'Salvar meio-ambiente não é de esquerda ou direita', diz autor de 'Aruanas'
Quando estreou no Globoplay, em julho de 2019, "Aruanas" chegava no meio de um furacão. O seriado, que tem como principal tema a preservação da Amazônia, surgiu em meio a inúmeras notícias sobre queimadas na floresta e sua crescente destruição. Hoje, a série estreia na Globo, ocupando o horário do "BBB 20", em um outro cenário de desafio global: a pandemia do novo coronavírus.
Para o autor. Marcos Nisti, a defesa do planeta é um assunto que precisa estar acima de ideologias políticas.
A questão ambiental não é um problema de direita ou esquerda. Não é de direita ou de esquerda você querer salvar o meio-ambiente. Não é disso que estamos falando.
"Aruanas" narra a história de Luiza (Leandra Leal), Natalie (Débora Falabella), Verônica (Taís Araújo) e Clara (Thainá Duarte), que integram a ONG que leva o nome da série. Um dos desafios é proteger a floresta da poluição e do desmatamento, sobretudo com a chegada de uma poderosa mineradora, que pretende se impor na Amazônia. A série conta também coma atores como Camila Pitanga, Luiz Carlos Vasconcelos e Vitor Thiré e já foi lançada em 150 países.
A força das ONGs
Estela Renner, co-autora e diretor geral da série, fala que, em um momento de pandemia, a importância das ONGs fica ainda mais evidente. "Pensando no Covid-19, a gente vê ONGs se movimentando com muita força e solidariedade. Onde o Estado não está dando conta de chegar, eles estão chegando. Talvez 'Aruanas' venha complementar tudo isso, trazer mais luz ainda, mas de um lugar diferente."
Emocionada, Estela Renner chora ao falar que o Brasil é um dos países que mais mata ativistas no mundo. "Por que a gente está matando aqueles que protegem o nosso futuro, o futuro dos nossos filhos e das gerações por vir? A gente está em guerra há muito tempo. A Amazônia sofre há mais tempo do que podemos imaginar com desmatamento, e contaminação e genocídio indígena. O homem, em tão pouco tempo, é capaz de um poder de destruição enorme".
Ela também cita uma pesquisa da organização Global Watch, sobre a maioria da população não ter ideias definidas dos conflitos ambientais, e espera que o seriado consiga conversar com esse público.
"Tem aqueles que estão meio em cima do muro, que querem mudar o mundo, que não estão no polo de cá ou de lá. Esse número parece que é muito grande porque eles gritam muito. Tem essa galera do meio, que vai poder sentir essa série com o coração aberto, e é com essas pessoas que a gente quer falar. É muito difícil falar com aqueles que realmente negam a ciência", ressalta ela.
Marcos Nisti acredita que os brasileiros enxergarão as ONGs com outros olhos. "O ar puro não tem fronteira, o mundo inteiro vai sofrer com a devastação da Amazônia. O ativista vive em cima de uma linha, se equilibrando entre a vida e a morte de uma forma grotesca nesse país. Existe uma chance enorme de a gente mostrar que ONGs são organizações montadas por pessoas comuns, fazendo o trabalho delas: defender o todo."
Para ele, a pandemia tende a ser um simulado do que se pode enfrentar com a crise climática.
É muito fácil você negar de trás do computador, mas as ONGs ambientais são formadas por pessoas que tiveram contato e realmente amam a natureza. A gente acha que 'Aruanas' pode mostrar um pouquinho isso aí.
Marcos Nisti reconhece que hoje existem movimentos que negam os desafios enfrentados pelo meio-ambiente, mas garante que ainda não chegaram até a série, algo que pode mudar com sua inclusão na televisão aberta. "Não teve essa questão de negacionista, de terraplanista dizendo que a série não presta. Pode ser que aconteça agora porque a TV aberta muda completamente a percepção e vai para outro público. Vira meio que 'Big Brother': é ama ou odeia. A gente vai para o FlaxFlu agora."
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