Pocah chora ao relembrar agressão: 'Tinha medo de morrer'
A cantora Pocah se emocionou ao relembrar a agressão que sofreu do ex-companheiro no passado, quando estava grávida. A ex-BBB 21 chegou a chorar ao final do relato, agradecendo a oportunidade de contar sua história.
"Eu vivi muitos anos com essa pessoa e eu comecei a namorar muito nova. Esse relacionamento, ele é completamente conturbado, era infernal pra mim e pra quem estivesse ao meu redor. Minha família, meus amigos, era terrível e eu via o quanto era tóxico e as pessoas falavam o quanto. Eu tentava de todas as formas me livrar daquilo", desabafou a cantora durante o "Papo de Segunda" (GNT) de hoje.
"Havia agressões físicas, verbais e psicológicas, manipulação, meu temor a Deus. Sou uma pessoa que tenho uma ligação com Deus muito grande e essa pessoa usava a minha fé", continuou a cantora, contando que o ex-companheiro afirmava estar possuído pelo diabo ao traí-lo.
"Eu dizia: O que você fez comigo? Eu quase fiquei cega do olho esquerdo'. Era pesado. Em diversos momentos fui agredida, queria ir embora e ele dizia que estava sendo usado pelo diabo e que aquilo era o testemunho da nossa vida e que a gente iria contar isso como uma vitória", relatou.
Eu perdoei uma vez, perdoei duas vezes, três vezes e muito mais. Sabe por que? Porque eu tinha medo das ameaças que eu recebia. Tinha medo de morrer em diversos momentos em meio a essas brigas, achei que eu fosse morrer. A sensação que eu tinha é que eu já tava morrendo".
O início
Pocah relatou como aconteceu o início das agressões.
"Começou com gritos, começou com abuso das minhas amizades. Ai, fulana não presta. Começava a colocar defeito nas minhas amizades. Essa roupa, tá muito curta. Roupa de p**ta. Começa assim, e você tem que se atentar aos sinais. Isso são sinais. Relacionamento muito das vezes você tem que ceder, mas quando infringe os seus direitos... É muito difícil falar disso. Você não tem que deixar de ser quem você é pra agradar outra pessoa".
A cantora relatou ainda como encontrou forças para se libertar desta situação: "A partir do momento em que minha filha nasceu. Até ela nascer, era terrível, chute, fui parar no hospital. Quando ela nasceu, eu falei: 'Eu tenho que mudar isso. Eu não admito mais manter isso aqui ou eu vou morrer e a minha filha depende de mim, não posso deixar minha filha na mão desse cara'".
Eu, determinada, após descobrir uma traição recente, fui pra casa da minha mãe, falei pra ela dizer que eu não estava e simplesmente desapareci. Ele ficava indo atrás, ameaçando. E teve outra questão que é contratual, a gente era sócio na época. Eu tinha provas de roubos, traições, tudo aquilo. E falei pra ele seguir a vida dele ou eu ia colocar na cadeia. Porque eu não acreditava mais na lei".
Ela continuou, explicando porque estava descrente com a polícia:
"Eu chamei a polícia e o poder dele na região era tanto que ninguém quis me ouvir. Apertaram a mão e tá tudo bem".
Necessidade de falar
A quinta colocada do "BBB 21" ressaltou a importância de falar sobre um assunto tão doloroso e íntimo.
"Quando eu me libertei disso, foi com relatos. Eu lia muito relatos de mulheres que sofreram e deram a volta por cima. A primeira vez que falei disso eu senti que muitas dessas mulheres que sofrem, elas veem uma oportunidade de mudar de vida quando alguém diz que conseguiu. Eu queria usar esse meu testemunho para dizer que elas não estão sozinhas".
Ela exaltou ainda a Lei Maria da Penha, usada para proteger mulheres de agressões domésticas.
"A Lei é uma das principais do mundo sobre a violência contra a mulher. Eu não tive a mesma oportunidade. Na época, eu poderia ter lutado mais. Eu desisti muito fácil. Então eu sou a favor de denunciar. Não foi escutada o suficiente? Vai pra internet, posta, tira foto, joga na internet porque assim vai tomar uma proporção maior. Sou a favor de expor mesmo, não ter pena. Porque na hora de te bater, te silenciar, ninguém teve pena".
Ela voltou a se emocionar ao falar sobre o assunto.
"É muito difícil pra mim falar sobre isso. Mas é muito necessário. Meu intuito é ajudar outras mulheres. Hoje eu tô aqui, hoje eu posso dar o meu relato, mas muitas mulheres nesse momento não podem. Muitas mulheres nesse momento podem estar sendo agredidas, mortas".
Pessoas ao redor
Pocah revelou que as pessoas próximas a ela viam as agressões, mas nada fizeram.
Eu vivia num quintal onde moravam muitas pessoas. Elas me viram ser arrastada pelo cabelo no chão, tomei cuspida na cara e tudo por descobrir traição. Por eu tentar ir embora, eu sofria essas coisas. Essas pessoas viam tudo e quando ele colocou o dedo na minha cara e quase me cegou, meu olho sangrava muito. E a mãe dele dizia pra ele não me levar no hospital porque eu ia jogar ele na cadeia. E eu ver uma mulher que também já sofreu disso ficar a favor..."
"Se fosse meu filho, eu mesmo faria questão de dizer que ele seria meu desgosto. Eu tenho uma filha mulher e não quero nunca que ela passe um terço da humilhação que eu passei. A minha luta é por mim, pela minha filha, por todas as mulheres que sofrem, são silenciadas, abusadas, que tem sua liberdade privada. Essa é minha luta diária. Não é pra me olharem, ai que coitadinha. Não, eu sou uma mulher foda, sou incrível e eu consegui vencer isso. Achei que ia morrer diversas vezes, mas eu tô aqui. Se eu consegui, você também pode", desabafou a cantora.
Segunda chance?
A cantora falou sobre a possibilidade de um agressor receber uma segunda chance.
"Eu acho que todo mundo merece uma segunda chance, mas eu não sou a favor da mulher ser agredida e continuar com a pessoa. Cada pessoa é de um jeito. Não vou generalizar e dizer que não tem jeito, é impossível. Cada caso é um caso. Porém, a minha experiência foi totalmente negativa. A chance do agressor é continuar vivo. Porque os traumas que uma mulher carrega de uma agressão, uma violência, é eterno. Quem bate esquece, mas vai ter que pagar por aquilo que fez."
Eu era muito nova, uma menina muito nova. Estava embarcando em uma carreira musical, um relacionamento abusivo. Eu perdoei diversas vezes, mas eu perdoava por medo. Tinha medo de morrer, de fazerem algo com a minha família. Eu era ameaçada. Nunca diga pra vítima, 'por que continuou? Por que não denunciou?'. Só ela sabe".
Emoção ao final
Ao final do assunto, Pocah não conseguiu controlar a emoção e chorou ao agradecer pela oportunidade de falar sobre sua experiência.
"Não tem como eu me isentar e deixar de usar isso pra salvar vidas assim como a minha vida foi salva. É muito difícil. Não tô aqui pra fazer uma cena porque é algo muito real, que muitas mulheres sofrem demais. E isso que vocês tão fazendo aqui... Vocês são quatro homens e estão prestando atenção, buscando saber, entender. Acho que que estar aqui e falar, contar minha experiência, é muito importante. Mas isso que vocês estão dando abertura também é. Eu agradeço de verdade pelo interesse e por estarem nos ajudando a dar voz ao que realmente importante".
É difícil sentar aqui e tocar em feridas profundas, as piores e mais profundas que eu tenho. Eu gostaria que eu não tivesse vivido isso. Gostaria que não tivesse passado um terço do que passei. Gostaria que nenhuma mulher sofresse o que eu sofri. E eu nunca vou deixar de lutar, de usar minha voz, de usar minha música.
"Minha música, que tratam como futilidade, que taxam como coisa negativa. Minha música já transformou muitas vidas. Quando eu falo 'ninguém manda nessa raba', quando eu digo que sou uma mulher livre, que eu sou dona da minha vida, que eu gostaria que todas as mulheres fossem donas de si, sem submissão. Isso não é futilidade, gente. É querer liberdade pra todas as mulheres. Por isso que eu canto e nunca vou deixar de cantar. Eu canto sobre a liberdade feminina, sobre o poder da mulher. Não é fácil ser mulher", finalizou a cantora, emocionada.
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