Mario Frias usa fala racista e sugere 'banho' a historiador negro
Do UOL, em São Paulo
15/07/2021 14h22Atualizada em 16/07/2021 09h23
O secretário especial de Cultura, Mario Frias, fez uma comparação racista ao dizer que o historiador negro Jones Manoel "precisa de um bom banho".
A fala foi feita via Twitter após o militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e podcaster, que abertamente é crítico do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), usar as redes sociais para dizer que "já tinha comprado fogos" com a notícia de que o presidente seria transferido do Distrito Federal a São Paulo.
A plataforma removeu a postagem por violar as regras. Em nota ao UOL, o Twitter que "tem regras que determinam os conteúdos e comportamentos permitidos na plataforma, e violações a essas regras estão sujeitas às medidas cabíveis".
Bolsonaro foi internado. Já comprei fogos.
-- Jones Manoel - Youtube: Jones Manoel (@_makavelijones) July 14, 2021
Tão deixando a gente sonhar...
Ocupando cargo no governo federal, Mario Frias respondeu a uma publicação de um assessor especial da presidência, que compartilhou a notícia dada pelo site Brasil 247.
Frias disse que não conhecia quem era Jones Manoel — que tem mais de 130 mil seguidores no Twitter e no Instagram, e um perfil no YouTube, no qual discute história com 165 mil inscritos — e atribuiu a cor do youtuber com a falta de limpeza.
Realmente eu não sei. Mas se eu soubesse diria que ele precisa de um bom banho.
O comunista respondeu ao comentário nas próprias redes sociais:
Olha o ex-ator frustrado e atual fascista cometendo um crime de racismo diário.
Olha o ex-ator frustrado e atual fascista cometendo um crime de racismo diário. https://t.co/6Jj49oK3JT
-- Jones Manoel - Youtube: Jones Manoel (@_makavelijones) July 15, 2021
Em outra publicação, ele citou o rapper Djonga com um trecho da música "Junho de 64".
Tive que ouvir que eu tava errado por falar pro 'cês' que seu povo me lembra Hitler, carregam tradições escravocratas e não aguentam ver um preto líder.
Momentos depois de fazer o comentário, o secretário compartilhou uma imagem de Marcelo Magalhães, secretário de Esportes, que é negro, sobre a tramitação da MP (Medida Provisória) do mandante no futebol brasileiro, assinada por Bolsonaro.
Ele ainda compartilhou publicações de Sérgio Camargo, presidente da Fundação Cultural Palmares que é criticado por falta de políticas à população negra e menosprezar o racismo.
Ano passado, Sérgio liderou ataques virtuais contra o cabelo afro. Ainda assim, Mario Frias usou a publicação como uma forma de mostrar que não é racista só pelo fato de Sérgio ser negro — mesmo com as controvérsias da sua política de ataque à cultura negra.
Se alguém disser algo do cabelo Black Power dele, o mundo vem abaixo. Mas tudo bem ele desejar a morte de Jair Bolsonaro.
-- Sérgio Camargo (@sergiodireita1) July 15, 2021
Entendem por que digo que a cor da pele não importa, assim como cabelo? O sujeito é preto, porém um lixo como ser humano. Não tem caráter nem decência moral! pic.twitter.com/lugg06jksO
Com a repercussão, influencers e ativistas criticaram a fala racista de Mario Frias. Um deles foi Bruno Kanela, liderança indígena do Distrito Federal do povo Kanela do Araguaia.
Mario Frias perguntou o que Bruno iria fazer após o líder indígena exigir respeito com a população negra.
Quero ver se tem peito pra ser racista perto da gente vamos mostrar pra você um banho de civilidade e respeito sobre corpos negros.
Que mais você vai fazer rapaz???
-- MarioFrias (@mfriasoficial) July 15, 2021
Na sequência, o secretário tentou se explicar e disse não ser racista. "Toda pessoa suja precisa tomar banho e não existe pessoa mais suja do que aquela que deseja e celebra a morte de um Chefe de Estado democraticamente eleito enquanto louva um genocida como Stalin."
"Não venham tentar ofuscar a gravidade dos ataques ao presidente chamando de racista quem sempre repudiou o racismo."
Não venham tentar ofuscar a gravidade dos ataques ao PR chamando de racista quem sempre repudiou o racismo.
-- MarioFrias (@mfriasoficial) July 15, 2021
Jones respondeu a mensagem de Frias e ainda justificou por que não deseja nada de bom ao presidente.
"Não sou obrigado a ter empatia com fascista e genocida. Bolsonaro opera a morte do povo brasileiro. Debochou inúmeros vezes das milhares de mortes na pandemia. Ele e seus aliados estão há meses fazendo graça com milhares de mortes. Não desejo nada de bom para esse fascista."
Não sou obrigado a ter empatia com fascista e genocida. Bolsonaro opera a morte do povo brasileiro. Debochou inúmeros vezes das milhares de mortes na pandemia. Ele e seus aliados estão há meses fazendo graça com milhares de mortes. Não desejo nada de bom para esse fascista.
-- Jones Manoel - Youtube: Jones Manoel (@_makavelijones) July 15, 2021
Outra polêmica
Nessa semana, Mario Frias já havia sido criticado por impedir que um festival de jazz, ritmo que tem relação direta com a cultura negra da black music, da Bahia, estado em que um a cada cinco se declara como preto — segundo dados de 2018 da PNAD Contínua —, captasse recurso para sua realização via Lei Rouanet pela Funarte (Fundação Nacional das Artes).
O órgão alegou que o evento, que acontece na Chapada Diamantina, poderia incentivar o uso errado do recurso público.
Em 1º de junho do ano passado, o Festival de Jazz do Capão publicou no Facebook uma imagem se declarando "antifascista e pela democracia". A postagem antiga foi apontada pelo parecer como uma das motivações de ele ter sido negativo.
O escritor Paulo Coelho e a mulher, a artista plástica Christina Oticica, se ofereceram para cobrir os gastos do Festival de Jazz do Capão.
A Fundação Coelho & Oiticica se oferece para cobrir os gastos do Festival do Capão, solicitados via Lei Rouanet (R$ 145,000) Entrem em contato via DM pedindo a alguém que sigo aqui que me transmita
-- Paulo Coelho (@paulocoelho) July 14, 2021
Única condição: que seja antifascista e pela democracia pic.twitter.com/YUOAaWg1l5
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