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Babu Santana sobre racismo: 'Temos que ter políticas públicas que incluam'

Babu Santana, ator - Christoffer Pixinine
Babu Santana, ator Imagem: Christoffer Pixinine

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/07/2020 20h03

Babu Santana deu uma entrevista para a revista Vogue onde falou sobre como a pandemia do novo coronavírus tem afetado a população negra, especialmente no Brasil.

Segundo o ator e ex-BBB, o racismo estrutural leva a população negra a viver em condições desfavoráveis, o que amplia a chance de se contaminar com uma doença como a covid-19.

"Isto é uma realidade. Na favela há uma grande circulação de pessoas que sequer podem parar de trabalhar. As casas e barracos são colados ou extremamente próximos uns dos outros. Os becos, vielas e travessas também contribuem para que o contato seja maior. Ainda há a dificuldade de acesso a saneamento básico. Em alguns lugares os moradores chegam a ficar até três dias sem uma gota de água na torneira", frisou.

Babu indagou: "Esses fatores explicam muita coisa, percebe? O racismo estrutural nos jogou nestas condições. O que esperamos, verdadeiramente, é que o poder público vá às favelas, olhe para elas. Que aja!", reagiu.

Questionado se pretende entrar no ramo da polícia para defender suas posições, que se tornaram amplamente conhecidas durante sua participação no reality show da Globo neste ano, ele negou a possibilidade. "Estou muito feliz com meus projetos no âmbito da arte. É neles que estou focado e direcionando toda minha energia hoje", destacou.

"A luta antirracista não é algo novo"

Sobre os movimentos negros que emergiram com a morte de George Floyd nos Estados Unidos, Babu diz vê-los como uma necessidade. "Por que, na verdade, a luta antirracista não é algo novo, deste momento. A questão é que agora o racismo é gravado, mostrado aos quatro cantos do mundo. Então parece que agora estamos nos levantando, mas não", afirmou.

"Essa luta é de muitos e muitos anos, desde que um cidadão branco achou que tinha que escravizar um preto. Eu vejo que as manifestações devem existir, mas isso não é e nunca será o suficiente. O caminho para um preto não é simples, cheio de flores ou tranquilidades", complementou.

O ator ainda disse que somente postagens nas redes sociais não bastam. "Temos que ter políticas públicas que incluam, queremos pretos e pretas na política, na ciência, nas artes, mas em papel de destaque, de protagonismo, de liderança. Representatividade é algo que traz um sentimento de existência", refletiu.

Babu também foi questionado sobre o motivo pelo qual o movimento negro brasileiro ainda não conseguiu uma adesão maior na sociedade. "Na verdade, essa é uma questão profunda e que vale evidenciar alguns pontos super importantes. Primeiro, as atitudes só refletem o estopim das pessoas, o quão cansadas estão deste tratamento racista que nunca tem fim", iniciou.

"Historicamente, é importante lembrar, também, que com a abolição as políticas escravistas dos Estados Unidos viraram o que chamamos de segregação social, isto é, em muitos estados americanos os pretos não podiam estudar em algumas escolas, nem tinham direito ao voto, e tão pouco contato com outros bairros e locais que se intitulavam como lugares de brancos", prosseguiu.

"É um grito que não pode ser contido"

Ele então salientou um ponto importante: "Então a consciência dessas pessoas pode estar baseada em: se talvez não agimos dessa forma, como vamos ver alguma melhoria? É um grito que não pode ser contido. Olhando para nós, neste Brasil, não houve uma política que explicitasse uma segregação social, embora seja óbvio que a desigualdade e racismo sempre prevaleceram", disse.

"Por exemplo: um preto ganha menos, ainda que tenha formação igual a do branco. Ainda sobre as manifestações, não dá pra dizer que não manifestamos pelos nossos mortos. Quantas vezes vimos a favela descer? A diferença é que você não vê o morador do asfalto ir lá na entrada da favela apoiar aquelas pessoas", relembrou.

Sobre qual seria o papel das pessoas não-negras no combate ao racismo, Babu foi enfático: "Primeiro de tudo, reconhecer que nunca terão quaisquer dificuldades por conta da cor da pele. E, indo além, é necessário que os brancos mostrem indignação quando não há um preto numa posição de destaque", afirmou.

"É preciso treinar o olhar para ver que existe um problema quando há somente brancos numa mesa de reunião de trabalho. O antirracismo também precisa ser praticado nas redes sociais e no consumo de cultura. Você segue pessoas negras no Instagram? Lê autores ou assiste filmes feitos por negros?", perguntou.

Babu finalizou citando uma frase de Angela Davis, uma das mais famosas ativistas negras do mundo. "Não aceito mais as coisas que não posso mudar, estou mudando as coisas que não posso aceitar".