Jean Wyllys explica motivo de não querer fama pós-BBB e ir para a política
O professor, escritor, ativista político e campeão do "BBB 5" (TV Globo), Jean Wyllys, explicou no podcast "Efeito Tsunami", de Andréa Alves, o motivo de não ter optado pela fama após o reality e ter dito "sim" à militância e à vida política.
"Sempre fico um pouco constrangido, envergonhado, com a coisa da leitura do currículo. Eu não sei lidar com o elogio, sabe? Que coisa curiosa. Fiquei sem graça com você lendo o meu currículo (risos). Ele é mérito da minha mãe (Nalva), da igreja católica, das professoras que cruzaram meu caminho e viram meu potencial. Desde muito pequeno eu desperto o interesse das minhas professoras por ser um garoto diferente. Não só porque atravessava essas fronteiras de gênero, mas também porque eu era muito inteligente e sensível. Elas prestavam atenção em mim (...) Mas esse sou eu, essa pessoa que ao mesmo tempo é uma pessoa destemida e segura do que quer fazer, não tem muito medo do julgamento, das avaliações. Por isso, corro riscos que para mim são importantes correr. No início da minha carreira acadêmica e também na curva ascendente do meu prestígio como jornalista na Bahia decidi me inscrever no 'BBB'. Correndo todos os riscos", disse ele, que atualmente, mora em Barcelona, na Espanha.
"No auge da popularidade do 'BBB', eu decidi dizer 'não' a isso e bancar uma postura de um ativista que eu era sempre. Ou seja: recuperar meu passado ativista e enfrentar essa popularidade, não ceder a essa popularidade. Esse sou eu. E acredito que serei sempre. É esse interesse por conhecer, por saber, por me compreender. Por compreender a vida humana, a subjetividade", analisou.
Wyllys ainda explicou o motivo de ter se inscrito no reality global:
"Claro que o capitalismo e, sobretudo, o capitalismo na sua face mais perversa, que é o neoliberalismo, tende a tratar as pessoas como porcos ou como escravos a quem se nega o direito à experiência do belo, a fruição estética. E num país continental como o Brasil, superpopuloso, com muita gente pobre, com concentração de renda muito grande, com a escola e um sistema de educação pública deficitária, a televisão cumpre um papel", apontou Jean, que continuou:
"Nós, seres humanos, gostamos de histórias, gostamos de contar histórias. Somos seres que fabulamos, para usar as palavras de Umberto Eco, escritor italiano. Então, a Globo entendeu isso. E as telenovelas, o folhetim... Mas os folhetins eram elitistas porque demandavam que a pessoa lesse, soubesse ler. E num país de muitos analfabetos a telenovela não demandava leitura. Essa é a minha compreensão. E essa compreensão minha vem do fato de que venho daí. Eu venho daí. Sempre tive uma fome maior e busquei matar essa fome. E aí eu entendo inclusive como isso impacta na gente, que está do lado de lá. Sem paternalismos e sem folclore, né? Porque tem um certo folclore na glamourização da pobreza. Não glamurizo a pobreza mas sei o quanto ela pode resistir e produzir bens simbólicos".
Jean Wyllys revelou quais eram seus sonhos quando criança e contou que sempre teve, dentro de si, a vontade de explorar novos caminhos além da Bahia:
"Engraçado... Eu sempre tive uma coisa interna minha de que eu não ia ficar na cidade, de que eu sairia. Tinha o sonho de ser escritor e me tornei escritor. Não da maneira que eu esperava me tornar. Me tornei escritor com uma relação ligada à fama , à imagem. Depois meus sonhos de menino, de justiça, estava desde cedo ligados a isso. Olha: é tão cruel a pessoa desejar uma coisa e não ter condições de ter. Da coisa mais simples, que é comer, desejar comer e não ter garantia de comida, até a vontade de ter um lápis de cor na escola, que eu não tinha. Essas duas fomes se engendraram juntas. E elas não vão parar porque o mundo é incorrigível", finalizou.
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