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Doadora de leite xingada por Danilo Gentili comemora vitória na Justiça

Michele Maximino é uma das maiores doadoras de leite humano do Brasil - Divulgação
Michele Maximino é uma das maiores doadoras de leite humano do Brasil Imagem: Divulgação

Aliny Gama e Luiza Missi

No Recife e em São Paulo

01/02/2021 21h55

O apresentador de televisão Danilo Gentili Junior, o humorista Marcelo Mansfield e a rede de rádio e televisão Bandeirantes foram condenados a pagar R$ 80 mil de indenização por danos morais à técnica de enfermagem pernambucana Michele Rafaela Maximino, 39, que foi alvo de comentários obscenos durante o programa "Agora É Tarde", no ano de 2013.

Gentili comentou o assunto ofendendo a doadora de leite — envergonhada, ela teve de se mudar com os três filhos e o marido de Quipapá (PE), região Agreste, para o Recife.

Maximino é uma das maiores doadoras de leite humano do Brasil. A contabilização do excesso de leite doado começou a ser feita no nascimento da terceira filha do casal, em 2013, quando a técnica de enfermagem conseguiu doar 480 litros de leite à maternidade Jesus Nazareno. Ela e o marido, Ederval Trajano, têm quatro filhos, de 21 anos, 10 anos, 8 anos e 11 meses de idade. O bebê completará um ano no próximo dia 4 e ainda mama.

Os réus haviam sido condenados a pagar R$ 200 mil de indenização pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco e recorreram da decisão. O processo ficou parado desde o dia 27 de agosto de 2019. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) minorou o valor da indenização de R$ 200 mil para R$ 80 mil e estipulou a atualização de 1% por mês, a contar de outubro de 2013, data de exibição do programa em que ocorreram as ofensas. Agora, não há mais como os réus recorrerem da decisão judicial.

O provimento do recurso impetrado pelos réus foi negado, por unanimidade, pelos membros do STJ, seguindo o voto do relator do processo, ministro Jorge Mussi. O caso foi transitado em julgado no dia 16 de dezembro de 2020, mas só foi publicado no diário eletrônico no último dia 28 de janeiro.

No total, os réus foram condenados a pagar R$ 187 mil, além de uma multa de R$ 25 mil por atraso no pagamento dos honorários advocatícios.

"O que puderam fazer para protelar, fizeram e recorreram. Entraram com recurso especial, recursos internos e fomos contestando. Quando não puderam mais recorrer, pagaram. O caso transitou em julgado com o cumprimento de sentença definitiva. O que ele falou foram termos pejorativos, o contexto foi muito mais que chamar Michele de vaca, com cunho sexual com o Kid Bengala. Ainda hoje não caiu a ficha que ele está errado porque ele se diz vítima. Podia cair em si, mas se acha certo, o que é pior", explicou o advogado Claudio Lino.

"Graças a Deus que isso chegou ao fim. Michele está feliz, tanto com o fim da causa quanto o novo começo. Precisamos de um banco de coleta de leite na cidade porque tem muita gente que tem excesso de leite aqui no município e acaba jogando fora porque não tem condições de pegar um carro, como eu tinha, de ir três vezes por semana levar o leite até Caruaru, para doar o leite na maternidade Jesus Nazareno", contou o marido de Michele, que é professor do estado.

Mãe de quatro filhos, Michele Rafaela Maximino ficou conhecida em todo Brasil em 2013 pela quantidade de leite humano produzido em excesso e doado para bebês prematuros. O caso ganhou repercussão e Danilo Gentili acabou xingando a doadora de leite. Envergonhada com a situação, pois os moradores de Quipapá a reconheciam pelos xingamentos feitos pelo apresentador, a família decidiu se mudar para o Recife. Em 2019, eles retornaram a Quipapá. Logo após, veio a surpresa para a família: Maximino ficou grávida pela quarta vez.

No ano passado, ela deu à luz ao quarto filho e logo ocorreu produção de leite humano em excesso. A família estima que ela doou até agora 1.300 litros, no total, sendo para o Imip (Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira), localizado no Recife, a maternidade Jesus Nazareno, em Caruaru, e três bebês em Quipapá. Apesar do excesso de leite produzido, Maximino não quis registrar o feito no Guinness World Records.

"Ela doou leite para o hospital Bandeira Filho, para o Imip, para a maternidade do hospital Agamenon Magalhães e hospital das Clínicas, todos no Recife. Só para Caruaru foram 1.019 litros de leite. Ela também fez doação para três crianças que as mães tiveram problemas de saúde. Foram 16 litros para um bebê que a mãe morreu de covid-19, outros 30 litros para o filho de uma mulher que teve dois AVCs e 40 litros para outro bebê que a mãe morreu de covid-19. Essas doações não entram na contabilidade, mas juntando tudo ela está próxima de 1.300 litros de leite doados", conta Ederval Trajano.

No maior período de produção de leite, ela produz em excesso três litros de leite por dia, além da amamentação dos filhos. Para dar conta da produção toda, a mulher ingere cerca de sete litros de líquido por dia, como água e suco, pois sente muita sede. "Se ela não tirar o leite em excesso, adoece, dá mastite", relata Trajano. O marido de Maximino destaca que já foram realizados exames na hipófise dela para descobrir o motivo do excesso de produção de leite, mas não há nenhum problema de saúde.

Como em Quipapá não existe banco de leite ou de coleta, no terceiro filho do casal, Trajano viajava três vezes por semana para Caruaru (PE), a 70km de Quipapá, onde fica localizado o banco de leite mais próximo para levar a produção de leite em excesso para ser doada. O mesmo aconteceu no quarto filho. Quipapá tem população estimada em 26.175 habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e não possui banco de leite ou coleta, segundo o governo do estado, porque não há demanda suficiente. Quem produz em excesso e quer doar precisa viajar 69km para levar o líquido para o banco de leite em Caruaru.

A Band informou que não comenta processos judiciais. O UOL tenta o posicionamento de Danilo Gentili, mas até a publicação deste texto ele não retornou o contato.