais caricato, cheio de trejeitos e expressões. Já tivemos encontros com alguns presidentes, mas em situações privadas, como Fernando Henrique e Lula, mas não estávamos fantasiados. Se Carioca fez por razões ideológicas, porque é bolsonarista, é um problema dele. Acho que é da democracia, cada um vota em quem quiser. Não sei se eu faria, só se me pagassem muito bem
Alexandre Porpetone, imitador de Lula, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro em 'A Praça É Nossa' (SBT)
Carioca está certo de fazer a parte dele, mas os repórteres devem ter ficado bem chateados, porque queriam saber coisas sérias para o país e aconteceu aquela palhaçada. O público não levou mais Gustavo Mendes como uma pessoa isenta, porque ele assumiu publicamente que era pró-PT. Carioca sempre se mostrou pró-Bolsonaro. Se você tem proximidade ou amizade, você acaba evitando pegar mais pesado. Se pedissem para eu só falar bem, eu seria marionete, mas se eu pudesse fazer do meu jeito eu faria
João Kleber, humorista, apresentador da RedeTV! e amigo do ex-presidente Fernando Collor de Mello
Encarei como se fosse humor. Carioca é um baita comediante, mas o tempo dirá se isso vai prejudicá-lo. Se o objetivo foi fazer humor, está aprovado, mas se o intuito foi outro... Em nenhum momento misturei amizade com meu trabalho. Satirizei Collor até como Rocky [no 'Ri-Retrospectiva', da Globo, em 1990 e 1991], fui crítico mas não fui grosseiro. Nunca fui questionado por ele. É meu amigo, mas sou profissional
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