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Relatório sobre sexo e drogas no BBB recomenda 'censura' de 12 anos

Cena envolvendo Petrix e Bianca foi usada no relatório - Reprodução/Globoplay
Cena envolvendo Petrix e Bianca foi usada no relatório Imagem: Reprodução/Globoplay

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

15/08/2020 16h10

Um relatório do Ministério da Justiça que analisou capítulos do reality show Big Brother Brasil (BBB), como as cenas de sexo e consumo de drogas lícitas, recomendou que o programa permaneça com classificação indicativa de 12 anos.

O documento chamou a atenção porque descreveu e avaliou vários detalhes dos episódios em que os participantes ficam confinados numa casa, às vezes só em roupas íntimas ou de piscina. Descreve ainda quando os brothers "rebolam até o chão" na batida de uma música de Anitta ou falam palavrões, mas também narra cenas aparente de assédio sexual.

"Considerando o relatório técnico apresentado, a descrição fática, as tendências de indicação e os aspectos temáticos, contextuais e informativos, opino pela atribuição de classificação indicativa de: 'Não recomendado para menores de 12 anos, por conter drogas lícitas e linguagem imprópria'", escreveu a coordenadora de Política de Classificação Indicativa do Ministério Patrícia Grassi.

"Recomenda-se sua exibição a partir das 20:00 horas", continuou ela, no parecer 66/2020.

Ela fez a recomendação baseada no trabalho de analistas técnicos do Ministério, que analisaram possíveis situações de assédio, consumo de drogas lícitas, como álcool e cigarros, violência, preconceito, angústia, obscenidade, linguagem depreciativa, agressão verbal, sexo, nudez, entre outras.

O assédio sexual frequente recomenda classificação indicativa de pelo menos 12 anos, segundo as normas do Ministério. "O assédio sexual foi identificado em algumas ocasiões", narra um analista do MJ. "Na primeira, Petrix se oferece para estalar as costas de Bianca em uma festa e acaba encostado no seio dela. O rapaz, em seguida, balança o corpo da mulher, que está visivelmente embriagada. Não fica clara a intenção de Petrix em assediar a garota, mas a cena traz um certo desconforto e constrangimento com o ocorrido."

Houve outra situação. "Em outro momento, Pyong tenta beijar e agarrar Marcela, que o empurra e se defende. Ainda na mesma noite, o mesmo [sic] aperta as nádegas de Flayslane rapidamente enquanto conversam. Após todas as situações, as mulheres foram chamadas ao confessionário pela produção, com o intuito de depor sobre as ocorrências. Todas negam e desmentem a malícia das acusações." O analista disse que essa "tendência" foi minorada. "Portanto, a tendência é atenuada por contraponto."

Classificação indicativa vem desde era PT

A classificação indicativa de programas de TV não é uma invenção da gestão de Jair Bolsonaro (sem partido), cujo Ministério da Justiça está em foco depois que relatórios com lista de adversários políticos passaram a ser produzidos pela pasta. Desde a era PSDB e PT, nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério analisa programas de TV, jogos de videogame e filmes e recomenda às famílias a idade mínima para assistir às peças.

"Isso sempre foi confusão", disse um ex-servidor do Ministério ao UOL neste sábado (15), ao comentar o caso do BBB. "É vespeiro. Em classificação de novela, a Globo vinha para cima." Ele pediu anonimato.

Novelas, filmes, vídeos domésticos (DVDs) ou por demanda (VOD), jogos eletrônicos e de RPG e aplicativos... tudo tem que ser analisado pelo Ministério da Justiça para receber o selo com à recomendação de idade de consumo. A decisão de assistir ou não é dos pais da criança.

"A classificação indicativa é uma recomendação e não restringe o conteúdo a ser veiculado (censura)", informou a assessoria do Ministério da Justiça ao UOL, hoje. "A livre expressão e a liberdade artísticas são intrínsecas à produção de obras de televisão, cinema, aplicativos e jogos de RPG. Cabe estritamente aos canais de veiculação escolher o que será transmitido."

A pasta destacou que desde 1988, a Constituição prevê a classificação indicativa e que isso faz parte do sistema de proteção de crianças e adolescentes. "Consiste em informação aos pais e responsáveis acerca do conteúdo que não é recomendado a determinadas faixas etárias"

Música de Anitta faz "rebolar até o chão", anota analista

Em outra cena, foram identificados "apelo sexual", "linguagem chula" e "de conteúdo sexual". "Ao perceberem o início de uma música de que gostam, alguns participantes se levantam e começam a gritar, entusiasmados, quando alguém solta um termo chulo, que é censurado", escrevem os analistas do governo.

"Trata-se de uma música de Anitta que fala de forma artística de uma situação sexual e cuja batida incentiva os brothers a dançarem de forma provocante e sensualizada, rebolando e indo até o chão."

A linguagem chula foi o destaque na avaliação dos analistas do Ministério da Justiça. "A linguagem chula foi a tendência de maior destaque ao longo dos capítulos exibidos", iniciaram. "Ela foi executada em diversas ocasiões pela maioria dos participantes." Algumas vezes, a produção do BBB bloqueava os palavrões com efeitos sonoros. Mas, ao vivo, isso é impossível.

"Em alguns casos, os participantes proferem termos chulos ao vivo e estes não contam com a edição do programa para amenizá-los. (... Devido à sua alta incidência e constante apresentação, ela ainda é agravada por frequência."

O Ministério da Justiça afirmou que a portaria de classificação do BBB-20 foi publicada em 16 de março de 2020. "Cada temporada do BBB recebe a indicação etária individualmente", explicou a assessoria. A edição deste ano e a do ano passado foram classificadas como não recomendadas para menores de 12 anos.