Influencer é investigada após citar 'monte de macumba'; ela se retrata
A Polícia Civil de Aracaju (SE) instaurou um inquérito para investigar uma influenciadora digital por suspeita de intolerância religiosa. Dona de uma conta no Instagram com mais de 300 mil seguidores, Sheilla Raquel divulgou no último domingo (13) um vídeo em que diz ter se deparado com um "monte de macumba", termo pejorativo para se referir a oferendas — ritual praticado no candomblé e na umbanda.
"Aqui na pista, um monte de macumba, véi. Tá repreendido, em nome de Jesus. Queima, senhor. Joga alfazema. É sério. Em cada esquina... porque diz que tem botar na esquina, né? Eu, hein, tá repreendido, em nome de Jesus. Queima, senhor", diz ela na gravação que já foi deletada de sua página.
Criticada nas redes sociais, a influencer decidiu se retratar após a repercussão do caso. Em um novo vídeo, publicado hoje, ela aparece ao lado de uma ialorixá, diante de quem pede desculpas pelas ofensas ao povo de santo. Dizendo-se arrependida, ela afirma reconhecer que houve "ignorância" em sua fala.
Apesar do mea-culpa, a influencer terá que prestar esclarecimentos à Dachri (Delegacia de Atendimento a Crimes Homofóbicos, Racismo e Intolerância Religiosa), informou ao UOL a delegada Meire Mansuet, titular da unidade. "O inquérito policial vai continuar e, quando concluído, será enviado a Justiça", declarou Manuset.
O depoimento de Sheilla Raquel será na próxima terça-feira (22). O UOL enviou um pedido de entrevista para o e-mail da influencer. Não houve resposta até a publicação desta reportagem.
Também serão ouvidos na delegacia representantes de instituições de religiões de matriz africana e religiosos que se sentiram vítimas de racismo religioso. A delegada explica que o crime de intolerância religiosa está previsto na Lei 7.716/89, que define os delitos resultantes de preconceito de raça ou de cor. A pena prevista é de dois a cinco anos de prisão.
"Nesse caso específico, houve a pática da discriminação com conteúdo de religiosidade. A internet e as redes sociais não são terra sem lei. As pessoas têm que ter muito cuidado com o que publicam, com o que divulgam e assumir as consequências dos seus atos", assinalou.
"Na Lei 7716/89 já existe a previsão no parágrafo segundo, do artigo 20, que todos os crimes praticados através dos meios de comunicação ou qualquer tipo de publicação sejam punidos de forma muito severa. Nós estamos investigando de forma rigorosa para que o Judiciário possa punir essas pessoas", acrescentou a delegada.
"Ignorância na minha fala"
Sentada diante da ialorixá Mãe Jô de Ogum, dona de um centro de umbanda na capital sergipana, Sheilla Raquel contou que foi até o local a convite de uma seguidora. No pedido desculpas ao povo de santo, a influencer agradeceu à líder religiosa por recebê-la e disse que usaria seu espaço nas redes sociais para informar algo que ela diz ser um desconhecimento da maioria da população.
"Eu estou aqui hoje no terreiro da mãe Jô, que abriu as portas para mim através de uma filha aqui da casa, que é minha seguidora, se sensibilizou com tudo que eu estava vivendo e fez um post no Instagram dela. Ali eu pude ver muito amor e coerência dentro da religião. Mãe Jô disse que as portas estariam abertas, tanto para mim quanto pra vocês. O vídeo foi muito polêmico, no qual eu me refiro às oferendas como macumba, sendo algo ruim, e a oferenda não é [algo ruim]. A oferenda é uma manifestação da religião", relata a jovem no vídeo.
"É um conhecimento que eu não tinha. É ignorância pura na minha fala. Eu quero me dirigir às pessoas as quais eu ofendi e magoei. Eu sinto muito. Na minha fala é perceptível a falta de conhecimento, a minha ignorância. Eu quero dizer que eu jamais queria magoar. Sou uma pessoa totalmente desprovida de qualquer preconceito", admitiu Sheilla Raquel.
Para Mãe Jô, embora sejam ofensivas de fato, as palavras usadas pela influencer reforçam a visão equivocada que muita gente ainda tem sobre as religiões afrobrasileiras.
"A minha sabedoria e ensinamentos passo para essa menina, que usou palavras sem querer ofender [mas] ofendendo. Eu disse que minha casa e meus braços estariam abertos para mostrar a ela o que é um trabalho na rua. Como ela viu em cada esquina, não é bem a palavra macumba. É um trabalho, é uma coisa que se faz por tratamento. É uma oferenda que se dá a um escravo. É uma abertura de caminho, é um pedido. É algo que se tem sempre que se agradecer em determinado lugar. Então o que você viu foi isso", explicou a ialorixá.
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