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Miss Brasil Mundo tem 1ª mulher trans na disputa: 'Pensava ser impossível'

Rayka Vieira, de 26 anos, é a Miss Centro-Goiano e disputa final do Miss Brasil Mundo nesta quinta (19) - Reprodução/ Arquivo pessoal
Rayka Vieira, de 26 anos, é a Miss Centro-Goiano e disputa final do Miss Brasil Mundo nesta quinta (19) Imagem: Reprodução/ Arquivo pessoal

Caio Santana

Do UOL, em São Paulo

19/08/2021 04h00

Rayka Vieira, de 26 anos, é a atual Miss Centro-goiano e disputa hoje a 61ª edição do concurso de beleza Miss Brasil Mundo. Natural de Anápolis (GO), de família simples e com pai ausente, a modelo recebeu apoio da mãe durante toda sua trajetória. Primeira mulher trans a disputar um concurso nacional de beleza no Brasil, que leva aos maiores concursos internacionais dentre diversas franquias, Rayka iniciou o sonho de miss aos 18 anos.

"Pensava ser algo impossível, mas hoje estou aqui", comemora, em entrevista concedida ao UOL. Fazendo história, ela quer ir além: ser a primeira mulher trans a chegar ao Miss Mundo, mais antigo concurso do planeta com cerca de 120 países franqueados, que será realizado no dia 16 de dezembro, em Porto Rico.

Concorrente do Miss Universo e com foco em ações sociais, o Miss Mundo tem como lema "Beleza com propósito" e é hoje uma das maiores audiências televisivas do planeta, com quase 2,5 bilhões de pessoas assistindo à transmissão, segundo a organização. O projeto social de Rayka, parte da sua importante preparação, se chama "Orgulho Pelo Bem".

"É um projeto que começou agora, como uma formiguinha. Por conta da pandemia, tivemos dificuldade. Procuramos jovens da comunidade [LGBTQIA+], que precisam de oportunidade, que tenham interesse em se profissionalizar de alguma forma", explica a modelo. Seu objetivo é levar profissionalização principalmente para mulheres transexuais, como ela.

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Rayka Vieira, Miss Centro-goiano, quer levar a coroa de Miss Brasil Mundo e ir ao Miss Mundo, em dezembro
Imagem: Reprodução/ Arquivo pessoal

'Não quero ser a única'

"É a realização de um sonho. Não imaginava poder chegar aqui um dia [na final do concurso]. E não quero ser a única. Sou a primeira, mas quero que nos próximos anos tenham várias outras. E quero que a gente tire esse termo 'a primeira mulher trans', 'a segunda mulher trans'", defende a miss, falando que há características e valores que podem ser utilizados em vez de focar apenas no fato dela (e das próximas) serem trans.

Rayka exalta a oportunidade que está tendo através do CNB (Concurso Nacional de Beleza) do Brasil, além da acolhida e apoio por parte da sua equipe. "Estou preparada, mas quero me preparar mais ainda. Entregar cada vez mais para dar o meu melhor, chegar lá [em Porto Rico] e fazer o meu melhor, quem sabe ser a Miss Mundo", faz planos.

Dos maiores concursos de beleza do planeta, apenas uma mulher trans chegou à etapa internacional, a espanhola Angela Poncé, no Miss Universo 2018. Nos certames brasileiros, antes de Rayka, apenas Nathalie de Oliveira, finalista do Miss RJ em 2019, chegou próximo de disputar o Miss Brasil Universo, mas não conseguiu a vaga.

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Rayka Vieira é uma das 48 candidatas da final do Miss Brasil Mundo
Imagem: Reprodução/ Arquivo pessoal

Medo da rejeição

Sendo convidada pela sua agência para ir ao concurso de beleza, Rayka revela que tinha medo de se inscrever em um concurso que comumente aceitava apenas de mulheres cis, mesmo que o regulamento permitisse sua inscrição. "Eu tinha medo da rejeição das pessoas, dos próprios profissionais que poderiam pensar 'ah, está se achando a linda e quer entrar aqui para se aparecer'", revela a influenciadora.

"Minha maior dificuldade foi eu comigo mesma. Confiar em mim mesma. Uma luta contra mim, contra os 'haters' nas redes sociais. Tentei não ver [meus perfis] durante o concurso para não me abalar, mas, ao mesmo tempo, muitas pessoas me deram muito apoio, isso me conforta". Ao ser anunciada Miss Centro-goiano, ela teve que lidar com diversos comentários transfóbicos.

Apesar disso, após meses de preparação, Rayka afirma não ser mais a mesma pessoa desde então. "Eu era anônima e foi um caos. Mas hoje estou mais segura, consigo me expressar. Antes, eu não tinha coragem de falar com as pessoas, tinha medo do que elas iam pensar da minha voz".

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Foto oficial de rosto de Rayka para a 61ª edição do Miss Brasil Mundo
Imagem: Reprodução/ Raffael Cesar Rodrigues/ CNB

A final do concurso

Com confinamento iniciado na última segunda-feira (16), a 61ª edição do Miss Brasil Mundo foi adiada três vezes por conta da pandemia, até ser confirmada na capital federal, Brasília. O concurso assegura que os protocolos de biossegurança e uso de máscara estão sendo seguidos.

As 48 candidatas que buscam a coroa já passaram por diversas provas como a de talento, a do traje típico, a de ações sociais nomeada "Beleza Pelo Bem". Quem passará a coroa para a vencedora será a atual Miss Brasil Mundo, Elís Miele.

A transmissão do concurso começa às 18h30 pela TV CNB no YouTube e pela página do Facebook do site especializado Global Beauties. A miss coroada hoje disputará o Miss Mundo em Porto Rico, em dezembro.

Rayka revela sua expectativa de vida após o certame: "Espero que o Miss Brasil Mundo possa me abrir muitas portas e oportunidades; que tudo o que passei não se apague aqui; que outros profissionais acreditem e mim, me dê oportunidade, e dê oportunidade para outras mulheres transexuais que não querem viver, por exemplo, em situação de rua e na prostituição. Falta oportunidade, acreditem [em nós] e nos ajude".