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Atriz que sofreu transfobia fez 'Mulher-Maravilha' e será a Morte na Globo

Marcella Maia - Reprodução/Instagram
Marcella Maia Imagem: Reprodução/Instagram

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/09/2021 04h00Atualizada em 24/09/2021 11h59

Marcella Maia mostrou ontem os hematomas na região do pescoço, ombro e seio após ser vítima de transfobia em Porto Seguro (BA). "Meu corpo não merece isso", lamentou.

A atriz de 30 anos interpretará a Morte em "Quanto Mais Vida Melhor", próxima novela das 19h da Rede Globo — ela contou, inclusive, que já teve o contrato prorrogado pela emissora.

Na trama, ela receberá os protagonistas, interpretados por Giovanna Antonelli, Mateus Solano, Valentina Herszage e Vladimir Brichta no céu. A todos será dada uma segunda chance, mas, em um ano, um deles não escapará dela e irá de fato morrer.

Este não será o primeiro de papel de Marcella, também conhecida como A Maia. A atriz, inclusive, já contracenou em Hollywood.

Mulher-Maravilha

Marcella Maia caracterizada como uma das amazonas no filme "Mulher Maravailha" no estúdio Warner Bros - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Marcella Maia caracterizada como uma das amazonas no filme "Mulher Maravailha" no estúdio Warner Bros
Imagem: Arquivo Pessoal

Vivendo em Londres como modelo, ela recebeu o convite para atuar no filme por "sua beleza singular e porte físico", como contou em entrevista à Vogue em 2017.

Para a Quem, ela relatou que sofreu um pouco de preconceito da equipe por não ser atriz. Na época, ela ainda não tinha assumido publicamente ser uma mulher trans e a participação no longa a ajudou a tomar coragem.

Eu era a única brasileira ali no elenco e ninguém sabia que eu era trans, apenas um amigo meu que cuidava dos figurinos. Certo dia me senti tão sufocada e guardar aquilo me machucava tanto que eu queria dizer ao mundo quem eu era. A partir do momento que me assumi, tudo que me atingia acabou.

Ela também atuou na série "Todxs nós", da HBO, e fez uma participação em um dos clipes da cantora Fergie.

Infância difícil e prostituição

Natural de Juiz de Fora (MG), ela contou em entrevista à Patrícia Kogut que foi abandonada pela mãe aos 4 anos. Marcella foi morar com os tios e sofreu abusos constantes entre 5 e 7 anos.

"Até que minha mãe voltou para me buscar quando eu tinha 7 anos. Depois soube que ela fugia dos abusos do meu pai, que era muito violento. Então, fomos morar em Brasília", relatou.

Aos 15 anos, ela conseguiu emprego numa agência de modelos, mas para trabalhar na produção. "Organizei muitos desfiles. Eu morava num pensionato. Foi um período muito difícil da minha vida. Com 18 anos, voltei para Juiz de Fora e passei a fazer show de drag queen".

Foi quando a modelo recebeu uma proposta para se apresentar e trabalhar como hostess em Londres. Mas acabou caindo em um esquema de prostituição.

Lá pegaram meu passaporte. Passei três meses nisso. Ficava numa vitrine que nem carne, era obrigada a me prostituir. Como não falava inglês, não conseguia nem ir à delegacia. Dói muito só de lembrar. Um dia, me acordaram com água fria na cara, 3h da manhã, e falaram: 'Seu voo está saindo para Brasília. Você vai entrar no avião e não vai falar nada. Porque, se ficar com ficha na polícia, não vai entrar aqui por cinco anos'. Voltei só com a roupa do corpo.

Transição e carreira de modelo

De volta ao Brasil, conheceu o suíço Mark, com quem se casou e considera "o amor de sua vida", mesmo não estando mais com ele.

Ficamos juntos por uns dois anos. Mas, quando decidi operar, ele não ficou do meu lado. Até hoje fica essa lacuna para mim: 'Por que ele não me apoiou se a gente se amava?'.

Marcella, então com 21 anos, viajou para Tailândia, onde realizou a cirurgia de redesignação sexual.

"Depois disso, mudei meus documentos e minha carreira de modelo começou a acontecer, recebi uma proposta de modelar fora do país e passei uma temporada em Istambul, Turquia e depois Milão. Lá fora eu não falava que era trans, não queria ser julgada", admitiu para a Quem.

Ela estreou editoriais das revistas "Vogue Itália", "Harper´s Bazaar", "Elegant Magazine", "Posh Magazine", além de trabalhos para as marcas Versace, Philipp Plein, Missoni e Kolchagov Barba.

Decidiu voltar ao Brasil ano passado após receber o convite da TV Globo — e já teve o contrato prorrogado.